O jornal Zero Hora, de Porto Alegre, publicou reportagem na terça-feira, dia 7, sobre a volta de sequestros de gerentes no Rio Grande do Sul. A notícia destaca os ataques sofridos por bancários do Banco do Brasil e do Santander na segunda-feira, dia 6, em Arroio dos Ratos e em Torres, bem como resgata as ocorrências no início dos anos 2000.
O diretor do Sindicato dos Bancários de Porto Alegre e secretário de imprensa da Contraf-CUT, Ademir Wiederkehr, cobra mais investimentos dos bancos no combate ao sequestro de gerentes. “Entre as medidas estão a proibição de levar as chaves do banco para casa e a contratação de empresas especializadas em segurança para abertura e fechamento das agências e postos”, defende o dirigente sindical. “Recursos financeiros não faltam aos bancos para proteger a vida de trabalhadores e clientes”, ressalta.
Leia a íntegra da reportagem de Zero Hora:
Sequestro de gerentes volta à tona
Em Arroio dos Ratos e Torres, servidores são forçados a abrir cofres de agências e revivem pesadelo do início dos anos 2000
Depois de uma década de relativa paz, sequestros de famílias para facilitar assaltos em instituições financeiras voltam a assustar o Estado. O caso mais recente aconteceu ontem em Arroio dos Ratos, na Região Carbonífera, quando o gerente do Banco do Brasil e a mulher dele permaneceram reféns por cerca de 12 horas. Pela manhã, em Torres, no Litoral Norte, outro gerente do Banco Santander foi atacado quando chegava para o trabalho e obrigado a abrir o cofre para quatro bandidos.
A polícia descarta ligação entre os dois casos, mas investiga relação entre o crime de Arroio dos Ratos com um terceiro caso, ocorrido em 5 de maio, em Esteio. Na ocasião, bandidos foram à casa de um chefe de equipe da empresa de transporte de valores Prosegur, mantendo o vigilante, a mulher dele e o filho do casal como reféns.
No dia seguinte, o chefe de equipe teve de ir à empresa, em Porto Alegre, e sair de lá com um carro-forte carregado com R$ 2 milhões e entregar aos bandidos – um dos criminosos foi preso semana passada.
Na tentativa de frear a nova onda de crimes, a Delegacia de Repressão a Roubos do Departamento Estadual de Investigações Criminais anunciou ontem a criação de uma equipe especial para investigar os casos e eventual ligação entre eles.
– Estão retomando uma modalidade que estava em extinção. É muito preocupante, pois envolve famílias em perigo – lamenta o delegado Juliano Ferreira.
O delegado marcou encontro com representantes de bancos para discutir estratégias de prevenção, visando a aumentar a segurança dos bancários.
O sequestro de gerentes, tesoureiros e familiares atingiu o ápice no Estado no início da década passada. Em 2000, foram 10 sequestros de bancários e parentes. Os casos foram minguando à medida que cerca de 150 assaltantes foram presos e uma série de iniciativas foi adotada como, por exemplo, abertura de cofres com horários programados e chaves de agências em poder de empresas de vigilância especializada. Mas nem todas as instituições contam com este tipo de precaução em todas as suas agências.
– Isso mostra que os bancos precisam investir mais em segurança – critica Ademir Wiederkehr, diretor do Sindicato dos Bancários de Porto Alegre e Região.
O presidente da Comissão de Segurança Bancária da Associação de Bancos do Estado, Jaci Meyer, lembra que, “na grande maioria dos bancos, os gerentes não ficam com a chave do cofre e nem o gerente tem acesso a áreas reservadas das agências”.
– São medidas que vêm contribuindo para minimizar os riscos, mas sequestros podem acontecer – observa Meyer.
A investigação policial deverá dedicar atenção especial para a Região Carbonífera. Nos últimos três anos, aconteceram pelo menos outros dois casos de assaltos com sequestros.
Em abril do ano passado, também em Arroio dos Ratos, o dinheiro para pagamento de funcionários públicos foi levado do Banrisul após o sequestro do gerente e de um vigilante do banco. Em março de 2008, em Butiá, um gerente da Caixa Econômica sacou R$ 130 mil para os bandidos enquanto a família era feita refém.
SEQUESTRO DE GERENTES
Desde os anos 2000, criminosos utilizaram diferentes técnicas de assalto a banco no Estado. Confira como se davam os ataques e como foram combatidos.
– Como era: em 2000 e 2001, ocorreram respectivamente 215 e 211 assaltos a agências e postos bancários no RS, quase dois assaltos a cada três dias. Boa parte das ações em municípios do Interior cumpria um roteiro: a quadrilha sequestrava o gerente em sua casa, à noite. Na madrugada, o grupo se dividia: um obrigava o gerente a abrir o cofre do banco enquanto outro mantinha a família da vítima sob ameaça. Quando o roubo se concretizava, bancário e familiares eram libertados em locais ermos e diferentes.
– O combate: além da ação da polícia contra quadrilhas especializadas, as agências passaram a ser equipadas com cofres abertos somente à distância, por empresas terceirizadas e somente em determinados horários.
CIDADES ATERRORIZADAS
– Como era: entre 2006 e 2008, a mesma quadrilha atacou oito municípios com uma tática ousada. Se aproveitando do policiamento escasso de pequenos municípios, condizente à rotina pacífica, a quadrilha fortemente armada sitiava uma cidade inteira. Em 8 de novembro de 2008, o bando chegou a assaltar dois bancos simultaneamente em Farroupilha, levando R$ 1,2 milhão.
– O combate: indícios, como a forma de segurar as armas e o planejamento geográfico das ações, levaram a polícia a concluir que o bando tinha ex-policiais militares ou soldados como integrantes. Identificada, a quadrilha foi neutralizada no início de 2009.
EXPLOSÃO DE AGÊNCIAS
– Como era: em 2010, foram 11 ataques no Estado em que agências e caixas eletrônicos são violados com a chamada emulsão explosiva. De alto poder destrutivo, ela é adquirida no mercado negro, após ser desviada ou roubada de locais como pedreiras. Recente reportagem da RBSTV mostrou que o artefato é vendido ao ar livre no Paraguai. Em Nova Roma do Sul, na Serra, uma mesma agência foi explodida duas vezes, a última delas em 3 de junho.
– O combate: apertado o cerco contra quadrilhas, os ataques minguaram do Rio Grande o Sul em 2011 e aumentaram no resto do Brasil. Em São Paulo, são mais de 50 ataques a caixas e agências em 2011, mais de 60% deles explodidos. A nova tentativa para solucionar o problema é um mecanismo que pinta as notas do caixa quando o equipamento é violado.