Bancos reduzem empréstimos externos em mais de US$ 5 trilhões

Valor Econômico
Assis Moreira, de Genebra

Os bancos contraíram em mais de US$ 5 trilhões seus empréstimos internacionais desde o começo de 2008, segundo Jaime Caruana, o diretor-geral do Banco Internacional de Compensações (BIS), espécie de banco dos bancos centrais. O declínio globalmente é de 15% em relação ao pico de US$ 36 trilhões, ilustrando a que ponto a pior crise financeira e econômica dos últimos tempos fez as instituições se retraírem.

A enorme redução dos créditos transfronteiras já era conhecida. O surpreendente agora é que a declaração de Caruana indica que a contração tem sido ainda maior do que se previa. Em março, o BIS já tinha mostrado que os bancos internacionais passaram a direcionar para o setor público boa parte de seus empréstimos externos desde o começo de 2009. Seus créditos para governos aumentaram US$ 806 bilhões somente entre janeiro e setembro, numa alta de 20%, curiosamente quando boa parte recebia socorro dos governos para não quebrar.

Ao mesmo tempo em que tinham acesso a dinheiro do banco central com taxas próximas de zero, bancos emprestaram com taxas maiores para os governos, obtendo um bom lucro, mas fechavam as torneiras para o setor privado.

Dados recentes de bancos centrais mostram que os empréstimos começaram a ser retomados, mas muito lentamente, inclusive para os negócios domésticos. Os financiamentos bancários continuam fracos especialmente nos Estados Unidos. A expectativa, em todo caso, é de que a demanda vá aumentar com mais atividades no comércio varejista, por exemplo.

Apesar da contração dos bancos na área internacional, ao participar de seminário, em Frankfurt, o diretor-geral do BIS sugeriu prudência a quem prevê que a crise financeira vai levar a um retrocesso na globalização do sistema financeiro. Ele reconhece que transações internacionais e mercados dinâmicos são mais complexos, e o risco para o sistema se torna mais difícil de ser administrado. Mas insiste que a resposta ” ao crescente risco do sistema financeiro globalizado não deve ser uma recuada para a finança nacional ” .

Ele considera que a incerteza sobre o tamanho das perdas dos bancos foi uma das causas da crise, mas que foi a interrupção de recursos no mercado que transformou a crise de ” subprime ” em crise financeira global. ” Independentemente dos métodos usados para administrar os riscos sistêmicos, um primeiro passo deve assim ser o monitoramento desses fundos ” .

Caruana propõe um enquadramento global para a estabilidade financeira. A reforma da regulação financeira, em discussão, é apenas um dos elementos. E defende ” instrumentos adequados ” para monitorar riscos na área financeira globalmente.

O diretor do BIS insiste na importância de um consenso sobre como políticas macroeconômicas serão usadas para mitigação de desequilíbrios financeiros, incluindo boom de crédito e bolha de ativos.

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