Quadrilha que roubava no Rio e São Paulo é presa ao atacar Citi em Porto Alegre

Momentos de pavor e susto marcaram Porto Alegre no final da manhã de segunda-feira, dia 18. Após atacarem uma agência do Citibank na Avenida Carlos Gomes, criminosos se dividiram em dois veículos na fuga, trocaram tiros com a polícia em bairros nobres, atropelaram um pedestre, roubaram uma moto e dois carros e cruzaram a cidade em meio a perseguições e tiroteios.

Ao final, quatro dos seis envolvidos no roubo acabaram presos – um deles, no provador feminino de uma loja do Centro. Todos eram paulistas e vieram de carro à capital gaúcha para praticar o crime.

O assalto que sacudiu Porto Alegre começou a ser desenhado na noite de domingo, quando cinco homens hospedaram-se no quarto 211 de um hotel da Rua Demétrio Ribeiro.

Na segunda-feira, após o café da manhã, o grupo embarcou num Palio, placas de Taboão da Serra (SP), e num Uno, emplacado em Natal (RN). Destino: a agência do Citibank, na Carlos Gomes. Caixas roubados, R$ 65.207, US$ 5.701, 4.795 euros e cheques de viagem nas mochilas, armas na mão, tudo certo, não fosse um detalhe: o grupo não conhecia a cidade.

Quando saíam da agência, por volta das 11h20min, depararam com três veículos da Brigada Militar, que havia sido informada do assalto. Utilizaram a rota mais movimentada para fuga: o Uno, com três bandidos, desceu a Nilo Peçanha, em direção à rótula da Praça da Encol, e o Palio, também com três assaltantes, ingressou na João Obino, bairro Petrópolis. Em alta velocidade, o Palio atropelou Giovani Eliberto Sartori, que cruzava a via numa faixa de segurança.

– Acho que ele voou uns três, quatro metros para cima e caiu. Foi um estouro. Acho que o cara teve fratura exposta no tornozelo – conta Marcio Pedro, 28 anos, funcionário de um restaurante.

Na noite de segunda-feira, Sartori permanecia internado em estado regular no Hospital de Pronto Socorro (HPS). O impacto destruiu o para-brisa, impedindo a continuação da fuga.

– Assim que a gente chegou, eles começaram a atirar. Prendemos dois – detalha um dos soldados envolvidos na operação.

Um terceiro, armado com uma pistola, rendeu funcionários de um escritório de contabilidade e, instantes depois, começaria uma nova fuga.

Alessandro Machado de Freitas, 32 anos, descia para o almoço no escritório de contabilidade quando percebeu um homem no pátio. Com os braços ensanguentados e ofegante, o homem o surpreendeu ao sacar uma pistola.

– Disse que precisava de um carro. Eu dei a chave do meu Idea, mas ele exigiu que eu fosse junto – conta Freitas.

Ao volante, o homem, que vestiu a camisa de Freitas, ordenava com sotaque paulistano:

– Me leva para a Borges de Medeiros (próxima ao hotel onde estava hospedado).

Troca de tiros provocou pânico na rótula da Encol

Enquanto isso, em outra frente, a BM perseguia o Uno com os outros três bandidos pela Nilo Peçanha. Nas proximidades da rótula da Encol, bandidos e a polícia protagonizaram uma intensa troca de tiros.

Pedestres e funcionários de um posto de combustíveis, do outro lado da rua, jogaram-se no chão. Baleado, um dos assaltantes se rendeu. Os outros dois, porém, dariam início a uma segunda jornada de fuga.

Na Nilo Peçanha, a dupla de fugitivos renderia um motoqueiro e, quadras adiante, atacaria o motorista de um Corsa.

– Os caras cortaram a minha frente, apontaram uma pistola e me obrigaram a sair do carro. Eu vi uma árvore e me atirei para me proteger – relata o instalador de cortinas Rodrigo de Almeida, 30 anos, proprietário do Corsa.

Segundo ato da escapada

Com três dos seis assaltantes presos, a Brigada iniciava uma segunda etapa da perseguição: os alvos agora eram um Corsa e um Idea. Ambos utilizariam a Protásio Alves para fugir. Os criminosos do Corsa abandonaram o veículo nas imediações da Dona Leonor e desapareceram.

Na frente do Hospital de Clínicas, policiais, sem saber que o dono do Idea era obrigado a servir de guia de bandido, atiraram contra o carro.

– Sorte é que não acertaram – conta Alessandro de Freitas, dono do carro.

Preso ao engarrafamento, o homem deixou o Idea na Sarmento Leite. Sem camisa, Freitas foi confundido.

– Os brigadianos me algemaram e me levaram preso ao me acharem dentro do carro. A confusão foi desfeita no Deic – detalha.

O criminoso optou por um chofer profissional: ingressou num táxi. A bordo do veículo conduzido por Deivison Maciel, gritou:

– Me leva para a Borges de Medeiros!

O homem não sabia que o soldado Antonio Jorge Rodrigues, do setor de inteligência do 9º BPM, o seguia à distância, numa moto discreta. Ao deixar o táxi, na Alberto Bins, Rodrigues o interceptou:

– Caiu a casa, polícia!

O criminoso misturou-se à multidão na Rua dos Andradas, mas acabou detido no provador feminino de uma loja. Era o epílogo de uma operação da BM que resultou em quatro presos e no dinheiro recuperado.

– Estamos com uma maior mobilidade, com cerca de 90 viaturas, em média, circulando e um reforço de mil novos PMs em treinamento – destacou o subcomandante-geral, Jones Calixtrato Barreto dos Santos.

Citibank era o alvo preferido

O grupo preso em Porto Alegre ontem seria especializado em atacar agências do Citibank pelo país afora.

Conforme o titular da Delegacia de Roubos, delegado Juliano Ferreira, eles são suspeitos de seis assaltos a agências do banco em São Paulo, uma no Rio e outra em Curitiba.

– Eles são foragidos da Justiça de São Paulo pela suspeita destes assaltos – detalha o delegado, que até ontem desconhecia o motivo pelo qual o grupo se especializou em ataques a um determinado banco.

Para Ferreira, é provável que, além dos paulistas, gaúchos façam parte da organização.

– É difícil fazer um assalto aqui sem nenhuma ponte no Estado – observa o delegado especializado em combater quadrilhas organizadas.

A polícia suspeita de que o grupo seja integrante do Primeiro Comando da Capital (PCC), facção criminosa que comanda as prisões paulistas.

Grupo usava pistolas e uma réplica de plástico

Além de pelo menos três dos quatro presos serem paulistas, um deles, identificado como Manoel Alberto Ribeiro Teixeira, 29 anos, é irmão de um integrante do PCC.

Os outros presos foram identificados como Douglas Alberto Moraes, 28 anos, e Oldismar dos Santos Ferreira, 28 anos.

Até o final da tarde, o quarto preso não havia sido identificado. Dois homens, que também participaram do assalto, permanecem foragidos. Com o grupo, a polícia apreendeu duas pistolas (uma .380 e uma .40), uma pistola de plástico, dois revólveres e uma granada de efeito moral.

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