Bancos de montadoras devem ganhar mais espaço em crédito para veículos

DCI
Pedro Garcia

A desaceleração do financiamento de automóveis nos bancos de varejo e a redução dos subsídios do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para veículos pesados deve pressionar o crédito nos bancos de montadoras em 2015.

O DCI mostrou, no início do mês, que os grandes bancos varejistas vêm se desinteressando pela modalidade de empréstimo, por conta dos altos riscos de inadimplência e dos custos da tomada da garantia (carro) em casos de atrasos em pagamentos.

A linha de crédito apresentou queda nas três principais instituições privadas do País e os presidentes desses bancos sinalizaram para novas reduções neste ano. Dados do Banco Central apontam baixa de 4,4% no estoque de crédito direto ao consumidor (CDC) e de 59,9% no leasing entre 2013 e 2014.

“Quando o varejo é reprimido por conta do momento macroeconômico, em que há uma aversão a riscos por parte de bancos comerciais, é natural que os bancos das montadoras ocupem um espaço maior [no mercado de crédito a veículos]”, afirmou Jucivaldo Feitosa, diretor comercial do Banco CNH Industrial, braço financeiro da marca Iveco.

Juntos, os cinco maiores bancos de montadoras – Volkswagen, GMAC (General Motors), Mercedes-Benz, CNH Industrial (Iveco) e Toyota – possuíam R$ 61,9 bilhões em ativos até setembro de 2014, segundo dados do Banco Central. Naquele mês, os bancos dessas fabricantes de automóveis registraram R$ 263,8 milhões de lucro líquido.

Para Feitosa, os bancos comerciais irão focar suas carteiras de veículos nos “melhores clientes” e caberá aos braços financeiros das montadoras atuarem juntos aos consumidores de maiores riscos, como um “agente anticíclico”.

“Os bancos de montadoras entram com uma capacidade de leitura mais aguçada, trabalhando com dados, procurando ler nas entrelinhas”, disse.

De acordo com Reginaldo Gonçalves, coordenador do curso de Ciências Contábeis da Faculdade Santa Marcelina, taxas mais acessíveis de financiamento poderiam ser uma atrair o consumidor.
“As montadoras estão com problemas de colocar veículos no mercado interno. O aumento do preço do combustível e o medo do desemprego afastou o cliente”, observou.

Segundo Silvio Paixão, professor de Finanças da Fipecafi, entretanto, embora a razão de ser dosbancos das fabricantes de seja promover o aumento das vendas de sua marca, os executivos que operam esses bancos são mercado financeiro, que pode gerar seletividade nos empréstimos. “Eles possuem análise de risco de crédito no DNA”, avaliou.

Crédito direcionado

A partir do início deste ano, a taxa de juros do financiamento de veículos pesados dentro do Programa de Sustentação do Investimento (PSI), operacionalizado pelo BNDES, passou de 6% para 9,5% ao ano, no caso de pequenas empresas, e para 10% para grandes firmas.
Além disso, o BNDES deixou de financiar 100% do bem: nas pequenas, a fatia passou para 70% do volume total e nas grandes para 50%.

A saída encontrada pelo Banco CNH nesses casos foi apresentar juros mais vantajosos para a parcela que não contará mais com subsídios oferecidos pelo BNDES.

“Criamos condições de complementar essa fatia não coberta pelo BNDES com taxas mais atraentes”, disse Feitosa. “Nesse setor, os bancos comerciais não tem condições de crescer mais que os bancos de montadoras”, completou.

Segundo Feitosa, entretanto, esse caminho é custoso e cabe a cada montadora fazer uma análise pontual para saber se há capacidade de suportar essa estratégia.

Paixão, da Fipecafi, apontou que, do lado das empresas, a demanda por crédito de veículos deve diminuir em 2015. “Diante do momento econômico, as companhias vão racionalizar em logística. Vão procurar otimizar suas frotas ou, até mesmo, terceirizar o serviço”, avaliou.

Compartilhe:

Compartilhar no facebook
Facebook
Compartilhar no twitter
Twitter
Compartilhar no whatsapp
WhatsApp
Compartilhar no telegram
Telegram