As empresas financeiras estão se tornando uma parte menor da economia dos Estados Unidos, ao administrar um passado impossível de eliminar e um futuro de queda da receita e do número de postos de trabalho.
As taxas de juros persistentemente baixas e a estagnação do crescimento dos empréstimos estão diminuindo os rendimentos com juros no mesmo momento em que novas regulamentações estão restringindo as tarifas que os bancos cobram de seus clientes de varejo.
A receita líquida dos seis maiores bancos dos EUA – Bank of America, J.P. Morgan Chase, Citigroup, Wells Fargo, Goldman Sachs e Morgan Stanley – deverá cair 3,7% no segundo trimestre, sua quarta retração ano a ano em cinco trimestres, segundo cem estimativas de analistas reunidas pela “Bloomberg”.
As regulamentações que exigem que os bancos detenham mais capital como proteção contra prejuízos muito provavelmente comprometerão sua lucratividade. “Não é preciso ser um cientista para imaginar que uma regulamentação mais rígida e normas de capitalização mais opressivas, sem crescimento da economia, vão encolher o setor”, diz John Garvey, diretor de prática de assessoria ao setor financeiro da PricewaterhouseCoopers.
As empresas financeiras responderam por 29,3% dos lucros corporativos americanos no período de 12 meses encerrado a 31 de março, parcela bem distante da alta recorde de 41,7% apurada no período de 12 meses encerrado a 30 de setembro de 2002.
Os investidores não estão gostando nem um pouco do que veem. As ações de empresas financeiras ficaram atrás do mercado como um todo por nove dos últimos onze meses.
O coeficiente dos preços do índice das empresas financeiras do Standard & Poors 500 em relação ao índice S&P 500 de todas as ações é inferior a 0,16, muito inferior aos 0,36 calculados em março de 2004.
O único outro período dos últimos 20 anos em que o coeficiente caiu para menos de 0,16 foi o de janeiro a abril de 2009, quando alguns bancos foram nacionalizados depois de tomar empréstimos de bilhões em fundos de salvamento financeiro para sobreviver à crise do crédito.
O Bank of America, a maior instituição de crédito dos EUA por ativos, viu suas ações alcançarem seu recorde de baixa de dois anos a 6 de junho.
Analistas como Meredith Whitney e Glenn Schorr, este último da Nomura Holdings, preveem que a desaceleração do crescimento resultará em cortes de postos de trabalho em Wall Street nos próximos meses.
Os bancos se defrontam com pelo menos 15 grandes “espadas de Dâmocles” a seu desempenho nos próximos anos, escreveram analistas da FBR Capital Markets em nota encaminhada aos investidores em 3 de junho.
Entre os fatores citados estão novas limitações às transações proprietárias e à cobrança de tarifas sobre furtos de cartões de débito, investigações estaduais e federais das práticas de concessão de crédito imobiliário e exigências mais rígidas de capitalização e de liquidez.
As novas normas fixadas pelo Comitê de Supervisão Bancária da Basileia, que começarão a entrar em vigor em 2013, deverão reduzir o retorno sobre o patrimônio dos bancos americanos em 3 pontos percentuais, segundo estimativas de consultores da McKinsey.
“Essas são nuvens bem carregadas, sem dúvida nenhuma”, disse o principal executivo do J.P. Morgan, Jamie Dimon, em palestra a investidores em Nova York a 2 de junho.
Num seminário do banco em Atlanta, a 7 de junho, Dimon perguntou ao presidente do Federal Reserve (Fed, o BC dos Estados Unidos), Ben S. Bernanke, se as novas regulamentações bancárias não foram longe demais.
Bernanke respondeu que talvez seja necessário algum tempo para que os reguladores “possam perceber em que ponto o custo ultrapassa os benefícios”.
Num esforço de aumentar a receita, os bancos estão deslocando seu foco novamente para negócios básicos, como operações bancárias de varejo, serviços de corretagem e administração de ativos. Eles estão requentando práticas empregadas no passado, como a venda cruzada – convencer os atuais clientes a comprar outros produtos.
O Morgan Stanley contratou mais de 170 profissionais de “private banking” (administração de recursos para clientes especiais) para conceder empréstimos e oferecer produtos vinculados a depósitos para seus clientes de corretagem de varejo.
O Bank of America está tentando abocanhar negócios bancários dos dois terços dos seus clientes da Merrill Lynch que têm contas bancárias em outras instituições.
O Wells Fargo está montando sua corretagem de varejo de maneira que ela possa conquistar negócios junto a 5,2 milhões de clientes, que detêm de US$ 1,7 trilhão em ativos de investimento em outras empresas. Garvey, da PricewaterhouseCoopers diz: “Neste exato momento nos Estados Unidos, trata-se muito mais de cortar o bolo de uma maneira diferente do que de fazer o bolo crescer”.
Os maiores bancos do país estão tentando crescer no exterior, principalmente nos mercados emergentes. O principal executivo do Citigroup, Vikram Pandit, disse em simpósio a 9 de março que o banco realiza atualmente mais de metade de seus lucros nos mercados emergentes.
“Temos uma marca única que, acreditamos, vai nos permitir capitalizar as tendências do crescimento mundial e gerar valor para os nossos clientes e acionistas ao longo do tempo”, diz Shannon Bell, porta-voz do Citigroup.
Seus colegas dos outros cinco bancos preferiram não comentar, ou não deram retorno às ligações com que se tentou buscar suas avaliações.
O principal executivo do Bank of America, Brian Moynihan, disse em fevereiro que seu banco tentará gerar aumentos de receita superiores ao crescimento da economia dos EUA em 1 ponto percentual, puxado por suas subsidiárias internacionais.
O Gary Cohn, principal executivo do Goldman Sachs, disse este mês que os esforços de contratação da empresa estão concentrados em China, Índia e Brasil.