Medo e insegurança assustam correspondentes bancários no Ceará

Empresários que mantêm máquinas bancárias de saques em suas lojas e serviços de caixa rápido trabalham diariamente assustados em decorrência da onda de assaltos contra lojistas nos centros urbanos e na zona rural do Ceará. O assunto é tema de reportagem nesta quinta-feira (13) do Diário do Nordeste.

Os roubos são registrados quase que diariamente. Essas unidades não dispõem de vigilantes particulares e dependem apenas de rondas periódicas de viaturas da Polícia Militar.

Nas agências bancárias, há vigilantes armados de empresas de segurança privada. Nas proximidades dos bancos, geralmente, localizados no centro comercial das cidades do Interior, viaturas do policiamento ostensivo permanecem com maior frequência, como forma de apoio ou em sistema de parada temporária.

Preocupada e temendo possibilidade de assalto, uma empresa de supermercado, localizado na Avenida Perimetral, nesta cidade, decidiu desativar a máquina bancária que permitia serviços de saque, depósito e pagamento de boletos.

“O banco não paga nem a conta de luz, não nos dá segurança”, disse a empresária que pediu para não ser identificada. “A gente vê todos os dias às notícias de assaltos, explosões e vive assustado, temendo acontecer o mesmo a qualquer hora”.

No ano passado, um empresário também adotou a mesma decisão e pediu a retirada de duas máquinas bancárias em seu estabelecimento. Somente na semana passada, duas unidades de “Chegue e Pague” foram assaltadas nesta cidade.

Se há insegurança nas áreas urbanas, nos distritos o problema é mais grave. Moradores e comerciantes de vilas, distritos e de comunidades isoladas agora vivem assustados e são vítimas da onda de violência. O crescimento populacional e a expansão do comércio não foram acompanhados por investimentos em segurança pública, que ficaram restritos e com sérias deficiências nas cidades.

Um exemplo ocorre na Vila São Pedro, zona rural do município de Jucás, localizado na região Centro-Sul, com mais de quatro mil habitantes. Falta policiamento. Lá funciona em um estabelecimento comercial um serviço de correspondente bancário que faz abertura de contas, empréstimos, pagamento de cartão de crédito, de boletos e duplicatas, de parcelas do Seguro Desemprego, aposentadorias e pensões, transferência e depósitos.

Uma unidade do Banco Popular do Brasil funcionou no período de 2007 a 2010, na Vila São Pedro. “Resolvemos fechar com medo da insegurança”, contou o lojista, Francisco Valdeci de Souza. “Ficamos com medo”.

O proprietário do Mercantil Leandro, no distrito de José de Alencar, zona rural de Iguatu, José Leandro dos Santos, disse que a unidade do Caixa Fácil funciona há sete anos e, embora não tenha sido vítima de assalto, trabalha diariamente preocupado. “Com certeza, a nossa preocupação é grande”, disse. “A gente vive com o coração na mão”. Leandro lamentou a falta de policiamento permanente no distrito. “A segurança pública entrou em colapso e a gente só mantém o serviço pensando no benefício da população e no crescimento da vila”, admite.

Rondas

O tenente do 10º Batalhão de Polícia Militar em Iguatu, Francisco Sérgio Souza Pompeu, reconheceu o risco de assalto e disse que a Polícia Militar realiza rondas ostensivas diárias, com mais frequência nos locais onde há maior risco de ação dos assaltantes.

“Estamos empenhados em combater essa onda de assaltos, mas não podemos estar presentes em todos os locais ao mesmo tempo”, disse. “O ideal seria que houvesse vigilância privada e câmeras de monitoramento nas lojas e nas ruas”. Os casos de assaltos registrados nos últimos meses em casas lotéricas e agências dos Correios em cidades da região têm deixado a população assustada.

O último assalto registrado em uma agência dos Correios aconteceu a pelo menos 10 metros de uma delegacia, na cidade de Jardim. O assaltante saiu a pé, com o dinheiro retirado do caixa. Em janeiro, mais um assalto foi registrado nos Correios da cidade de Farias Brito, com cinco reféns, incluindo dois funcionários e três clientes que estavam no local.

No Cariri, cidades como Missão Velha, Caririaçu e Santana do Cariri, já foram consideradas pacatas. Porém hoje convivem com o clima de violência e os constantes assaltos, principalmente nesses locais.

Segundo o comandante da 1ª Companhia do 2º Batalhão da Polícia Militar, Coronel Waldenor Agra, responsável pelo policiamento das cidades de Juazeiro do Norte, Aurora e Caririaçu, o grande problema em relação aos assaltos aos postos e agências tem sido a propaganda de que há dinheiro e os alvos se tornam fáceis.

Para o comandante, os assaltantes não veem vantagens em levar um celular. Eles querem buscar maior quantidade de dinheiro e muitos são presos e passam pouco tempo na prisão.

Em Farias Brito, a quadrilha chegou a ser presa. Na maioria dos casos, os assaltantes chegam em duplas, com motocicletas e capacetes para dificultar a identificação.

Os funcionários das agências temem falar sobre os assaltos. Muitos deles trabalham assustados, com o clima de insegurança. O gerente da agência de Farias Brito, Irlândio Fernandes, disse que, mesmo estando de férias no período em que houve o assalto, em janeiro, o clima de medo ainda é permanente entre as pessoas.

Em Caririaçu, a agência foi assaltada em 2011. Uma funcionária chegou a ser trancada em uma sala. A empregada, que não quis se identificar, disse que o medo é constante para poder trabalhar. Em Santana do Cariri, além dos assaltos a residências, agência dos Correios e comércio, em poucos dias foram registrados dois assassinatos bárbaros. O grande problema para essa realidade é a falta de infraestrutura na área de segurança para atender os casos.

Medo predomina entre moradores

Apreensão. Essa é a sensação de quem precisa efetuar o pagamento de alguma conta nas farmácias, supermercados, mercadinhos e bancos postais das pequenas cidades do Sertão Central. Banabuiú, Choró, Ibaretama, Ibicuitinga, Senador Pompeu, Solonópole, Milhã, todas elas já sofreram ataques de assaltantes. No caso dos pequenos estabelecimentos, os criminosos costumam agir em dupla, utilizam motocicletas e chegam inesperadamente, com armas de fogo nas mãos.

Em algumas localidades do Interior, caixas eletrônicos foram desativados diante do aumento dos assaltos. A população fica prejudicada e sem opção para dispor dos serviços bancários fora das sedes municipais

Nenhum comerciante ou cliente quer se expor, mas não escondem a preocupação com o problema. Os bandidos costumam agir com violência e a qualquer momento disparam contra qualquer um.

“O meu comércio já foi assaltado três vezes. Além do prejuízo financeiro, a gente fica também com o prejuízo emocional. Assim que a viatura da Polícia sai, os bandidos chegam”, desabafa o funcionário de um mercadinho, pedindo para não ter seu nome revelado.

Segundo o comandante do 9º Batalhão Policial Militar, com sede em Quixadá, coronel Francisco Paiva, os policiais lotados nos destacamentos são orientados a efetuarem a cobertura da área comercial dessas cidades durante todo o período de funcionamento. A meta é prevenir, evitar os assaltos. Atualmente, cada uma dessas áreas urbanas conta com pelo menos dez policiais. Eles realizam a atividade em revezamento. Pelo menos cinco estão sempre de plantão, policiando cada cidade.

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