O lucro de R$ 5,1 bilhões alcançado pelo Banco do Brasil no primeiro semestre de 2010 traz preocupações para os funcionários da empresa. O motivo é a origem deste resultado fabuloso: o crescimento nas linhas de crédito pessoal e diminuição na importância do financiamento às atividades produtivas, na contramão do papel esperado para um banco público pelos trabalhadores.
“O BB está fugindo completamente de sua vocação de banco público, que é o financiamento ao setor produtivo e ao desenvolvimento econômico e social do país”, alerta Marcel Barros, secretário-geral da Contraf-CUT e funcionário do banco.
Os números mostram que o segmento de crédito a pessoas físicas é hoje o segundo mais importante na composição da carteira do banco, com 27,3% do total. Enquanto isso, o crédito rural, que já foi o destaque da instituição, caiu 4,4 pontos percentuais e representa hoje apenas 17% do total da carteira. O financiamento ao setor industrial manteve a mesma participação, com 29,3%, representando apenas o crescimento vegetativo.
“Esses dados explicam a alta rentabilidade do banco, uma vez que as linhas de crédito priorizadas são aquelas que apresentam os maiores spreads, tornando o BB apenas mais um no canibalismo financeiro que os bancos praticam no Brasil, explorando clientes e pouco contribuindo para a distribuição de renda e a geração de riqueza”, afirma Marcel.
Além da diminuição da importância do crédito rural no volume total da carteira de crédito do banco, Marcel ressalta que os valores que tiveram maior crescimento nesta linha foram Finame Rural e Proger Rural, ambos com recursos do governo federal. “Nestes dois produtos, o BB foi mero repassador de recursos, o que reforça a preocupação com o desvio que sistematicamente a empresa vem apresentando na destinação de suas operações”, explica.
Para o dirigente sindical, a mudança de perfil do banco representa também uma piora na vida dos funcionários da empresa. “O somatório de todos esses fatores revela o porquê das condições de trabalho péssimas e a razão de o assédio moral e a cobrança de metas abusivas serem constantes dentro do banco”, aponta Marcel.
“É preciso que o BB assuma de fato seu papel de banco público e trabalhe para a promoção do desenvolvimento da sociedade brasileira como um todo, com valorização de seus funcionários, bom atendimento, menos tarifas e juros mais baixos para os clientes e foco na concessão de crédito para o fomento da produção”, sustenta o dirigente da Contraf-CUT.