(Curitiba) A definição das prioridades dos trabalhadores bancários em cada instituição financeira, no encerramento da 9a Conferência Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro, confirmou as expectativas já alardeadas pela categoria. Enquanto os bancários lotados nos bancos particulares lutam contra metas abusivas, assédio moral e conquistas sociais, nos bancos públicos as principais demandas se referem a temas como terceirização, saúde, Plano de Cargos e Salários, condições de trabalho e isonomia. Este último item tem sido, inclusive, uma das grandes questões no Banco do Brasil.
No mês passado, o BB anunciou que pretende “dispensar” cerca de sete mil trabalhadores (aposentadoria antecipada). São, em sua maioria, bancários com mais de 10 anos de carreira (contratados antes de 1998) e 50 anos de idade que optaram pela adesão ao Plano de Aposentadoria Antecipada. A dispensa de trabalhadores experientes é encarada de maneira negativa para a instituição, uma vez que provoca o enfraquecimento de uma das mais sólidas culturas organizacionais. Há, inclusive, o receio de que a saída de tantos funcionários de carreira afete o desempenho do banco nos negócios.
Por outro lado, o Banco do Brasil deve chamar 3,3 mil bancários concursados para o atendimento nas unidades bancárias. Os novos trabalhadores são concursados de 2003, 2006 e 2007 de praticamente todo o país, cujo salário inicial é de R$ 856,50 reais mensais. Com a gratificação de 25%, eles receberão aproximadamente R$ 1.070. Esta tem sido uma das grandes polêmicas.
Para o movimento sindical, a atual administração do BB está buscando uma isonomia “de cima pra baixo”, ou seja, ao provocar a saída dos antigos trabalhadores (pré-98), o banco menospreza os direitos adquiridos ao longo dos anos, oferecendo aos novos bancários um “pacote de benefícios” extremamente inferior ao dos antigos trabalhadores. “Essa atitude do banco é um contra-senso que nós não podemos aceitar”, afirma André Castelo Branco Machado, trabalhador bancário no Banco do Brasil em Curitiba.
Na avaliação de André, existe atualmente uma forte ofensiva do capital nas instituições financeiras que vem tornando as cada vez mais precárias as condições de trabalho para a categoria. Ao mesmo tempo, o bancário defende um firme posicionamento do Governo Federal na tentativa de frear as medidas antitrabalhistas impostas pelos bancos. “O enxugamento geral que vem acontecendo no sistema financeiro, com uma onda de demissões, terceirização e o aumento da exploração do trabalho tem de ser duramente combatido pelo Governo Federal, e isso tem de começar nos bancos públicos. O exemplo tem que vir de cima”, afirmou, defendendo o enfrentamento do Governo Lula contra o que qualificou como sordidez dos banqueiros.
“Esperamos que no dia 15 de agosto o Governo Lula receba a CUT no Palácio do Planalto e compreenda a importância das nossas reivindicações. Esse debate precisa chegar ao poder público e posteriormente alcançar a sociedade”, defendeu.
Para resolver a questão da isonomia, o movimento sindical defende a criação de um Plano de Cargos e Salários, com critérios definidos para que as eventuais distorções sejam corrigidas.
Trabalhadora bancária no Banco do Brasil em Curitiba, Luciana Costa Matos entrou em 2004 no BB e afirma categoricamente: “Agora é o momento de conseguir isonomia, pois já alcançamos um feito histórico no ano passado com a mesa única de negociação. Agora precisamos nos mobilizar para reduzirmos as diferenças gritantes no que diz respeito aos trabalhadores contratados antes e depois de 1998”.
Segundo Luciana, no Banco do Brasil há ainda outras questões específicas que precisam ter o foco ampliado. Ela defende, por exemplo, a autonomia na participação dos trabalhadores dos bancos públicos no movimento sindical. “Percebo que em um momento anterior, já houve um engajamento maior dos bancários, mas hoje o dirigente sindical lotado no BB se torna uma pessoa muito visada. Ao contrário do que ocorre nos bancos privados, onde há o risco de ser perder o emprego, nos bancos públicos, também há pressão, mas o temor é de ser perder um cargo, obtido com muito esforço e dedicação. Isso precisa ser revisto”, argumentou.
Além da isonomia total entre os funcionários novos e antigos do Banco do Brasil, os trabalhadores querem o salário mínimo do Dieese (R$ 1.628) como piso na instituição, o pagamento de todas as horas-extras, o retorno do anuênio, a não terceirização do Sesmt (Serviço de Engenharia e Segurança de Medicina do Trabalho), a cobertura por parte do BB de eventuais déficits da Cassi e a criação de um grupo de trabalho sobre a saúde dos seus trabalhadores.
A luta para que o BB assuma seu papel de banco público e ajude no desenvolvimento do Brasil também faz parte da minuta específica. Os trabalhadores do BB vão brigar pela retomada do Comitê em Defesa dos Bancos públicos e a Contraf-CUT vai realizar um seminário nacional para discutir o papel do Banco do Brasil e a regulamentação do artigo 192 da Constituição Federal, que disciplina o sistema financeiro.
Fonte: Edson Junior – Fetec SP