Por Arlene Montanari*
Em 1695, neste mesmo dia 20 de novembro, morria assassinado Zumbi dos Palmares, líder do Quilombo dos Palmares, localizado na região da Serra da Barriga, hoje estado de Alagoas. Ele foi o último líder do quilombo, o maior de que se tem notícia, que na época em que foi destruído reunia por volta de trinta mil pessoas num território de tamanho próximo ao de Portugal.
Zumbi e Palmares morreram antes de seu maior inimigo, a escravidão, que continuou a roubar a vida dos homens e mulheres negros em solo brasileiro até 1888. A definição do dia de sua morte para a celebração do Dia da Consciência Negra é uma homenagem aos negros que resisitiram à violência imposta pelos portugueses e a todos que lutaram por um Brasil e um mundo de igualdade entre negros e brancos.
Hoje, 120 anos após a abolição oficial da escravidão, os negros brasilerios têm motivos para comemorar. Um governo permeável às demandas históricas do movimento negro está no poder e uma série de dados estatísticos mostram que aconteceram avanços importantes nos últimos anos.
Um estudo do IPEA a partir de dados da PNAD 2007 mostra que a razão entre a renda de brancos e negros – indicador que demonstra a desiguladade nos ganhos – caiu de 2,36 em 2001 para 2,06 em 2007, uma queda de 14%. Pode não ser muito, mas a mesma pesquisa mostra que o indicador vinha numa situação de quase estabilidade desde a década de 80.
No entanto, se a redução deve ser comemorada, outros dados deixam claro que ela está longe de ser suficiente para resolver a questão da desigualdade racial. Na grande São Paulo, por exemplo, o trabalhador negro ganha apenas a metade do que ganha o não-negro: enquanto os negros recebem R$ 4,36 por hora, em média, os não-negros recebem R$ 7,98, segundo pesquisa realizada pela Fundação Seade. Outro dado talvez ainda mais assustador é que, com esse ritmo de redução da desigualdade, a renda de negros e brancos só se igualaria em 2029, daqui 21 anos!
Esses números deixam clara a importância que teve a luta dos movimentos sociais brasileiros, incluindo o movimento sindical, na busca da igualdade, mas também mostram que ainda há muito para se fazer. Uma das bandeiras mais gerais nesse sentido é a aprovação do Estatuto da Igualdade Racial, que está tramitando no Congresso.
A Contraf/CUT e o movimento sindical bancário continuam dando sua contribuição para esse debate. Um exemplo disso é o Mapa da Diversidade, realizado pela Febraban após intensas pressões do movimento sindical ao longo dos anos. Trata-se de uma pesquisa que pretende traçar um quadro preciso das condições de ingresso e crescimento na carreira no setor bancário, fornecendo dados importantes para a elaboração de políticas específicas que combatam as discriminações de raça, gênero, orientação sexual, idade e contra pessoas com deficiência.
Os resultados da pesquisa serão apresentados pela primeira vez durante o I Encontro Nacional sobre Igualdade de Oportunidades da Contraf/CUT, que será realizado nos próximos dias 11 e 12 de dezembro. Esperamos que o Mapa da Diversidade se torne uma referência para outros setores econômicos, criando novas políticas mais eficazes no combate a todas as desigualdades. É mais um passo na luta rumo a um país e um mundo iguais para todos.
*Arlene Montanari é secretária de Políticas Sociais da Contraf/CUT