Para o economista José Márcio Camargo, coordenador do programa econômico de Henrique Meirelles, pré-candidato do MDB à Presidência da República, o país precisa privatizar suas mais importantes estatais, como a Petrobras, a Caixa e o Banco do Brasil. A informação foi divulgada na quarta-feira (4), em reportagem da agência de notícias Reuters. O ex-ministro da Fazenda Henrique Meirelles foi presidente do BankBoston e do Banco Central.
Para Camargo, não existem motivos para deixar de privatizar as empresas e se desfazer do patrimônio público do país. “Nossa discussão tem caminhado no sentido de como, e não se, deve-se privatizar Petrobras, BB e Caixa”, afirmou. “Na hora em que privatiza os bancos públicos, simplesmente muda a forma de funcionamento do mercado de crédito", defendeu o economista.
Para a presidenta da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT), Juvandia Moreira, defender que o sistema financeiro promoverá mudanças no mercado de crédito caso os bancos públicos sejam privatizados é ingenuidade, ou maldade. “Não é possível acreditar que um economista, coordenador do programa econômico de um candidato à Presidência da República, pense realmente que os bancos privados vão reduzir taxas de juros e conceder crédito barato para a infraestrutura, para a habitação, enfim, para o desenvolvimento do país pelo simples fato de não existirem bancos públicos”, afirma. “Hoje eles já podem fazer isso, mas não fazem. Eles não têm interesse em oferecer crédito barato e para pagamento em longo prazo, como fazem a Caixa, o Banco do Brasil, o BNDES e os demais bancos públicos regionais e estaduais. Querem ganhar muito e no menor prazo possível.”
O economista reconheceu, na reportagem da Reuters, que cerca de 60% do crédito no Brasil está nas mãos de BB, Caixa e do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), que para ele precisa ter seu “tamanho” reduzido e focar sua atuação apenas na “correção de falhas do mercado”.
Juvandia discorda. “Para corrigir falhas, o BNDES precisa cumprir sua função e fazer justamente o que vinha fazendo durante os governos Lula e Dilma, mas foi forçado a deixar de fazer com Temer: fomentar o desenvolvimento econômico e social do país oferecendo crédito para que as empresas invistam no setor produtivo e em projetos de infraestrutura”, explica a presidenta da Contraf-CUT. “É esse tipo de investimento que cria empregos e melhorias nas condições de vida da população.”
Para Juvandia, o que disse o coordenador do programa do MDB já era de se esperar. “O Meirelles é oriundo do sistema financeiro privado e serve aos seus interesses. Além disso, fez parte desse governo golpista que não tem nenhum compromisso com os interesses da classe trabalhadora, nem com o desenvolvimento do Brasil. Estão se desfazendo de todo o patrimônio público para pagar o golpe financiado por parte da iniciativa privada e grupos estrangeiros que querem explorar cada vez mais os brasileiros.”
Desmonte geral
Camargo disse ainda à reportagem que, além de privatizar todas as empresas públicas, a intenção de Meirelles é “eliminar todas as vinculações orçamentárias e tornar o orçamento impositivo” para permitir a eliminação de subsídios e desonerações setoriais.
“Eles querem acabar com a obrigatoriedade de o governo aplicar recursos em saúde, educação e previdência social, por exemplo. Querem que o governo tenha liberdade para formular o orçamento como bem entender, ou como os donos do capital financeiro mandarem, como já vem acontecendo e somente será possível barrar se em outubro elegermos candidatos comprometidos com a classe trabalhadora, com o povo brasileiro”, reforça a presidenta da Contraf-CUT.
Dia de Luta
Trabalhadores de todas as categorias realizaram na quinta-feira (5), em todo o país, protestos pelo Dia Nacional de Luta em Defesa das Empresas Públicas e da Soberania Nacional com o objetivo de lutar contra a privatização do patrimônio público.
Trabalhadores da Caixa, BB, Banco do Nordeste, Embrapa, eletricitários, petroleiros, metroviários de Minas, além da Contraf-CUT, Fenae, AFBNB, Anabb, Fenag, Anea, CUT, CTB, Intersindical e UGT, realizaram atividades em todo o país para lembrar a importância das estatais.
“A liminar obtida pela Contraf-CUT e Fenae no STF, impedindo privatizações sem a autorização do Legislativo, a suspensão do leilão da Lotex e das distribuidoras da Petrobras mostram que é preciso lutar e que é possível vencer neste momento de desmonte do patrimônio público” afirmou Rita Serrano, coordenadora do Comitê Nacional em Defesa das Empresas Públicas.
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