Ataques a bancos crescem 16,36% e atingem quase 3 mil no país em 2013

Pesquisa nacional foi lançada durante coletiva de imprensa na Contraf-CUT

Os ataques a bancos aumentaram 16,36% em 2013 e alcançaram 2.944 ocorrências em todo país, uma média assustadora de 8,06 por dia. Desses casos, 859 foram assaltos (inclusive com sequestro de bancários e vigilantes), consumados ou não, o que representou uma elevação de 11,99% em relação ao ano anterior, e 2.085 foram arrombamentos de agências, postos de atendimento e caixas eletrônicos, um crescimento de 18,26%.

Em 2012 foram verificados 2.530 ocorrências. Já no primeiro semestre de 2013 foram apurados 1.484 ataques, sendo 431 assaltos e 1.053 arrombamentos.

> Clique aqui para acessar a íntegra da pesquisa nacional.

Os dados são da 6ª Pesquisa Nacional de Ataques a Bancos, elaborada pela Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT), Confederação Nacional dos Vigilantes (CNTV) e Federação dos Vigilantes do Paraná (Fetravisp), com apoio técnico do Dieese, a partir de notícias da imprensa, estatísticas disponíveis de secretarias de segurança pública dos estados e informações de sindicatos e federações de vigilantes e bancários.

O levantamento foi coordenado pelo Sindicato dos Vigilantes de Curitiba e Região, com o apoio do Sindicato dos Bancários de Curitiba e Região e da Federação dos Trabalhadores em Empresas de Crédito do Paraná (Fetec-CUT/PR). O número de casos certamente foi ainda maior devido à dificuldade de levantar informações em alguns estados e pelo fato de que muitas ocorrências não são divulgadas pela imprensa.

A pesquisa foi lançada na manhã desta sexta-feira (21), durante entrevista coletiva, em São Paulo.

Números de ataques por estados e regiões

São Paulo é o estado que mais uma vez lidera o ranking, com 768 ataques. Em segundo lugar aparece de novo Minas Gerais, com 314, em terceiro a Bahia, com 220, em quarto o Paraná, com 210, e em quinto o Rio Grande do Sul, com 196.

Os estados que tiveram maior crescimento de casos foram Piauí (235,29%), Rio Grande do Norte (203,45%) e Paraíba (141,67%). Já os estados que tiveram maior redução de ocorrências foram Amapá (-83,33%), Mato Grosso (-76,22%) e Espírito Santo (-51,43%).

A região Sudeste segue com o maior número de ataques (1.170), seguida do Nordeste (933), Sul (515), Centro-Oeste (172) e Norte (154). Já as regiões que tiveram maior crescimento de ocorrências foram Nordeste (43,54%), Sudeste (33,41%) e Norte (14,93%). Houve redução de casos no Centro-Oeste (-50,86%) e Sul (-0,77%).

A situação pode piorar porque os recentes postos de atendimento avançado do Bradesco e as novas agências de negócios do Itaú não possuem segurança. Enquanto qualquer condomínio toma medidas de segurança, esses bancos retiraram vigilantes, portas giratórias e outros equipamentos desses estabelecimentos, colocando em risco a vida de bancários e clientes.

Bancários e vigilantes cobram providências do ministro da Justiça

A CNTV e a Contraf-CUT irão encaminhar cópia da pesquisa para o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, solicitando uma audiência para discutir os ataques a bancos e as medidas para proteger a vida das pessoas. Já foi enviada a pesquisa nacional de mortes em assaltos envolvendo bancos, lançada em janeiro, apontando a ocorrência de 65 assassinatos em todo país no ano passado.

“Vamos cobrar providências do ministro para combater as mortes e os ataques a bancos, que ocorrem por negligência dos bancos, uma vez de que eles preferem fazer a gestão do lucro em detrimento da proteção da vida de trabalhadores e clientes”, afirma o presidente da Contraf-CUT, Carlos Cordeiro.

“Vamos exigir também a responsabilização civil e criminal dos executivos dos bancos e das empresas de segurança que são responsáveis pela insegurança nas agências e postos de atendimento, pois essa situação de morte e assaltos não pode ser banalizada, mas precisa ser enfrentada com ações concretas que coloquem a vida das pessoas em primeiro lugar”, reforça o presidente da CNTV, José Boaventura Santos.

“Esses dados são muito importantes para o debate com o governo, os bancos, as empresas de segurança e a sociedade, assim como para a construção do projeto de lei de estatuto da segurança privada, que se encontra em elaboração no Ministério da Justiça, para atualizar a lei federal nº 7.102/83”, destaca o presidente da Fetravisp, João Soares.

“Os bancos não podem seguir tratando os arrombamentos como problema de segurança pública, uma vez que acontecem por causa das instalações vulneráveis de seus estabelecimentos e provocam uma sensação de medo e insegurança em trabalhadores e clientes”, alerta o diretor da Contraf-CUT e coordenador do Coletivo Nacional de Segurança Bancária, Ademir Wiederkehr.

Carência de investimentos dos bancos

Conforme estudo feito pelo Dieese, com base nos balanços publicados de 2013, os quatro maiores bancos (Itaú, BB, Bradesco e Santander) lucraram R$ 49,5 bilhões e aplicaram R$ 2,5 bilhões em despesas com segurança e vigilância, o que representa uma média de 5% na comparação entre os lucros e os gastos com segurança.

“Está na hora de os bancos deixarem de olhar as despesas de segurança e vigilância como custos, mas sim como investimentos. A proteção da vida das pessoas não pode ficar no discurso, mas precisa ser concretizada com ações efetivas, pois é o patrimônio mais valioso que existe no mundo”, ressalta Boaventura.

“Os estabelecimentos não podem continuar vulneráveis, expondo ao risco a vida de trabalhadores e clientes, pois os assaltantes não poupam ninguém e estão cada vez mais ousados, aparelhados e explosivos para atingir os seus objetivos”, enfatiza João Soares

Assaltos são quase o dobro do número da estatística da Febraban

O número de assaltos da pesquisa é 1,9 vez maior que a estatística nacional de assaltos da Federação Brasileira de Bancos (Febraban). Enquanto a pesquisa da Contraf-CUT, CNTV e Fetravisp aponta 859 ocorrências em 2013, a Febraban informou 449 no mesmo período, uma diferença de 410 casos.

“A Febraban deveria refazer as contas, pois é uma baita diferença. Pode ser que existam agências e postos de atendimento que não fizeram a emissão do Boletim de Ocorrência (BO) na polícia, apesar da obrigatoriedade prevista na cláusula 31ª da convenção coletiva dos bancários”, alerta Cordeiro. “Nós reivindicamos que os bancos forneçam uma cópia do BO para a Cipa, o sindicato local e a Contraf-CUT, pois isso permitiria cruzar as informações”, defende Cordeiro.

65 mortes em assaltos envolvendo bancos em 2013

Outro diagnóstico da violência nos bancos é a pesquisa nacional sobre mortes em assaltos envolvendo bancos, elaborada pela Contraf-CUT e CNTV a partir de notícias da imprensa, com apoio técnico do Dieese.

Em 2013, o levantamento apurou a ocorrência de 65 assassinatos, média de 5,4 vítimas fatais por mês, um aumento de 14% em relação ao mesmo período do ano passado, quando foram registradas 57 mortes.

São Paulo (17), Rio de Janeiro (11), Bahia (7), Ceará (6), Minas Gerais (6) e Rio Grande do Sul (5) foram os estados com o maior número de casos. As principais ocorrências (49%) foram o crime de “saidinha de banco”, que provocou 32 mortes, o assalto a correspondentes bancários (22%), que matou 14 pessoas, e o assalto a agências (12%), que tirou a vida de 8 pessoas. Mais uma vez, as maiores vítimas (55%) foram os clientes (36), seguido de vigilantes (10), transeuntes (5) e policiais (7). Dois bancários também foram mortos, além de outras cinco pessoas, muitos vítimas de balas perdidas em tiroteios.

“Entra ano, sai ano, e muitas pessoas continuam morrendo em assaltos envolvendo bancos, o que é inaceitável no setor mais lucrativo do país. Eles preferem gastar bilhões de reais com a segurança na nuvem a investir na segurança das pessoas”, frisa Ademir. “Os bancos cuidam da imagem, do marketing e da estética das agências como se fossem butiques, quando deveriam priorizar a segurança dos estabelecimentos”, critica.

Multas da Polícia Federal provam que bancos descumprem legislação

O descaso dos bancos com a segurança fica evidente diante das multas aplicadas pela Polícia Federal nas reuniões da Comissão Consultiva para Assuntos de Segurança Privada (CCASP) da Polícia Federal (PF).

Em 2013, os bancos foram multados em mais de R$ 24,3 milhões por descumprimento da lei federal 7.102/83 e de normas da Polícia Federal. As principais infrações dos bancos foram número insuficiente de vigilantes, equipamentos inoperantes (alarmes, porta giratórias, câmeras) e uso de bancários para transporte de valores em vez de contratar carro-forte, dentre outros itens.

Propostas dos vigilantes e bancários para garantir segurança

– Porta giratória com detector de metais antes da sala de autoatendimento com recuo em relação à calçada, onde deve ser colocado um guarda-volumes com espaços chaveados e individualizados;

– Vidros blindados nas fachadas externas;

– Câmeras de vídeo em todos os espaços de circulação de clientes, bem como nas calçadas e áreas de estacionamento, com monitoramento em tempo real e com imagens de boa qualidade para auxiliar na identificação de suspeitos;

– Biombos ou tapumes entre a fila de espera e a bateria de caixas;

– Divisórias individualizadas entre os caixas, inclusive os eletrônicos;

– Ampliação do número de vigilantes visando garantir o cumprimento integral da lei 7.102/83 durante todo horário de funcionamento das agências e postos de atendimento;

– Contratação de mais bancários para agilizar o atendimento nos caixas e acabar com as filas, evitando a ação de olheiros e prevenindo a “saidinha de banco”;

– Isenção das tarifas de transferência de recursos (DOC, TED) para reduzir a circulação de dinheiro e combater o crime da “saidinha de banco”;

– Fim da guarda das chaves de cofres e das unidades por bancários e vigilantes, ficando depositadas na sede das empresas de segurança;

– Proibição do transporte de valores por bancários;

– Operações de embarque e desembarque de carros fortes somente em locais exclusivos e seguros;

– Fim do manuseio e contagem de numerário por vigilantes no abastecimento de caixas eletrônicos;

– Atendimento médico e psicológico para trabalhadores e clientes vítimas de assaltos, sequestros e extorsões;

– Escudos com assentos no interior das agências e postos de atendimento para os vigilantes;

– Maior controle e fiscalização do Exército no transporte, armazenagem e comércio de explosivos;

– Instalação de caixas eletrônicos somente em locais com segurança.

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