Desenvolvimento deve se centrar no homem, dizem Sader, Pochmann e Itacarambi

A 10º Conferência Pesquisa e Ação Sindical – Modelos de Desenvolvimento, rumo à Sustentabilidade – reuniu na manhã desta quarta-feira, dia 9, o presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), Márcio Pochmann, o secretário-geral do Conselho Latino-americano de Ciências Sociais (CLACSO), Emir Sader, e o vice-presidente do Instituto Ethos, Paulo Itacarambi, que somaram distintas apreciações sobre a necessidade de que a melhoria das condições de vida do homem esteja no centro do debate.

O evento é promovido pelo Instituto Observatório Social (IOS), Central Única dos Trabalhadores (CUT) e Fundação Friedrich Ebert (FES) e tem o apoio das centrais internacionais FNV Mondiaal (Holanda) e DGB Bildungswerk (Alemanha). O encontro, que acontece até amanhã, dia 10, em São Paulo, tem o objetivo de fomentar o debate sobre as propostas de desenvolvimento para o movimento sindical a partir da visão dos trabalhadores e trabalhadoras; divulgar a Plataforma da CUT para as eleições 2010 e debater as perspectivas de construção de um modelo alternativo de desenvolvimento, capaz de romper com os desequilíbrios sociais estruturais e históricos da sociedade brasileira.

Além dos convidados, a mesa de abertura contou com a presença do presidente do Instituto do Observatório Social, Aparecido Donizeti; João Felício, secretário de Relações Internacionais da CUT e Yesko Quiroga, representante da FES no Brasil. Adeilson Telles, diretor executivo da CUT Nacional, fez a moderação do debate.

Na avaliação do presidente do Ipea, Mário Pochmann, a questão da sustentabilidade não pode estar desconectada das políticas públicas, pois diz respeito a viver mais e melhor, sendo necessário também um novo padrão de desenvolvimento, não submetido ao consumismo desenfreado ditado pelo “mercado”.

Pochmann lembrou que “os países ricos estão cada vez emitindo menos dióxido de carbono, com suas economias associadas ao serviço, ao conhecimento, enquanto transferem a emissão para os países em desenvolvimento, onde suas multinacionais acabam espalhando os poluentes e os impactos ambientais dele decorrentes. Ou seja, acabamos pagando o ônus sem ficar com o bônus, para que os países centrais do capitalismo mantenham o seu nível de alto consumo e o discurso preservacionista, ao mesmo tempo em que transferem a conta da sujeira para o chamado terceiro mundo.

O presidente do Ipea diz que o Brasil se vê hoje diante da possibilidade inédita de construir um novo modelo que não seja a reprodução do passado, com condições de garantir redistribuição de ganhos e expansão econômica sem agressão ao meio ambiente. Entre as opções, destacou, está o investimento na matriz energética limpa bem como em novos meios de transporte – setor que é o mais alto consumidor de energia – como ferrovias e hidrovias.

O professor Emir Sader saudou o Observatório Social e a CUT pelo resgate do tema desenvolvimento, substituído pelo “ajuste fiscal” durante o período neoliberal. Emir lembrou que não há indissociabilidade entre a crise ecológica e a econômica, e condenou o simplismo de algumas visões pretensamente ecológicas que acabam se desvirtuando para um preservacionismo estéril.

“Esta é uma luta histórica, secular, da necessidade de subordinar a natureza às necessidades e objetivos dos seres humanos”, declarou. Emir condenou a visão reacionária de alguns segmentos, citando como exemplo as resistências esboçadas contra o gasoduto continental que trará gás da Venezuela para os pobres dos grandes centros urbanos do nosso país, Naturalmente, disse, “haverá destruições e compensações para a Amazônia, que será atingida em algum nível, mas o importante é que a sustentabilidade seja fundamentalmente de caráter social, na qual está incluída a ecológica”. O contrário disso, condenou, “seria uma visão conservadora, reacionária e preservacionista, própria de pessoas que nunca colocaram uma lata d’água na cabeça”.

Citando o vice-presidente boliviano Álvaro Garcia Linera, que diz que “na miséria não há emancipação”, Emir defendeu que o neoliberalismo é o principal obstáculo ao desenvolvimento e, consequentemente, à sustentabilidade, “O neoliberalismo é a hegemonia do capital financeiro sob forma especulativa. O capital não é feito para produzir, é feito para ganhar. Daí a importância de baixar drasticamente a queda dos juros e de acabarmos, de fato, com a autonomia de fato do Banco Central”, defendeu.

O vice-presidente do Instituto Ethos, Paulo Itacarambi apontou que para que possamos fazer da sustentabilidade uma questão real, é necessário que haja um equilíbrio do capital financeiro, humano, social e natural. “Sem esse equilíbrio, e sem o consenso na sociedade, não há possibilidade de um projeto de desenvolvimento que seja de fato inclusivo, verde e sustentável”, diz.

Segundo ele, para alcançarmos esse equilíbrio alguns desafios devem ser enfrentados: a cultura do consumismo; a cultura da privatização dos bens públicos; o foco exclusivo no capital estrangeiro que cresce depreciando o capital humano; social e natural; o conceito da competitividade, que diminui a participação dos trabalhadores na riqueza gerada; a alta concentração do capital natural e a inércia de mudança do sistema político.

“Estes desafios estão além da implantação de novas formas de consumo e de produção’. É preciso uma nova cultura para avançarmos, ou seja, mudar a cabeça, a forma de pensar. Nesse processo, a palavra chave é inovação. Às vezes podemos achar que estamos inovando enquanto, na verdade, há o risco de estarmos perdendo tempo com uma ilusão ou com uma falsa solução”.

“Temos que fortalecer o modelo distributivo e criar uma agenda de compromissos privados e públicos, aí então, começaremos a promover o equilíbrio do capital, necessário ao projeto de desenvolvimento”, finaliza.

Na parte da tarde, o tema a ser debatido é “Qual é o papel do estado na promoção do desenvolvimento no cenário atual? Os expositores convidados são: Carlos Alonso Barbosa de Oliveira, do Centro de Estudos Sindicais e de Economia do Trabalho da Universidade de Campinas (Unicamp) e Esther Bemerguy, secretária-executiva do Conselho de Desenvolvimento Econômico Social da Presidência da República (CDES). Denise Motta Dau, secretária nacional de Relações de Trabalho da CUT faz a moderação do debate.

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