O Estado de São Paulo
Vinícius Pinheiro e Silvia Araújo
Colaboração de Leandro Modé
A megaoferta de ações do Banco Santander ficou levemente abaixo da expectativa de analistas, mas confirmou que a instituição espanhola será a segunda maior do Brasil em valor de mercado (que resulta da multiplicação do total de ações negociadas pela cotação), atrás apenas do Itaú Unibanco. A oferta atingiu R$ 14,1 bilhões, de acordo com informações enviadas à Comissão de Valores Mobiliários (CVM). Antes da operação, o Santander valia cerca de R$ 88 bilhões, ante R$ 99 bilhões do Bradesco e R$ 78 bilhões do Banco do Brasil.
Os R$ 14,1 bilhões (equivalentes a US$ 8 bilhões pela taxa de câmbio de ontem) também constituem a maior oferta de ações do mundo em 2009, à frente do China State Construction Corp., com US$ 7,34 bilhões.
A operação – tratada como uma abertura de capital apesar de o banco deter ações na bolsa da época do antigo Banespa – foi a segunda maior já realizada no mercado de capitais brasileiro em todos os tempos, atrás apenas da emissão de R$ 19,4 bilhões da Vale, no ano passado.
Considerando apenas as ofertas iniciais (IPO, na sigla em inglês), a operação superou a captação recorde de R$ 8,4 bilhões da Visanet, realizada em junho deste ano.
O Santander obteve o preço de R$ 23,50 por papel, no centro da faixa indicativa – que variava de R$ 22 a R$ 25. Entre especialistas, acreditava-se que o preço ficaria próximo do teto. As units, certificados que representam 55 ações ordinárias e 50 preferenciais, começam a ser negociadas hoje no pregão da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa).
O registro na CVM mostra que foram vendidas 600 milhões de units . A operação previa, inicialmente, a emissão primária de 525 milhões de units. Haveria, ainda, um lote suplementar (75 milhões de papéis) e outro adicional (25 milhões de units). Não ficou claro se ambos foram exercidos.
Na época da definição da faixa indicativa da oferta, gestores locais de fundos consideraram o preço salgado. Pelos cálculos desses profissionais, a unidade brasileira do Santander foi avaliada a um valor próximo ao dos demais concorrentes privados, como Itaú Unibanco e Bradesco, apesar de apresentar uma rentabilidade historicamente menor.
Desde o anúncio da operação, porém, os papéis do setor bancário subiram forte na bolsa. “As ações de Itaú Unibanco e Bradesco acabaram se ajustando para embutir um prêmio em relação ao Santander”, avalia o gerente de análise da Modal Asset Management, Eduardo Roche.
De acordo com o gestor de fundos de um banco estrangeiro, que pediu para não ser identificado, apesar de o preço da oferta não ter sido baixo, o que atraiu os investidores, em especial os do exterior, foi a possibilidade de lucrar com a perspectiva de crescimento do País nos próximos anos.
As units do Santander terão o código SANB11. Vale lembrar que os negócios no primeiro dia de negociação com os papéis serão liquidados em D+4, ou seja, em 14 de outubro, enquanto as units adquiridas na oferta terão liquidação em D+3 (13 de outubro).
Na prática, isso significa que o investidor que pretende obter ganhos de curtíssimo prazo vendendo os papéis na estreia (o chamado flipper) precisará ter o dinheiro para realizar a operação, já que a liquidação de quem comprou as units na distribuição pública ocorrerá um dia antes de o investidor receber os recursos obtidos com a venda do papel no pregão.
A oferta do Santander teve o próprio banco espanhol como coordenador líder, ao lado de Credit Suisse, Merrill Lynch e BTG Pactual.
NÚMEROS
R$ 88 bilhões
é o quanto valia o Santander no Brasil antes da operação
R$ 98 bilhões
é o quanto vale o Bradesco, o maior banco em valor de
mercado do Brasil
R$ 23,50
foi o preço por ação, obtido na megaoferta de ontem
600 milhões
é o número de units (que representam 55 ações ordinárias e 50 preferenciais) vendidas