"A sociedade está preparada para (temporariamente) reduzir o consumo e desaquecer o mercado de trabalho para reduzir a inflação?", perguntava, em março de 2013, o economista-chefe do Itaú Unibanco, Ilan Goldfajn, também sócio da instituição. Na época, a afirmação, em artigo, irritou os trabalhadores. Ex-diretor de Política Econômica (2000-2003) do Banco Central, na gestão Armínio Fraga, ele foi indicado hoje (17) pelo ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, para o comando do BC. Políticos do PSDB e do DEM já elogiaram a indicação.
Antes de assumir, Goldfajn, 45 anos, terá de passar por sabatina na Comissão de Assuntos Econômicos do Senado, que atualmente tem Gleisi Hoffmann (PT-PR) na presidência e Raimundo Lira (PMDB-PB, o presidente da comissão especial do impeachment) na vice. Por enquanto, Alexandre Tombini segue na direção do BC. A próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) está marcada para 7 e 8 de junho.
Em análise feita no início do mês, o economista-chefe do Itaú Unibanco afirmou que o Copom dava em sua ata um "sinal claro" de que manterá, nessa reunião, a taxa básica de juros em 14,25% ao ano. E identificava alguns sinais positivos.
"Acreditamos que as chances de um novo esforço de ajustes e reformas fiscais adiante vêm aumentando. A inflação em 12 meses deve continuar recuando, conforme os efeitos do ajuste de preços relativos de 2015 ficam para trás. Neste contexto, as expectativas de inflação também devem recuar gradualmente", afirmou. "Esta melhora esperada do balanço de riscos, se confirmada, deve trazer conforto ao Copom para iniciar um ciclo de cortes de juros no segundo semestre."
Mercado
De 2000 a 2002, a taxa básica manteve-se sempre acima dos atuais 14,25%. No final do governo Fernando Henrique Cardoso, chegou a 25%. Chegou a subir em 2003, primeiro ano do governo Lula, sob gestão de Meirelles, agora na Fazenda: foi a 26,50%, mas ainda naquele ano iniciou trajetória de cortes e fechou em 16,50%.
Bem visto no mercado por sua formação e pelo conhecimento tanto do setor público como do privado, Goldfajn também foi diretor (2006-2009) na Casa das Garças, centro de "notáveis" com forte participação tucana, já chamada de "ninho dos liberais" pela revista Exame. Durante três anos (2003-2006), exerceu a função de economista-chefe da Gávea Investimentos, criada por Armínio Fraga – que esteve cotado para assumir a Fazenda na gestão do interino Michel Temer, mas teria recusado o convite. Trabalhou no Fundo Monetário Internacional de 1996 a 1999.
Outro nome anunciado hoje por Meirelles, o do secretário de Acompanhamento Econômico, Mansueto Facundo de Almeida Jr. também já trabalhou no governo, como coordenador-geral de Política Monetária e Financeira na Secretaria de Política Econômica do Ministério da Fazenda, de 1995 a 1997, na gestão de Pedro Malan. Foi assessor econômico do senador tucano Tasso Jereissati (CE) e é funcionário de carreira do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Licenciou-se em 2014 para trabalhar na campanha de Aécio Neves à Presidência da República. É filiado ao PSDB desde 1995.
No referido artigo de 2013, Goldfajn esperava crescimento de 3% para o Produto Interno Bruto (PIB) daquele ano (ficou em 2,3%), com expectativa confirmada de taxa de desemprego baixa e aumento real de salários. "Boas notícias para um lado da economia, mas, por outro, dificultam o combate à inflação", comentou.
"Pleno emprego, salários altos e consumo forte têm sido valiosos para a economia brasileira. A inflação sob controle também é um valor. Não está claro se há consciência na sociedade de que, para manter a inflação sob controle, possa ser necessário temporariamente reduzir o consumo e desaquecer o mercado de trabalho", disse o economista na ocasião. O mercado já anda bem "desaquecido".