O Sindicato dos Bancários do Rio de Janeiro realiza nesta quarta-feira, dia 19, às 18h, um ato para lembrar os 10 anos da privatização do Banespa e homenagear o ex-dretor falecido Antonio Carlos Vilela, um dos principais lutadores em defesa do banco público entregue pelos tucanos. Uma placa produzida pela Afubesp será entregue a seus familiares. O evento ocorre no auditório do Sindicato com a presença da dirigentes da Contraf-CUT e de entidades sindicais e representativas dos trabalhadores.
Vilela será novamente lembrado, a exemplo do que aconteceu no ato público realizado no dia 19 de novembro de 2010, em frente a torre do Banespa, em São Paulo. Na ocasião, ele foi homenageado como um dos personagens inesquecíveis da resistência contra a venda do banco.
“10 anos sem Antônio Carlos Vilela, liderança na luta contra a privatização” eram os dizeres da faixa que homenageou um dos grandes líderes do movimento que objetivava impedir que o Banespa fosse privatizado. Menos de um mês após a realização do leilão, o coração do combativo banespiano não resistiu.
Um pouco da história de Vilela
Paulista de Taubaté, Vilela adotou o Rio de Janeiro como cidade e o Fluminense como time, sendo um dos fundadores do PT e da Articulação Bancária.
Foi grande defensor da filiação do Sindicato dos Bancários do Rio de Janeiro à CUT, ocorrida em 1986. Lutou também pela criação da Confederação Nacional dos Bancários (CNB-CUT), fundada em 1992 e sucedida em 2006 pela Contraf-CUT. Foi eleito secretário-geral do Sindicato na gestão 1991/94 e reeleito para as gestões 1994/97 e 1997/2000.
Conhecido por sua conduta irrepreensível como sindicalista, Vilela era o líder maior dos banespianos no Rio de Janeiro. “O que ele falava, as pessoas acatavam”, lembra Ana Elias, banespiana aposentada, amiga e companheira de luta de Vilela. Mas a sua liderança não estava exclusivamente ligada aos funcionários do Banespa. Ele fez escola no movimento sindical carioca.
“Vilela era uma unanimidade”, conta o diretor do Sindicato do Rio, Renato Lima. “Ele era um cara especial, surpreendente, solidário com as pessoas”, lembra o dirigente, que completa: “Vilela foi um dos responsáveis por mudar a rota do sindicalismo bancário no Rio, por isto, e por seu perfil humano, ele era extremamente respeitado”.
Hoje, a sala da Secretaria-Geral do Sindicato do Rio leva seu nome. Na placa em sua homenagem lê-se: “Vilela era respeitado por todos por seu equilíbrio e capacidade de formulação política, sempre solidário e dedicado às lutas dos trabalhadores, firme e obstinado, mas sem perder a ternura, jamais”.
Último ato
No dia 7 de novembro de 2000, a Folha de S.Paulo informava que o Banespa seria vendido no dia de Zumbi dos Palmares. Na época, a data já era feriado no Rio de Janeiro, local onde seria realizado o leilão. Procurado pelo jornal, Vilela nem quis comentar o fato: “Tenho certeza que o leilão será adiado”, afirmou, confiante, garantindo que os sindicalistas não planejavam protestos para o dia, pois, na sua avaliação, o banco não seria privatizado.
Infelizmente, não foi o que aconteceu. 14 dias depois, funcionários da ativa e aposentados do banco se reuniram diante da principal agência carioca do Banespa, localizada na Candelária (Centro). Liderados por Vilela, os banespianos seguiram em passeata até a Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, que fica próxima à Bolsa de Valores.
Durante todo o trajeto, em companhia da polícia, os manifestantes ouviam orientações: “se houver violência, que seja do lado deles, não do nosso. Não vamos aceitar provocações”, pedia o dirigente sindical.
“Privatização matou o Vilela”
O sindicalista sucumbiu ao cansaço e à decepção de ver o banco ser entregue, menos de um mês depois, para o espanhol Santander. Nos dias que se seguiram, o comentário entre os colegas era que “a privatização havia matado Vilela”. O que não deixa de ser verdade.
De acordo com a banespiana aposentada Ana Elias, ex-representante do Rio no Corep do Banespa, amiga e companheira de luta do sindicalista, todo o processo foi muito desgastante para ele, o que realmente pode ter causado o infarto.
Ela conta que Vilela não esmoreceu em momento algum desde que a ameaça da privatização começou a atormentar a vida dos funcionários do banco: estava sempre presente nas manifestações, participava das assembleias em São Paulo, fazia reuniões nos locais de trabalho, conversava com parlamentares. “Ele já estava aposentado, mas não usufruiu desta condição porque em nenhum instante deixou de lutar”, comenta Ana.
Por toda a garra e pelo perfil humanista demonstrado durante toda a sua vida, Vilela é, sem dúvida, um personagem inesquecível do movimento sindical e, em especial, na luta contra a privatização do Banespa.