O Estado de São Paulo
Mônica Ciarelli, RIO
A crise financeira colocou em xeque a governança corporativa das empresas brasileiras. A inesperada alta do dólar trouxe perdas bilionárias às empresas expostas em derivativos cambiais. Aracruz e Sadia, os casos mais emblemáticos, amargaram prejuízos de US$ 2,13 bilhões e R$ 653 milhões, respectivamente, surpreendendo seus investidores. No caso da Sadia, além disso, ainda há mais de US$ 2 bilhões em aberto. A Previ, fundo de pensão do Banco do Brasil, uma grande acionista das duas empresas, foi uma das grandes perdedores.
Com participação expressiva em carteiras de ações, que nem sempre lhe dão acesso às decisões estratégicas, a Previ tenta incentivar outros minoritários a exigir maior transparência empresarial. Na semana que vem, o fundo lança um manual de participação de acionistas em assembléias. Entre as mudanças propostas pela fundação, que detém participação acionária em mais de 70 empresas, está a sugestão de submeter o balanço financeiro à aprovação dos acionistas, ao estilo das reuniões para os investidores do mercado de capitais (Apimec).
Hoje, revela o diretor de Participações da Previ, Joilson Ferreira, os executivos apenas colocam o tema em votação sem esclarecer aos investidores como chegaram àquele resultado. “Tem empresa que faz duas ou até quatro reuniões de Apimec por ano, e só uma assembléia geral ordinária. A empresa dá mais atenção aos analistas financeiros do que ao próprio acionista, que é o patrão dele”, reclama Renato Chaves, ex-diretor de participações da Previ e um dos idealizadores do manual.
Segundo ele, esse é um tema que ganha ainda mais importância nesse momento de crise, em que se discute a qualidade das informações prestadas. “O que se espera que é que as companhias se antecipem e caminhem para esse modelo”, disse. No mês passado, a Previ, por ser uma acionista de peso na Sadia, exigiu a convocação de uma assembléia de acionistas para analisar o caso. Ferreira informou ainda que a fundação já conseguiu informalmente reunir um grupo de investidores da Aracruz suficiente para também exigir explicações da companhia.
Para Ferreira e Chaves, o aumento da participação de investidores estrangeiros e pessoas físicas no capital das empresas brasileiras nos últimos anos enfatiza ainda mais a necessidade de melhores práticas de governança corporativa.
No manual, a Previ destaca que as empresas deveriam ter como norma colocar na internet o máximo possível de informações. Chaves lembrou que os estrangeiros e também os investidores institucionais precisam analisar cada item da pauta da assembléia com antecedência, porque eles também definem seus votos antes.
Remuneração
Outro tema levantado pelo manual é o da remuneração dos executivos. Para a Previ, a forma como as empresas nacionais apresentam essas informações nas assembléias oferece pouca transparência aos acionistas. O balanço revela apenas o valor total pago aos executivos, sem que haja uma separação entre os valores destinados ao conselho de administração e à diretora, ou qual é a fatia da remuneração fixa e da variável.
Sugestões da Previ
Assembléia: Submeter o balanço financeiro à aprovação dos acionistas, em reuniões semelhantes às feitas pela empresas com analistas do mercado de capitais (Apimec)
Internet: Empresas deveriam ter como norma colocar na internet o máximo possível de informações
Salários: Mais transparência em relação à remuneração dos executivos. Hoje, balanço mostra apenas o valor total pago, sem divisão entre conselho e diretoria, ou entre remuneração fixa e variável