Folha: spread bancário é o mais alto em cinco anos

FOLHA DE SÃO PAULO
NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Mesmo com o agravamento da crise, os bancos que atuam no Brasil já conseguiram, no mês passado, captar dinheiro no mercado a taxas mais baixas do que as observadas entre junho e novembro. Porém a queda não foi totalmente repassada para quem precisa de um financiamento, já que no mesmo período o chamado “spread” bancário permaneceu em alta e atingiu o nível mais alto em mais de cinco anos.

Os números são do Banco Central. Em novembro, segundo o BC, os bancos pagavam 13,9% ao ano para levantar recursos no mercado financeiro e repassavam esse dinheiro aos clientes cobrando juros médios de 44,0% ao ano. A diferença -o “spread”- era, portanto, de 30,1 pontos percentuais.

Em dezembro, o custo de captação das instituições financeiras caiu para 12,6% ao ano, enquanto os juros dos financiamentos bancários passaram para 43,2% ao ano. Ou seja, o “spread” subiu para 30,6 pontos, o mais elevado registrado pelo BC desde agosto de 2003.
Mesmo assim, o saldo do crédito disponível no país continuou crescendo e chegou, no mês passado, a R$ 1,227 trilhão, o que equivale a 41,3% do PIB (Produto Interno Bruto), nível mais alto já apurado pelo BC.

Na avaliação de Marcelo Moura, professor do Ibmec São Paulo, a continuidade do processo de expansão do crédito em dezembro foi surpreendente e reflete, em parte, a maior disposição dos bancos públicos em conceder empréstimos. “Acredito que isso é consequência da orientação do governo. Não vejo isso com maus olhos, já que o risco [das novas operações] não é excessivo e os negócios ainda são lucrativos.”

Para o chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes, a alta do “spread” reflete o temor dos bancos em relação a um possível aumento na inadimplência. “O “spread” está subindo já há algum tempo. Dá para perceber, de fato, uma maior aversão ao risco. As instituições financeiras estão ficando mais conservadoras.”

O “spread” é a parcela usada pelos bancos para cobrir custos como o pagamento de tributos, de despesas administrativas e de possíveis perdas provocadas por calotes. Inclui ainda a margem de lucro do setor.

Em 2008, o “spread” cobrado nos empréstimos para pessoas físicas foram os que mais subiram, passando de 31,9 pontos percentuais no final de 2007 para 45,1 pontos em dezembro. No período, os juros propriamente ditos subiram, em média, de 43,9% ao ano para 58%.

O agravamento da crise financeira, em setembro, fez com que o governo tomasse uma série de medidas para tentar normalizar a oferta de crédito no país. Entre elas, a redução do compulsório -parcela dos depósitos bancários que são retidos pelo BC-, que injetou cerca de R$ 100 bilhões nos bancos, e a redução do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) que incide sobre operações de crédito.

Mesmo assim, o “spread” se manteve em alta. Segundo o economista-chefe da Febraban, Rubens Sardenberg, o importante é que os juros cobrados nos empréstimos estão mais baixos, mesmo com o “spread” mais elevado. “No médio prazo, a tendência é de redução [do “spread’], mas a inadimplência é uma força contrária a esse movimento”, afirma.

Para forçar uma queda nos custos dos empréstimos dos bancos privados, o presidente Lula vem pressionando os bancos públicos a liderarem a redução dos “spreads” no país.

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