A tensão com a ameaça do rompimento de uma barragem ainda maior, a Germano, o medo do desemprego e de mais uma calamidade ambiental. Foi o que constatou o secretário nacional de Meio Ambiente da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Daniel Gaio, que esteve nesta quarta-feira (11), em Mariana, na Região Central de Minas Gerais, ao conversar com moradores da cidade.
Ele, o assessor Iuri Codas; a secretária da Juventude da CUT/MG, Sabrina Teixeira Ribeiro; e Stefânio Marques Telles, assessor do Sindicato dos Metalúrgicos de Belo Horizonte e Contagem, foram impedidos pela Polícia Militar de chegar ao distrito de Bento Rodrigues, destruído pelo rompimento das barragens de rejeitos de minério de ferro de Santarém e Fundão, da mineradora Samarco, na última quinta-feira (5). Os policiais bloquearam o acesso pelo distrito de Santa Rita Durão, alegando que a interdição foi feita por questão de segurança e por causa do trabalho dos peritos da Polícia Civil. A destruição de uma ponte pela correnteza de lama impossibilita o acesso pelo distrito de Camargos. Há o risco eminente de rompimento da maior barragem.
Os acessos foram bloqueados pelo risco de rompimento da barragem Germano, que represa maior quantidade de resíduos. Esta tragédia não é um fato isolado. Já aconteceram, de 2001 para cá, outras seis no Estado”, afirmou Daniel Gaio, que acompanhou, no ginásio poliesportivo Arena Mariana, o trabalho dos voluntários que fazem a triagem das doações. Oito mortes já foram confirmadas, 21 pessoas continuam desaparecidas, 183 casas foram destruídas, 831 ficaram desabrigados – 631 estão alojados em hotéis e pousadas e, 200, em casas de parentes e amigos.
“A população está muito preocupada com a possibilidade de nova tragédia e de proporções ainda maiores, com o risco de desemprego. Uma catástrofe com grande impacto social e ambiental, que afeta a vida das pessoas, com mortes e centenas de desabrigados e penaliza os que dependem dos rios, que sofreram danos irreparáveis e trazer prejuízos às populações de muitas cidades. Provoca, também, uma calamidade econômica e social, com a suspensão das atividades da empresa e a ameaça de desemprego trabalhadores diretos e indiretos da região”, disse Daniel Gaio.
Para o secretário de Meio Ambiente da CUT, outro dano irreparável provocado pelo rompimento das barragens é a morte do Rio Doce. “Centenas de cidades dependem do rio e a não terão acesso ao abastecimento de água, por causa da contaminação irreversível de uma das maiores bacias hidrográficas do Brasil. Os moradores estão impedidos de ter acesso a água potável.” Daniel Gaio citou Governador Valadares, cidade que ganhou na Justiça, por intermédio de liminar, indenização de R$ 1 milhão pelos prejuízos causados com o rompimento das barragens, como um exemplo para as cidades atingidas.
O que aconteceu em Mariana foi uma tragédia anunciada. O risco de rompimento de barragens da Samarco foi alvo de alerta em 2013, quando uma instituição particular realizou um estudo na região a pedido do Ministério Público Estadual (MPE). A Samarco é uma empresa bastante lucrativa, controlada em partes iguais pelas duas maiores mineradoras do mundo: BHP Billiton e Vale. E não foi a única catástrofe envolvendo barragens de rejeitos. De 2001 a 2014, seis rompimentos provocaram mortes e devastação no Estado.
Ato e debate públicos
O Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), moradores, a Central Única dos Trabalhadores de Minas Gerais (CUT/MG), sindicatos CUTistas e movimentos sociais participam nesta quinta-feira (12), de Ato Público em Defesa dos Direitos e pela Vida. A concentração começa às 16 horas na Praça dos Jardins, no Centro de Mariana, com passeata até a Praça da Sé, onde será realizado um debate público, com a presença do arcebispo Dom Geraldo Lyrio.