Valor Econômico
Assis Moreira
O diretor-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Dominique Strauss-Khan, defendeu ontem um mecanismo de supervisão global para os bancos e apontou a Europa como o principal problema hoje da economia mundial, inclusive por causa de respostas fragmentadas à crise do endividamento.
Ele advertiu que a reforma do sistema financeiro “está muito atrasada”. Acha que a lentidão na melhora da supervisão e na criação de mecanismos eficazes de resolução de crises poderá ser a causa principal da próxima grande turbulência, “como a atualidade nos mostra”.
Em debate na sede europeia das Nações Unidas, em Genebra, ele estimou que o novo acordo de Basileia 3 melhorou a regulação bancária, ampliando a necessidade de fundos próprios dos bancos, mas insistiu que mais importante é a supervisão. “Pode-se ter as melhores regras, mas se a implementação não é monitorada, a catástrofe estará próxima”, disse.
Exemplificou que, em vez de coordenação, os EUA estão colocando em prática seu novo sistema de supervisão bancária que consideram coerentes, e a Europa um sistema que os europeus acham bom, “mas os dois não são totalmente compatíveis e isso pode alimentar a erva ruim para a próxima crise”.
“Quando a próxima crise financeira explodir – e digo bem quando ela explodir e não se explodir -, devemos estar prontos”, afirmou Strauss-Khan. “E não podemos contar de novo com os contribuintes para pagar a nova fatura”. Depois de discorrer sobre a crise financeira mundial que “varreu em grande parte a antiga ordem econômica”, advertiu que hoje suas consequências estão longe de ter se esgotado. “A situação na Europa resta preocupante, o futuro é mais incerto do que nunca, e sem esperar que a calma volte, é preciso começar a reconstruir tudo”, afirmou Strauss-Khan.
Abordando o “retorno potente” da governança econômica, o diretor do FMI defendeu a importância de novo equilíbrio entre regulação e os mercados.
“No setor financeiro, precisamos de mecanismos coerentes para regulação de falências, ao nível nacional e internacional, para liquidar instituições quebradas com um custo mínimo para os contribuintes e para colocar fim ao flagelo do ‘grande demais ou importante demais para falir'”.
No fim de conta, reiterou Strauss-Khan, “devemos sair dos ciclos ruinosos da privatização dos ganhos e do socialismo das perdas”. Para o FMI, o setor financeiro deve assumir uma parte “equitável, mas substancial” dos custos que a tomada de risco impõe à economia. A entidade propõe uma taxa sobre as transações financeiras, sem sucesso pelo momento.
Vê perspectivas econômicas incertas dos EUA, mas ainda assim o país vai crescer duas vezes mais que a Europa. Não considera o euro ameaçado. Mas conclamou os líderes europeus a buscar soluções mais amplas e integradas para a crise do endividamento da região, considerando que as respostas que deram até agora são fragmentadas, inadequadas, incapazes de resolver os problemas e acalmar os investidores.
Para Strauss-Khan, é urgente uma verdadeira coordenação econômica no velho continente, sob pena de mais desmantelamento do sistema de bem-estar social e da competitividade.
O problema está basicamente na Europa, com 25% da produção mundial, e destacou que em boa parte do mundo a recuperação é sólida, como no Brasil. “Nos EUA, fala-se em redução de impostos, enquanto somente a Europa fala de austeridade”, acrescentou Pascal Lamy, diretor-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC).
“Num momento em que ninguém sabe como será o futuro, em que os desequilíbrios orçamentários de alguns países ameaçam todo o equilíbrio mundial, em que a acumulação de superávits externos de uns e os déficits de outros criam condições de novos afrontamentos, a comunidade internacional deve escolher entre implementar um novo modelo de crescimento para um mundo novo, ou escolher o imobilismo, se focar em posições nacionais e correr o risco de instabilidade, que serão alimento para a próxima crise”, completou Strauss-Khan.