Presidente do Sindicato de São Paulo enfrentou a ditadura militar
Eram tempos difíceis, que demandavam muita coragem. O golpe militar de 1964 e o endurecimento da repressão com o Ato Institucional nº 5 (AI-5), em 1968, instauraram um regime de cerceamento, perseguições, torturas e assassinatos no Brasil. Foi nesse período que o então bancário do Banespa Augusto Campos liderou a categoria na luta por direitos e contra a ditadura. Organizou uma greve em 1978, ainda sob o regime militar, e no ano seguinte retomou o Sindicato dos Bancários de São Paulo com a vitória da chapa de oposição, liderada por ele.
Com 73 anos, já aposentado e morando em Santos, litoral sul do estado São Paulo, com a companheira e também ex-dirigente do Sindicato, Lucia Mathias, Augusto foi homenageado pelo projeto Memória Sindical, idealizado pelo escritório Crivelli Advogados Associados.
A cerimônia, na noite de quinta-feira 27, reuniu familiares, amigos e companheiros de militância, no Instituto Tomie Ohtake, na zona oeste da capital. Foi exibido um documentário sobre sua trajetória de luta, produzido pelo escritório e realizado pela ViaTV. É a segunda personalidade a ser retratada pelo projeto que, em 2013, homenageou o também ex-presidente do Sindicato Luiz Gushiken (1950-2013).
“Definir o Augusto é uma missão impossível”, disse o amigo e parceiro de luta, Luiz Azevedo, ex-dirigente do Sindicato e ex-funcionário do Banco do Brasil. “Acho que ele foi, antes de tudo, um grande educador e organizador. Quando você levava um problema pro Augusto, depois da conversa você descobria que sabia como resolvê-lo, só não sabia que já tinha a solução. Ele te levava a pensar.”
Luizinho lembrou ainda dos ensinamentos do companheiro. “Augusto sempre defendeu que a negociação fosse coletiva e falava sobre seu papel estratégico, ao explicitar um conflito e revelar a correlação de forças. E foi a negociação coletiva que nos levou a conquistar avanços para a categoria como auxílio creche e tickets alimentação e refeição.”
A presidenta do Sindicato, Juvandia Moreira, também destacou o que aprendeu, ainda no começo de sua militância. “Uma vez ele me disse que quando eu estivesse em uma mesa de negociação com os banqueiros, não deveria demonstrar nenhuma emoção, tinha que manter o rosto sem expressão alguma. Lembro que na hora pensei: meu Deus, como se faz isso?!”, brincou. “Nós que estamos aqui hoje, a nova diretoria do Sindicato, somos o resultado da luta de homens como Augusto e Gushiken”, concluiu.
Luta é nacional
Com as tradicionais sandálias de couro e roupas folgadas, o homenageado citou momentos marcantes da história da categoria. “Se nosso patrão estava em todo o país, nossa luta tinha que ser nacional. Sempre acreditei e briguei por isso.” Era o início da construção de uma Convenção Coletiva de Trabalho (CCT) válida em todo o país, o que ocorreria em 1992, apenas sete anos depois de Augusto deixar a presidência do Sindicato.
Lembrou ainda da compra da Quadra dos Bancários, sob sua gestão: “Hoje uma casa dos trabalhadores, já visitada por pessoas como Lula e Luís Carlos Prestes”. E também da fundação do PT e da CUT. “O MDB (Movimento Democrático Brasileiro, único partido de oposição na legalidade durante a ditadura) queria que fôssemos o setor sindical do partido. Achamos aquilo humilhante e começamos uma discussão geral que resultaria na fundação do PT (em 1980).”
E a Central Única dos Trabalhadores (CUT), disse o bancário, surgiu da necessidade da união de classe. “Nós precisávamos nos assumir como classe trabalhadora e enfrentar os patrões como classe.” Foi desse processo, ressaltou o diretor do Crivelli Advogados Associados, Edson Crivelli, que resultou a abertura política e a volta da democracia ao país.
“Devemos muito a figuras como Augusto, Gushiken, Gilmar (Carneiro, também ex-presidente do Sindicato). A luta deles teve uma importância enorme na construção da sociedade brasileira”, destacou Crivelli.