Espanhóis temem sofrer contágio da crise portuguesa no sistema financeiro

LUISA BELCHIOR
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM MADRI

A Espanha correu contra o relógio na quinta-feira (24) para evitar respingos da crise do vizinho Portugal em seu território financeiro. Conseguiu no curto prazo, mas no médio e no longo prazos deve sair prejudicada, na avaliação de economistas do país.

Atualmente, bancos da Espanha como Santander e BBVA têm investidos em Portugal cerca de 76 bilhões (R$ 176 bilhões), um terço dos investimentos de bancos estrangeiros no país em crise, segundo o BIS (Bank of International Settlements).

A economia da Espanha é cinco vezes maior que a de Portugal. Mas as suspeitas em torno da contaminação no sistema financeiro espanhol foram reforçadas quando a agência de classificação de risco Moody”s rebaixou a nota de 30 bancos do país na manhã de ontem.

“Estamos em uma falsa calma”, disse o economista da consultoria Intermoney José Carlos Díez. “Os investidores se perguntam quem será o próximo, e a Espanha é uma evidente próxima peça no dominó europeu.”

O clima foi de incerteza durante todo o dia. O governo espanhol, que enfrentou uma greve geral no ano passado na aprovação de seu plano de ajuste fiscal, tentou acalmar o mercado.

“Vamos seguir com o pulso firme com as reformas. Os mercados estão reconhecendo isso”, declarou a ministra de Economia, Elena Salgado.
No fim do dia, o Ibex 35, principal índice da Bolsa espanhola, que havia começado com baixa de 1%, fechou em alta de 1,1%.

“Surpreendeu-me positivamente”, comentou o catedrático de economia da Universidade Complutense de Madri Alfonso Novales, que espera impactos negativos no médio prazo.

“Os mercados reagem rápido, e não houve impacto no curto prazo, mas no médio prazo essa crise pode deteriorar os balanços de pagamentos na Espanha”, disse.

Garantias

Em Bruxelas, o premiê José Luis Rodríguez Zapatero passou o dia procurando dar garantias de que seu país tem feito o dever de casa imposto pela União Europeia.

Além do governo, a oposição também defendeu uma suposta sobriedade num país com deficit público na casa dos 10%, acima dos 8% que segundo a Eurostat, agência estatística da União Europeia, sustentam Portugal.

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