África do Sul lembra os 20 anos da libertação de Nelson Mandela

BBC Brasil

Os sul-africanos comemoram nesta quinta-feira 11 o 20º aniversário da libertação de Nelson Mandela da prisão, episódio considerado um marco do fim do regime de segregação entre negros e brancos imposto pela minoria branca no país.

Veteranos da campanha contra o Apartheid refizeram o caminho de Mandela quando ele deixou a prisão Victor Verster, perto da Cidade do Cabo, onde passou os últimos meses dos seus 27 anos de prisão.

Assista vídeo produzido pela BBC Brasil sobre a libertação de Mandela:

A ex-mulher do líder sul-africano, Winnie Mandela, era esperada para liderar a marcha desta quinta-feira, mas um porta-voz disse que ela não apareceu porque seria “doloroso demais”.

Mais tarde, Mandela, que tem 91 anos de idade, deve fazer uma rara aparição pública em um discurso especial à nação.

As negociações que se seguiram à libertação de Mandela culminaram na eleição em que ele se tornou o primeiro presidente negro da África do Sul, em 1994.

Prisão

Mandela foi condenado à prisão perpétua em 1964, acusado de planejar derrubar o governo com uma campanha de violência. Ele cumpriu a maior parte da sentença em uma prisão em Robben Island, na costa da Cidade do Cabo, e depois no Presídio de Pollsmoor.

Antes da libertação, Mandela viveu em uma casa no terreno do presídio de Verster, na zona rural, a uma distância de 50 quilômetros da Cidade do Cabo. Lá, ele tinha seu próprio cozinheiro.

Durante os anos na prisão, Mandela virou um símbolo internacional de resistência contra o Apartheid.

Em 1990, o governo da África do Sul respondeu à pressão interna e internacional e libertou Mandela, suspendendo ao mesmo tempo a proibição contra a existência do Congresso Nacional Africano (CNA) – partido que lutava contra o Apartheid.

Cyril Ramaphosa, que estava à frente de um comitê que teve de proteger Mandela após a sua libertação, disse que o país passou por grandes mudanças nas últimas duas décadas e que poucos dos militantes imaginavam onde estariam hoje.

“É possível que lembremos onde cada um de nós estava quando Nelson Mandela saiu livre, mas acho que vários de nós não imaginavam que estaríamos vivendo em uma África do Sul semelhante ao que ela é hoje”, afirmou.

Ceticismo

Christo Brand, ex-carcereiro de Mandela, diz que há 20 anos “esperava que não ocorresse derramamento de sangue”.

“Tudo funcionou perfeitamente”, afirma agora. “E eu conheço a forma como Mandela negocia. Ele estava realmente pensando sobre o outro lado também. Ele não pensa só nos negros do país, mas também nos brancos. E estudou e percebeu os temores dos brancos neste país.”

Brand diz ainda que Mandela “encontrou uma boa solução para a África do Sul.”

Em 1991, Mandela tornou-se o líder do CNA e foi presidente da África do Sul entre 1994 e 1999.

Mas a esperança e alegria presentes na libertação de Mandela e as eleições de quatro anos depois foram substituídas hoje, na avaliação de analistas, por um clima de ceticismo em um momento em que o governo luta para atender às expectativas da população – especialmente às dos mais pobres.

Desde que o CNA venceu as primeiras eleições após o fim do regime de minoria branca, a África do Sul obteve grandes avanços na área de habitação, energia elétrica, saneamento básico e viu o surgimento de uma classe média negra.

Mas dados oficiais indicam que o desemprego está em quase 25% e a criminalidade é alta.

Respeito

A imprensa sul-africana afirma que o atual presidente Jacob Zuma espera tomar emprestado um pouco do brilho e do respeito que a nação dedica a Mandela por ocasião do aniversário de sua libertação.

O principal partido de oposição da África do Sul acusou Zuma recentemente de contradizer a mensagem do governo sobre a prevenção do vírus HIV, após a imprensa local revelar que ele teve uma filha fora do casamento no ano passado.

Segundo o jornal sul-africano The Sunday Times, Zuma teria tido uma filha com Sonono Khoza, que é filha do presidente do comitê organizador da Copa do Mundo de 2010, Irbin Khoza.

Zuma também é criticado pela oposição por ser polígamo, seguindo as tradições tribais zulus, em um país em que cerca de 5 milhões de pessoas são portadoras do vírus HIV.

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