De acordo com o economista, "há limites para a utilização da política fiscal como alavanca do crescimento. É sobretudo no excesso de restrição no campo da moeda e do crédito que se observa o impacto negativo sobre a atividade econômica"
Na avaliação do economista Paulo Nogueira Batista Jr., professor da FGV, "talvez nunca tenha sido tão fácil – pelo menos do ponto de vista econômico – colocar o país em movimento. Todas ou quase todas as explicações ‘clássicas’ para o baixo dinamismo da economia nos últimos 25 anos parecem superadas. A inflação brasileira, que já foi um problema crônico, às vezes agudo, está basicamente liquidada. As contas externas, que foram em vários períodos o calcanhar-de-aquiles da economia, estão sólidas. Também não há crise fiscal à vista. As contas públicas não se mostram tão fortes quanto as externas, mas não pedem ajustamentos drásticos, de cunho recessivo".
Gargalo
"A economia possui", diz o economista, "margens expressivas de capacidade produtiva ociosa. O principal gargalo, pelo lado da oferta, é a infra-estrutura, principalmente de transportes. É compreensível, assim, a ênfase do governo na ampliação do investimento público e na execução mais rápida dos projetos nas áreas de energia e transportes. Também é válida a preocupação em reduzir tributos, especialmente sobre investimentos, uma vez que a carga tributária subiu demais no Brasil".
Paulo Nogueira indaga: "Como fica a meta de 4,25% do PIB para o superávit primário? Se o governo tentar preservá-la, o corte de impostos e o aumento dos investimentos públicos terão que ser neutralizados por uma redução de despesas correntes não-financeiras. Nesse caso, o impacto expansivo da desoneração tributária e da ampliação do investimento será contrabalançado pelo impacto contracionista da diminuição dos gastos correntes. O efeito líquido sobre o PIB tenderá a ser modesto. Por outro lado, se o superávit primário ficar muito abaixo da meta, a dívida crescerá como proporção do PIB, o que pode abalar a confiança na sustentabilidade das contas do governo".
No artigo "Destravando a economia", no jornal "Folha de S.Paulo", o economista diz que "há limites relativamente estreitos para a utilização da política fiscal como alavanca para o crescimento. A alavanca principal é outra – e está basicamente nas mãos do Banco Central. É sobretudo no campo da moeda e do crédito que se observa um excesso de restrição, com impacto negativo sobre o nível de atividade econômica".
Segundo Paulo Nogueira, "não é preciso fazer nada de extraordinário. O ritmo de diminuição da taxa básica de juro pode ser acelerado para que, ao longo de 2007, a taxa real praticada no Brasil se aproxime das que se observam no resto do mundo. A TJLP, a taxa de juro de longo prazo que vigora nos empréstimos do BNDES, também pode sofrer queda adicional, favorecendo a retomada dos investimentos. O Banco Central deve, além disso, reduzir gradualmente os compulsórios bancários de modo a aumentar a oferta de crédito e diminuir as taxas de juro nos empréstimos do sistema financeiro. Com a redução mais rápida das taxas de juro, é provável que o real sofra alguma depreciação, o que contribuirá para acelerar o crescimento do PIB e manter as contas externas ajustadas".
Lobby
"É possível mudar a política de moeda e crédito sem mudar o comando do Banco Central? Teoricamente, sim. Na prática, não. A diretoria atual do BC está muito comprometida com uma linha diferente e dificilmente se predisporá a uma mudança substancial de orientação. Aí reside a grande dificuldade, que é mais política do que econômica. A atual equipe do Banco Central tem o respaldo do lobby financeiro", afirma.
"Por outro lado, com a sua reeleição por larga margem, o presidente da República está no ápice do seu poder. Se não contrariar esse lobby agora, não o fará nunca mais", diz o economista.