Revista Istoé aponta três mortes numa semana na saída de bancos em São Paulo

Automóvel do cliente André Luis Souza, morto após saque de R$ 20 mil

A revista Istoé desta semana publica reportagem sobre a onda de crimes de “saidinha de banco”. Em menos de uma semana, esses assaltos deixaram três vítimas fatais em São Paulo.

A matéria destaca o modelo de projeto de lei municipal lançado no final do ano passado pela Contraf-CUT e Confederação Nacional dos Trabalhadores Vigilantes (CNTV), que prevê medidas para reforçar a estrutura de segurança das agências e garantir a privacidade nas operações.

Leia a íntegra da reportagem da Istoé:

O perigo na saída dos bancos

Dentro de uma agência bancária lotada, um homem que aparenta ser apenas mais um cliente observa todos a sua volta. Munido de um celular, retira uma senha, posiciona-se na fila do caixa e, disfarçadamente, monitora os saques realizados.

Minutos se passam sem que nada o atraia, até que a sorte lhe sorri. Assim que avista uma grande quantia em dinheiro sendo sacada, ele faz uma ligação. Do lado de fora, seu comparsa aguarda com ansiedade a vítima, enquanto outro ajudante fica a postos para a fuga.

A poucos passos da porta da agência terá início mais um assalto conhecido como “saidinha de banco”, modalidade de roubo cada vez mais popular no País. De 17 a 23 de fevereiro, apenas a cidade de São Paulo foi palco de quatro ocorrências desse tipo, com três vítimas fatais.

Por volta do meio-dia da quarta-feira 23, o empresário Ali Said Murad, 51 anos, foi morto a tiros em frente a um estabelecimento bancário no bairro do Sacomã, zona sul de São Paulo. Murad era irmão do deputado estadual Said Murad (PSC).

Segundo testemunhas, o administrador foi abordado por uma dupla de assaltantes quando saía da agência carregando um envelope. Dentro do pacote constavam apenas documentos e nenhuma quantia em dinheiro. Baleado nas costas, chegou a ser socorrido no Hospital Heliópolis, mas não resistiu.

No mesmo dia, a Polícia Civil identificou e prendeu o autor dos disparos. Dois dias antes, na segunda-feira 21, o mecânico André Luis Dantas de Souza, 37 anos, levou três tiros em frente a uma agência bancária na avenida Celso Garcia, na zona leste da capital paulista.

Souza aguardava dentro do carro a saída de Geni de Amorim, que acabara de sacar R$ 19.970. A mulher também foi baleada, mas passa bem. Os bandidos fugiram sem levar o dinheiro.

De acordo com a Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo, as “saidinhas de banco” são registradas como crime contra o patrimônio ou roubo qualificado, por isso não há estatísticas sobre essas ocorrências nem nos Estados nem no País. A sociedade e algumas entidades civis, no entanto, estão preocupadas com a popularização dessa modalidade de assalto.

Em novembro de 2010, a Confederação Nacional dos Vigilantes (CNTV) e a Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf) apresentaram um projeto nacional de combate a esse crime. Entre as medidas exigidas pelos sindicatos estão a implantação de câmeras na área externa dos bancos e a colocação de biombos ou divisórias separando a fila da boca dos caixas.

“Os caixas atuais oferecem privacidade zero aos clientes”, diz José Boaventura, presidente da CNTV. “E isso facilita a ação dos criminosos, que podem ver toda a movimentação financeira.”

Por enquanto, não há lei federal para coibir a “saidinha de banco” no Brasil. Alguns municípios, porém, já apresentam suas próprias iniciativas (leia quadro). No Rio de Janeiro, por exemplo, foi aprovada no ano passado uma lei que proíbe o uso de celulares dentro de agências bancárias.

Coincidência ou não, essa modalidade de crime vem diminuindo no Estado, de acordo com o Instituto de Segurança Pública do Rio de Janeiro (ISP). Em 2007, foram 2.210; em 2008, 2.236; em 2009, 2.050; em 2010, 1.721. “Mas não podemos relaxar nem achar que o jogo está ganho”, diz o coronel-geral da PM Mario Sergio Duarte. O major Marcel Soffner, da Polícia Militar de São Paulo, afirma que a proibição do uso de celular não impede a sinalização da vítima por outros meios, como a colocação de um adesivo, por exemplo.

“Por isso o cidadão tem de estar atento a qualquer encontro ou esbarrão que ocorrer dentro da agência, além de tomar medidas preventivas (leia quadro).” O Sindicato dos Bancários do Rio de Janeiro também reivindica a implantação de biombos entre os caixas e divisórias entre a fila e os caixas. “O problema é a visualização”, diz Almir Aguiar, presidente do sindicato. “Mas também é preciso colocar mais vigilantes, inclusive do lado de dentro dos caixas.”

Para a Federação Brasileira de Bancos (Febraban), as diversas leis aprovadas ou em tramitação nos municípios não possuem estudos que comprovem sua eficácia. Em comunicado à ISTOÉ, a instituição declarou que “os biombos tendem a criar pontos cegos nos quais podem ocorrer ou ter início ações indesejáveis e aos quais o vigilante não terá acesso”.

Como forma de se proteger da “saidinha” eles recomendam “evitar saques em quantias elevadas” e afirmam que “anualmente R$ 8 bilhões são gastos pelas instituições financeiras tanto em sistemas de segurança física quanto em segurança eletrônica”. Na opinião de Boaventura, da CNTV, isso não é suficiente. “Os bancos gastam fortunas para garantir a segurança do dinheiro e não das pessoas”, diz.

Compartilhe:

Compartilhar no facebook
Facebook
Compartilhar no twitter
Twitter
Compartilhar no whatsapp
WhatsApp
Compartilhar no telegram
Telegram