Não há maneira segura de usar o amianto, afirma especialista

Fernanda Giannasi (*), na Folha de São Paulo

O amianto é um mineral fibroso reconhecidamente cancerígeno para os seres humanos, segundo as mais importantes academias de ciência e entidades da área de saúde.

Uma vasta literatura médica dá sustentação à tese de que não há maneira segura de se trabalhar com ele ou utilizar produtos que o contenham, e que a melhor forma de se eliminar as doenças provocadas pela fibra mineral é o seu banimento.

Campanhas em todo mundo, apoiadas pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e pela Organização Internacional do Trabalho (OIT), buscam o fim da chamada “catástrofe sanitária do século 20”, tal a gravidade do quadro epidêmico das doenças provocadas pelo amianto.

A OMS estima que 125 milhões de trabalhadores em todo o mundo estão expostos ao amianto em seus locais de trabalho. Segundo essas estimativas, cerca de 107 mil trabalhadores morrem por ano pelas doenças relacionadas ao amianto.

Entre elas, o câncer de pulmão, o mesotelioma (tumor maligno raro e incurável, atribuído ao amianto, que leva ao óbito a maioria de suas vítimas menos de um ano após o diagnóstico) e a asbestose (enrijecimento do tecido pulmonar, que conduz à falta de ar acentuada e progressiva, podendo matar por asfixia). Uma em cada três mortes por câncer ocupacional está associada ao amianto.

Mas o amianto não é um problema só dos trabalhadores que se expõem às suas fibras microscópicas e letais. Pode atingir indistintamente os seus familiares, vizinhos de minerações e das instalações industriais onde se produz e manipula o amianto, e os consumidores de mais de 3.000 produtos à base deste mineral, como materiais de construção (telhas, caixas d´água, divisórias de cimento-amianto), produtos de fricção para veículos automotivos (freios, juntas de cabeçote) e para vedação e isolamento térmico.

A OMS vai além ao afirmar que milhares de mortes podem ser atribuídas anualmente à exposição ambiental ao amianto, ao qual todos nós estamos expostos devido às propriedades aerodinâmicas destas tênues fibras, que viajam quilômetros de distância e que podem atingir órgãos do nosso trato respiratório, principalmente pulmão e pleura, a membrana que reveste o pulmão.

Já são 66 os países que proíbem a produção e utilização de produtos à base de amianto, inclusive nossos vizinhos Argentina, Chile e Uruguai. No Brasil, cinco Estados e dezenas de municípios já têm leis que vetam a utilização do amianto, mas infelizmente nossas autoridades preferem fazer vistas grossas, não punindo os infratores, já que há fortes interesses políticos e econômicos envolvidos com a produção e utilização deste mineral.

Goiás é hoje o único Estado produtor do chamado amianto branco ou crisotila. O Brasil é o terceiro maior produtor mundial, o segundo exportador e o quarto utilizador.

Há um forte grupo parlamentar de deputados e senadores goianos, a “bancada da crisotila”, que impede sistematicamente que o debate sobre proibir a fibra cancerígena avance no Congresso. Alguns dos mais proeminentes políticos pró-amianto frequentaram recentemente o noticiário, como o ex-senador Demóstenes Torres, o deputado Carlos Leréia e o governador Marconi Perillo.

Temos plena convicção de que o banimento do é uma emergência, pois já se domina em todo o país as tecnologias livres de amianto. Custos iniciais adicionais serão compensados pela redução das despesas de diagnóstico, tratamento e indenização das vítimas e da disposição final dos resíduos perigosos gerados.

A proibição do amianto salvará o Estado de São Paulo de demitir 10.500 trabalhadores nas 170 empresas que já se adequaram à lei de proibição e que não suportarão as consequências da concorrência desleal.

(*) Fernanda Giannasi é engenheira e gerente do Programa Estadual do Amianto da Superintendência Regional do Trabalho e Emprego em São Paulo

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