Bloomberg
Christian Vits e Christopher Anstey
Os bancos da Europa deverão contabilizar como perda ? 195 bilhões (US$ 237 bilhões) de créditos podres até 2011, e sua capacidade de vender bônus poderá ficar restringida à medida em que os governos financiam déficits fiscais, disse o Banco Central Europeu (BCE).
Agora que os governos enfrentam “pesadas exigências de financiamento ao longo dos próximos anos”, existe um “risco de que a emissão de bônus de bancos seja eliminada do mercado”, disse o BCE com sede em Frankfurt, no seu semestral Relatório sobre a Estabilidade Financeira, ontem.
“O risco que isso implica para os custos de financiamento dos bancos também suscita a possibilidade de um revés para a recuperação na rentabilidade do setor bancário”.
O relatório reflete os abalos secundários de uma crise financeira global que produziu mais de US$ 1,7 trilhão em baixas contábeis e prejuízos com crédito desde o começo de 2007.
Na Europa, os governos aumentaram suas captações de recursos para capitalizar resgates de bancos e programas de incentivo visando arrastar a economia para fora da recessão. Agora eles estão tentando encolher déficits orçamentários mais salientes que desencadearam uma crise na dívida soberana.
“Pode-se esperar que as medidas de consolidação tenham algum impacto negativo de curto prazo sobre o crescimento e o nível de emprego”, disse o vice-presidente do BCE, Lucas Papademos, cujo mandato terminou ontem, em comunicado à imprensa para discutir o relatório. Mesmo assim, “não penso que devamos ser pessimistas demais a respeito do impacto sobre o desempenho econômico”, ele disse.
O BCE lançou neste mês um programa de compra de bônus sem precedentes, na tentativa de acalmar os temores de que alguns países da zona do euro não consigam colocar as suas finanças sob controle.
A moeda comum se enfraqueceu ontem, descendo ao seu nível mais baixo contra o dólar desde 14 de abril de 2006, alimentando especulações de que o banco central queira “depreciar o euro para ajudar a impulsionar as exportações e estimular alguma inflação”, de acordo com Mehernosh Engineer, analista de crédito do BNP Paribas em Londres.
O déficit orçamentário da Grécia, de 13,6% do PIB, é o segundo mais alto na zona do euro depois do déficit de 14,3% da Islândia. A Comissão Europeia espera que a zona do euro como um todo registre um déficit de receita de 5,6% nesse ano, mais que o dobro do limite de déficit da União Europeia.
“O legado para o período adiante é a restrição considerável do espaço para manobras de política fiscal no futuro, caso outro episódio de risco sistêmico se materializar”, disse o BCE, no relatório de ontem.
A rentabilidade no setor bancário permanecerá “modesta” ao longo do curto ao médio prazo, “dada a perspectiva de prejuízos prolongados com empréstimos, a pressão constante sobre o setor para reduzir alavancagem e expectativas de mercado de custos de captação de recursos mais altos”, disse o BCE.
“Novas estimativas indicam que os prejuízos com empréstimos provavelmente serão maiores em 2010 do que foram em 2009 e perdas vultosas também são esperadas para 2011”.