Juros são os maiores em 20 meses, apesar do recorde no volume de crédito

Os juros cobrados pelos bancos subiram nas principais modalidades de crédito para pessoa física no mês de julho, atingindo a maior taxa média desde janeiro de 2007 (51,4% hoje, contra 49,1%), apesar de o volume de crédito ter atingido o recorde de R$ 1,086 trilhão, o que representa 37% do Produto Interno do Bruto (PIB).

Segundo a pesquisa mensal de juros do Banco Central divulgada nesta segunda-feira 25, os juros médios cobrados pelo sistema financeiro somaram 39,4% ao ano – os mais elevados desde janeiro de 2007, quando atingiu 39,9% ao ano. Subiram 5,6% somente em 2008. No cheque especial, a taxa de juros subiu de 159,1% para 162,7% entre junho e julho deste ano. É a maior taxa desde agosto de 2003, quando era de 163,9% ao ano. O recorde é de 294% ao ano, registrado em julho de 1994.

No crédito para pessoas físicas, o aumento mais expressivo continua sendo na modalidade financiamento imobiliário, que cresceu 83,0%, alcançando R$ 3,067 bilhões, contra R$ 1,676 em julho de 2007. O financiamento por meio de cartão de crédito cresceu 26,8%. O crédito consignado continua em expansão, mas num ritmo menor (25,0%). No crédito para empresas, o carro-chefe tem sido o capital de giro, com crescimento de 82,9%.

Mais ganho com spread

Na avaliação da economista Ana Quitéria, da subseção do Dieese no Sindicato dos Bancários de Brasília, o spread (diferença entre a taxa de captação e de empréstimo) bancário de pessoa física iniciou uma trajetória de alta desde junho último. No ano, o spread pessoa física já acumula uma alta de 4,7%. Após alcançar o valor mínimo de 31,9% em dezembro de 2007, esse indicador subiu para 36,6% agora em julho. O spread para pessoa jurídica registrou uma elevação menor, de 2,6% no período.

Para a economista do Dieese, a recente trajetória de alta do spread representa uma mudança de rumo em relação à tendência de queda observada durante o ano de 2007. Aquela tendência era resultado da evolução de queda da taxa Selic, que ficou congelada em 11,25% desde setembro de 2007. Passando a subir a partir de abril de 2008.

No entanto, segundo o relatório do Banco Central, a taxa de captação dos bancos registrou um aumento de 2,8% em 2008, enquanto a taxa média de juros para pessoas físicas registrou um aumento de 7,5%, alcançando 51,4% ao ano – a maior desde janeiro de 2007.

“Ou seja, enquanto o custo médio de captação dos bancos aumentou 2,8%, o custo médio de empréstimos para o cliente pessoa física dos bancos aumentou 7,5%. Esse aumento do spread de 4,7% vai muito além da elevação da taxa Selic, o motivo alegado pelos bancos para elevar os juros”, avalia Carlos Cordeiro, secretário-geral da Contraf/CUT. “Isso tem um nome: concentração da riqueza via espoliação da sociedade pelos bancos.”

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