A Qualy Services, que fornece mão de obra para serviços de limpeza para Itaú e Santander no Rio de Janeiro, está precarizando a situação de seus empregados a níveis alarmantes. Os salários nem sempre são pagos em dia – devem ser creditados até o quinto dia útil do mês – e a empresa está parcelando ao longo do mês os repasses dos vales-transporte e tíquetes refeição. A informação chegou através de denúncias que vêm sendo encaminhadas ao Sindicato dos Bancários do Rio de Janeiro desde maio.
A reportagem da Federação dos Bancários do Rio e Espírito Santo visitou agências no centro da cidade e conversou com algumas funcionárias, que relataram a situação difícil. Uma trabalhadora informou que chegou a receber seu salário somente no dia 14, apesar do contracheque trazer a data correta do crédito.
Os tíquetes atrasados obrigam os bancários a levarem lanches de casa. Os problemas com vale-transporte são sérios e é comum os trabalhadores deixarem de cumprir expediente, quando os cartões ficam zerados, já que muitos não têm condições de pagar do bolso o valor das passagens. “Nós já recolhemos entre nós o dinheiro para a passagem da tia para que ela pudesse vir trabalhar”, relata um gestor do Itaú.
“Às vezes, eles dizem que é só a gente ir na Fetranspor (federação das empresas de ônibus) para carregar o cartão do vale. Mas como a gente vai até a Fetranspor sem dinheiro para a passagem? Na semana passada eu fui, mas tive que pagar do meu bolso. A minha colega não tinha dinheiro e acabou tendo que ficar em casa”, contou uma copeira do Santander.
Com os tíquetes refeição, o pagamento também tem muitos problemas. “Nós já tivemos tíquetes de papel por um tempo e também chegamos a ter tíquetes de cartão, mas isso durou só uns dois meses. Depois, passamos a receber em dinheiro, mas o pagamento não tem dia certo. Teve semana em que o supervisor teve que vir à agência para dar o dinheiro do tíquete”, relata uma copeira do Santander.
Os atrasos no pagamento dos benefícios e até de salários são comuns. Em 2011, a situação chegou a ficar difícil, mas no final do ano foi regularizada – embora o 13º salário tenha sido pago depois da data definida em lei. Em 2012, os atrasos recomeçaram até que a empresa adotou o pagamento parcelado, repassando os valores aos poucos ao longo do mês.
A Qualy Services informou à diretora do Sindicato dos Bancários do Rio, Sandra Cipriani, que teria apelado para o pagamento parcelado dos tíquetes e vales depois de um acordo feito através do SEEACMRJ, o Sindicato dos Trabalhadores em Asseio e Conservação. Mas Sandra entrou em contato com o SEEACMRJ e foi informada de que esse acordo nunca existiu.
Já os bancos estão a par da situação, uma vez que há gestores que comunicam o problema. “Uma gerente do Santander me falou que abriu chamado sobre este assunto mais de uma vez e que, depois disso, a situação melhorou temporariamente. Deve ser por isso que há agências com menos problemas que outras. De qualquer maneira, o banco não pode dizer que não sabia de nada”, explica Luiza Mendes, diretora da Federação.
Pagar para sair
Como se fosse pouco, há denúncias de que a empresa não vem recolhendo corretamente os valores de INSS e FGTS dos empregados. E, para piorar, cobra dos empregados que querem se demitir uma taxa proporcional ao saldo do FGTS.
“Uma colega não aguentou mais e pediu para sair em dezembro. Cobraram R$ 2 mil dela. De uma outra cobraram menos, R$ 300, porque ela tinha menos tempo de empresa. Com todo mundo é assim. Eu quero sair, mas só vou pedir demissão se me pagarem tudo”, revela uma funcionária da Qualy, lotada numa agência do Santander.
O Itaú e o Santander não dão a menor importância à situação. Nas agências, contornar o problema depende da relação entre os terceirizados e os bancários e as soluções são paliativas, com pequenos empréstimos e “vaquinhas” para ajudar. Mas, como tomadores do serviço, os dois bancos são obrigados a assumir a responsabilidade solidária, já reconhecida por tribunais trabalhistas de todo o Brasil em várias situações.
“As diretorias dos dois bancos deviam dar maior importância aos funcionários da limpeza. Afinal, são esses trabalhadores e trabalhadoras que mantêm o ambiente saudável e apresentável para os bancários e clientes. Uma empresa que se pretende socialmente responsável e sustentável deve garantir que seus fornecedores cumpram as leis e respeitem seus funcionários. Mas o que é dito nas propagandas não acontece na agência”, critica Luiza.