Terceirizada do Banco do Brasil atrasa salários em São Paulo e Curitiba

É cada vez mais recorrente o desrespeito a direitos básicos dos trabalhadores de empresas prestadoras de serviços contratadas pelo Banco do Brasil. A denúncia desta vez parte de empregados da Adventure Tecnologia e Soluções Corporativas em São Paulo e Curitiba. Trata-se de uma empresa que oferece serviço de prospecção de microcrédito.

São Paulo

Um trabalhador da Adventure procurou o Sindicato dos Bancários de São Paulo afirmando que está sem receber salário desde 28 de fevereiro e os vales transporte e de alimentação.

De acordo com o funcionário do BB e diretor executivo do Sindicato, Ernesto Izumi, esse tipo de problema só ocorre devido à direção da instituição financeira insistir de forma equivocada na política de terceirizar serviços. “Frequentemente recebemos queixas de trabalhadores que ficam sem salários e outros direitos por conta de calote das empresas terceirizadas. E em todas as situações reivindicamos que o banco interfira na situação por ser corresponsável pela contratação dessas firmas e faremos o mesmo nesse caso”, diz.

O dirigente sindical reforça ainda que a manutenção da terceirização prejudica tanto os empregados dessas empresas quanto as pessoas que passaram no concurso e aguardam chamada para ingressar na instituição financeira. “Existe longa fila de espera de pessoas para ingressar no BB, a terceirização apenas protela esse chamado. Além disso, os clientes da instituição financeira também têm seu sigilo bancário em risco. Por isso, vamos continuar lutando para que o banco mude essa política que apenas precariza direitos dos trabalhadores.”

Curitiba

Duas funcionárias procuraram o Sindicato dos Bancários de Curitiba e região e contaram o que viram acontecer nestes últimos meses. As duas foram contratadas em janeiro e não receberam, até agora, nem salário e nem outros direitos.

As duas trabalhadoras terceirizadas já trabalhavam em outras empresas que oferecem o mesmo tipo de serviço, também para o BB. Uma das empregadas, que era comissionada, resolveu abandonar a empresa anterior, a terceirizada Saura, porque não vinha recebendo suas comissões na íntegra e viu uma boa oportunidade na Adventure, achando que seria mais valorizada.

Logo que foram contratadas, suas carteiras de trabalho foram repassadas à representante da Adventure no Paraná, que deveria encaminhá-las à Bahia, onde fica a sede da empresa. “Mas nem a representante tinha dinheiro para pagar os Correios e enviar para lá. As carteiras ficaram paradas por 45 dias”, contam as trabalhadoras.

A primeira justificativa que a Adventure deu foi em fevereiro, quando as funcionárias deveriam receber o proporcional ao trabalhado no mês de janeiro. De acordo com a representante da Adventure no Paraná, a demora no processo de assinatura da carteira de trabalho impossibilitou esse primeiro pagamento. A representante informou que o pagamento seria feito, retroativo, no 5º dia útil de março, com todas as verbas e benefícios.

“Trabalhamos o final de janeiro e o mês inteiro de fevereiro sem vale-transporte e sem vale-refeição, mas com a esperança de que todos os pagamentos seriam feitos no começo de março”, lembram.

Porém, não foi isso que aconteceu e no 5º dia útil de março, foram informadas que o pagamento seria creditado apenas no dia 12 do mês. A partir daí, as funcionárias começaram a ligar para a representante da empresa, que não as atendeu mais. Elas contam que chegaram a ouvir de um gerente do BB: “Vocês não têm contas para pagar, podem trabalhar de graça”.

No dia 15 de março, elas decidiram que não iriam mais para a agência e procuraram o Sindicato. “Nós não tínhamos nem dinheiro para ir, já que não recebemos nosso vale-transporte. Desde então, ninguém nos procurou para dar qualquer explicação ou fazer qualquer cobrança”, ressaltam.

De acordo com elas, o trabalho consistia em prospectar clientes para contratar o serviço de microcrédito. Isso era feito por telefone e na sala de autoatendimento, no caso de correntistas, ou então na rua, onde elas buscavam novos clientes. “Quando eram bairros mais afastados, eles nos davam um valor para pagar o táxi, mas na maioria das vezes nós tínhamos que ir a pé”, conta uma delas.

A meta que era passada para elas era a meta da agência, a ser cumprida pelos bancários, e elas tinham de cumpri-la não em 100%, mas em 110%. “Logo no início do contrato, já disseram que se não atingíssemos a meta seríamos demitidas”, afirmam. A meta era contada por número de contratos.

Não bastasse a pressão, o assédio moral e a falta de pagamento, os empregados terceirizados recebiam orientação para alterar o cadastro de clientes, com objetivo de conceder créditos maiores. “No cadastro, todo mundo ganhava R$ 1.600,00, que é a renda máxima para conseguir um microcrédito. Desta forma, uma pessoa que ganhasse menos, tinha o cadastro alterado e para conseguir um valor maior de crédito”, denunciam.

“É um absurdo que este tipo de coisa aconteça. Além da ilegalidade, a atitude tem reflexos econômicos e influencia no aumento da inadimplência”, avalia Alessandro Garcia, o Vovô, diretor do Sindicato e funcionário do BB.

O Sindicato entrou em contato com a Superintendência do Banco do Brasil, que informou que havia feito o repasse do dinheiro de pagamento dos terceirizados e a empresa que não cumpriu com sua parte. “O estranho, que também foi informado pelo Ministério do Trabalho, é que o Banco do Brasil já havia contratado a Adventure em outro momento e também teve problemas deste tipo. O banco já conhecia a empresa, por que voltou a contratar?”, questiona André Machado, diretor do Sindicato e funcionário do BB.

Em seguida, o BB informou que metade dos funcionários da Adventure foi paga e que as duas funcionárias receberiam no dia 25 de março, o que também não aconteceu.

O último informe da Superintendência do BB é que o pagamento será feito, mas ainda não sabem informar o prazo.

A Adventure possui 205 empregados no Paraná. O Sindicato já recebeu denúncias de outros funcionários da empresa que também não recebem há meses e continuam trabalhando.

“Este é mais um caso que demonstra claramente como a terceirização vem acompanhada da precarização. Os terceirizados desempenham o mesmo trabalho dos bancários, não recebem o mesmo salário, isso quando são pagos!”, comenta André.

É a segunda empresa terceirizada pelo BB que, em seis meses, deixa de pagar seus funcionários. No final de 2012, a empresa Alerta, responsável pela segurança, deu um grande calote nos vigilantes.
“A terceirização é uma fraude e é inadmissível que um banco público, como o Banco do Brasil, compactue com este tipo ainda mais predatório de relação trabalhista”, avalia o dirigente sindical.

O Brasil possui cerca de 30 milhões de trabalhadores terceirizados, com contratos precários e a grande maioria sob as mais perversas condições de trabalho.

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