Moody’s rebaixa dívida da Espanha e cita fragilidade dos bancos do país

Bloomberg News
Patrick Jenkins e Victor Mallet

A solidez, ou fragilidade, do setor bancário espanhol assumiu o centro do palco novamente ontem quando as agências de classificação de crédito bateram de frente com os reguladores espanhóis sobre a escassez de capital nos bancos.

Após vários meses de relativa calma no sistema bancário espanhol, a Moody’s rebaixou a dívida soberana do país em um nível, para “Aa2”, citando a fragilidade dos bancos de poupança espanhóis, ou “cajas”, como a principal razão.

“As agências de classificação de crédito acreditam haver um risco significativo de que o eventual custo do esforço de recapitalização pode exceder consideravelmente as projeções atuais do governo”, escreveu a agência Moody’s.

O custo de recapitalização das “cajas”, segundo a Moody’s, “provavelmente ficará mais perto de ? 40 bilhões a 50 bilhões (US$ 55 bilhões a US$ 70 bilhões) e num cenário mais estressado poderá aumentar para cerca de ? 110 bilhões a 120 bilhões.

A Fitch divulgou um relatório identificando um déficit de capital no setor bancário espanhol como um todo, que varia de um cenário básico de ? 38 bilhões (US$ 52,4 bilhões), com mais de metade desse montante nas “cajas”, a ? 97 bilhões num cenário semelhante ao que afligiu a Irlanda.

Os números, corroborados por analistas bancários, são todos maiores do que nas declarações do próprio Banco da Espanha, de que as “cajas” necessitam, reunidas, um total inferior a ? 20 bilhões, e que parte, se não todo esse dinheiro, estaria potencialmente disponível no setor privado.

Nisso, também, a Moody’s discorda. “Não estamos assumindo nada em termos de investimento privado”, disse Kathrin Muehlbronner, autora do relatório da Moody’s, ao Financial Times.

O Banco de Espanha tentou resolver a polêmica, na noite de quinta-feira, divulgando uma avaliação, banco a banco, de quanto cada instituição precisa captar para cumprir as novas proporções de capital.

A Espanha exigiu que os bancos elevem sua proporção básica de capital para um mínimo de 8% no caso de bancos listados em bolsa e em 10% para “cajas” não negociadas em bolsa.

O Banco da Espanha disse que, para cumprir os níveis exigidos de capital, 12 bancos, oito deles “cajas”, precisam reforçar seu capital em um montante combinado de ? 15,15 bilhões para cumprir os pisos. O Bankia – constituído pela fusão da Caja Madrid e seis outros bancos de poupança – tem o maior “déficit”, ? 5,8 bilhões, seguido pela Novacaixagalicia (? 2,6 bilhões), Caixa Catalunya (? 1,7 bilhão) e Banco Base (? 1,5 bilhão).

O Bankia – sob a presidência de Rodrigo Rato, ex-ministro das Finanças espanhol e diretor geral do FMI – insistiu na quinta-feira que o déficit relevante de capital é de apenas ? 1,79 bilhão, porque planeja listar suas ações e, portanto, necessita uma razão básica de capital de apenas 8%.

O único banco espanhol com ações em bolsa e um déficit significativo em relação às exigências de capital é o Bankinter (? 333 milhões), embora tenha anunciado nesta semana planejar a emissão de ? 406 milhões em obrigações conversíveis.

Em sua maioria, os analistas ignoraram a insistência das autoridades em que o déficit de capital é muito menor do que acredita o mercado. “Não é, realmente, uma discussão que eles possam vencer”, disse Daragh Quinn, da Nomura. “Em última instância, tudo se resume no valor dos terrenos na Espanha. Se as pessoas no mercado acham que seus números estão errados, não faz realmente diferença o que você diga.”

Existe um amplo consenso de que o nervosismo nos mercados imobiliários, que tem persistido desde o estouro da enorme bolha imobiliária espanhola, definirá a rentabilidade e a solidez financeira do setor bancário espanhol, com exceção do Santander e do BBVA, cujas operações internacionais geram lucros.

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