FSM: Lula defende maior regulação do mercado financeiro

Eduardo Bresciani
Do G1, em Belém

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez críticas nesta quinta-feira (29) aos países ricos e a órgãos econômicos como o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial. Lula lembrou que nas crises anteriores os países ricos e estes organismos obrigavam os países em desenvolvimento a aceitar cortes de gastos e redução de investimentos. Lula participa do Fórum Social Mundial, em Belém, junto com presidentes de quatro países da América do Sul.

“Parecia que eles eram infalíveis e nós éramos incompetentes. Está provado que Deus escreve certo por linhas tortas. A crise não é nossa. É deles. A crise não nasceu por causa do socialismo bolivariano do Hugo Chavez. Não nasceu das brigas do Evo Morales. A crise nasceu porque durante os anos 80 e 90, ao estabelecerem a lógica do consenso de Washington, eles venderam a lógica de que o Estado não prestava pra nada e que o ‘deus mercado’ ia desenvolver o país e fazer justiça social. Esse ‘deus mercado’ quebrou por falta de controle, por causa da especulação”, disse Lula.

O presidente foi irônico ao se referir ao FMI dizendo que o órgão deveria mostrar aos países desenvolvidos como resolver a crise financeira internacional.

“Espero que o FMI diga ao querido Barack Obama como tem de consertar a economia. Diga à Alemanha como tem de resolver, ao Nicolas Sarkozy, ao Sílvio Berlusconi como vão cuidar das crises que eles criaram”, afirmou o presidente.

Lula lembrou ainda que agora os estados estão sendo chamados pelo mercado para resolver a crise econômica. ” A qual deus eles pediram socorro? Ao estado. O estado que não prestava está colocando bilhões de dólares, bilhões de euros para tentar recuperar a economia. Trilhões de dólares desapareceram e os banqueiros que davam palpite, que mediam o risco dos nossos países, diziam se a gente estava bem ou mal, fecharam a boca porque quebraram por pura especulação”.

Bush e Doha

O presidente brasileiro destacou que a crise “é grave”, mas que os países em desenvolvimento são os que apresentam melhores condições para superá-la. Ele disse ter conversado com o presidente George W. Bush, ainda no final de seu mandato, sobre a Rodada Doha e sugeriu ao colega norte-americano que seria importante colocar essa negociação da Organização Mundial do Comércio (OMC) na sua biografia antes de passar o posto para o Obama, mas Bush não atendeu ao apelo.

“Por causa de uma pequena divergência com a Índia, ele saiu do governo com a guerra do Iraque, o não-acordo comercial e a pior crise econômica dos últimos tempos. Simplesmente porque estas pessoas não têm sensibilidade”, afirmou Lula.

O presidente defendeu ainda que a reunião do G20 marcada para abril em Londres dê passos na regulamentação do sistema financeira e que haja elos com a produção. “A crise é uma oportunidade para a gente construir algo diferente, para a gente discutir o mercado financeiro, que não pode estar descolado do setor produtivo”.

Lula defendeu ainda que os países desenvolvidos ajudem os setores produtivos, e não apenas ao mercado financeiro. Ele garantiu que, no Brasil, o povo será protegido da crise. “Até agora, eles só cuidaram dos banqueiros. Aqui neste país, eu tenho dito, o povo pobre não sera o pagador desta crise, não vai ter sua vida piorada por conta da irresponsabilidade dos banqueiros”.

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