Metas abusivas provocam doenças físicas e mentais, alerta psiquiatra carioca

Rede de Comunicação dos Bancários
Gisele Coutinho/Seeb-SP e Nicolau Soares/Contraf-CUT

Na lista dos assuntos indicados pelos sete mil bancários que responderam à consulta que indicou as prioridades para a Campanha Nacional 2008 está o fim das metas abusivas, assunto diretamente ligado à saúde dos trabalhadores e discutido no primeiro dia da Conferência Nacional dos Bancários.

Sílvia Jardim, doutora em psiquiatria e pesquisadora do programa Organização do Trabalho e Saúde Mental (OTSAM) do Rio de Janeiro apresentou um painel sobre a saúde do trabalhador e relacionou doenças como LER/Dort e transtornos mentais às metas abusivas impostas pelas instituições financeiras.

A médica respondeu perguntas de dirigentes sindicais de todo o país, que participaram em peso do debate. Silvia falou de problemas causados pela sobrecarga de trabalho aos funcionários, ressaltando que o esgotamento físico e emocional baixa a auto-estima e causa adoecimento.

A pesquisadora ressaltou que o trabalho é uma dimensão importante na constituição da identidade do ser humano. Dessa forma, quando ele se torna fonte de sofrimento, as conseqüências são muito negativas. “O ato de trabalhar implica nas relações que estabelecemos, nos nossos valores. Por isso, o modo como meu trabalho é organizado é muito importante. Passamos a maior parte de nossa vida acordada no ambiente de trabalho”, afirmou.

Para ela, um fator crítico no aumento das doenças psicológicas foram as mudanças recentes na forma de organização das empresas, com reduções drásticas no número de funcionários e concentração de responsabilidades e funções, aumentando a carga de trabalho e a pressão. No caso dos bancários, uma das “novidades gerenciais” foi a política de remuneração por metas, que aumentaram ainda mais o estresse dos funcionários. “É necessário discutir o modo de produção do banco, a forma como é organizado o trabalho do bancário. Além disso, é preciso tratar coletivamente a prevenção, por meio de um mecanismo como o Nexo Técnico Epidemiológico [que estabelece a relação de nexo causal entre uma determinada doença e uma ocupação], e punir as empresas”, sustenta.

A médica elogiou a atuação do movimento sindical e parabenizou os bancários que se reuniram neste primeiro dia de conferência para discutir a saúde da categoria. “A sociedade em geral não pensa nessas questões. O movimento sindical deve continuar fazendo esta provocação e debate”, disse. “A vida do trabalhador vale muito mais do que dinheiro. A prevenção e a reabilitação dos funcionários que adoecem no local de trabalho deve ser uma meta dos bancos”, completa.

Par Plínio Pavão, secretário de Saúde da Contraf/CUT, a apresentação enriqueceu o debate que será realizado a respeito das demandas da área a serem incluídas na minuta de reivindicações. “Esse é um dos debates mais importantes para os bancários hoje. Modificar a forma de organização das empresas é uma tarefa difícil que precisará de muita mobilização e luta”, afirma.

O debate sobre saúde continua na tarde desta sexta-feira com a definição de eixos e formas de mobilização durante a campanha e debate sobre as cláusulas de saúde. Também haverá a apresentação do projeto Saúde Sentinela, da empresa Saad Representações.

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