Na primeira ação internacional conjunta na atual crise, o Banco Central Europeu (BCE) e o Federal Reserve dos EUA, acompanhados pelo Banco Nacional Suíço, o Banco da Inglaterra e o Banco do Japão, foram praticamente forçados a dar juntos liquidez em dólar para o mercado. A iniciativa foi necessária diante do agravamento recente da crise financeira europeia por falta de “funding” na moeda americana, deixando bancos e empresas apreensivos.
A ação conjunta teve imediato impacto positivo nos mercados ontem. Ainda assim, para certos analistas, o que os BCs fizeram foi comprar tempo para os políticos tentarem uma solução para a crise da dívida soberana, causa central do problema.
Bancos europeus perderam acesso a mais de US$ 700 bilhões de “funding” de curto prazo nos EUA desde o ano passado. Fundos de “money market” americanos, principalmente, cortaram fortemente o crédito a bancos de vários países europeus com maior exposição nas economias em turbulência da zona euro.
A tensão aumentou na quarta-feira, diante da incapacidade de instituições europeias conseguirem mais dólares para empréstimos a seus clientes nos EUA ou para pagar de volta empréstimos feitos na moeda americana, como justamente os créditos fornecidos pelos fundos de money market. Grandes companhias teriam começado a procurar bancos fora da zona euro em busca de empréstimos.
Na quarta-feira, o Banco Central Europeu forneceu crédito de US$ 575 milhões por sete dias para um banco, via o Federal Reserve, ao custo de 1,19%. O montante é pequeno, comparado ao que foi emprestado em maio de 2010, que chegou a US$ 9 bilhões e sobretudo aos US$ 334 bilhões de novembro de 2008. Só que no cenário atual de pouca liquidez em dólar, a notícia causou mais tensão.
Acesso limitado, e cada vez mais caro aos mercados de funding em dólar, tem sido um desafio no curto prazo para os bancos europeus. Daí um certo alívio no mercado com a ação conjunta dos BCs.
Com isso, os bancos vão poder obter funding quanto for necessário, desde que tenham suficiente colateral (garantia). A expectativa é de que bancos dos principais países da zona euro evitem recorrer a essas operações, mas querem ter o acesso no caso de uma crise mais forte se materializar.
“A medida não resolve a questão central em torno da sustentabilidade da dívida e solvência dos bancos europeus causadas pela crise não resolvida da dívida soberana”, avalia Michael Symonds, do Daiwa Capital, de Londres. Ele e alguns outros analistas acham que os BCs compram tempo para os políticos. Pelo momento, o mercado espera para ver se os mercados de funding mostrarão sinais de vida.