Após mais de 2 meses sem ver a luz do sol, foi resgatado o primeiro dos 33 mineiros chilenos que permaneceram presos a 700 metros de profundidade após um desabamento na mina de San Jose a 800 km de Santiago, capital chilena.
A mídia do mundo inteiro criou uma expectativa sobre o processo de resgate dos mineiros, dando detalhes de sua alimentação, dos movimentos que tentaram manter, do estado de ânimo e da esperança dos familiares na alta tecnologia empregada para o resgate dos trabalhadores.
O mundo todo acompanha em tempo real o resgate de cada um. Fala-se sobre as eventuais mudanças de comportamento que eles podem ter após essa vivência.
Trata-se realmente de uma possibilidade muito concreta de transtornos mentais como o estresse pós-traumático que ocorre após “eventos traumatizantes” como esse e que trazem incapacidade e sofrimento aos adoecidos e suas famílias.
Mas o que se falou pouco foi sobre as condições de trabalho desses mineiros. No mesmo país e neste ano, 31 não tiveram a mesma sorte. Morreram em 28 acidentes de trabalho. De 1990 a 2005, 742 trabalhadores perderam a vida em 650 a acidentes debaixo da terra.
Os mineiros do Chile trabalham em condições precarizadas, sem direitos trabalhistas básicos dentre outros direitos sociais e boa parte pertence ao mercado informal.
Enfrentam diariamente péssimas condições de trabalho, entre as quais locais debaixo da terra sem ventilação, temperaturas desconfortáveis, umidade, riscos de soterramentos, de incêndio, de explosões.
Essas condições são conhecidas há séculos e denunciadas à exaustão, sem que haja providências de mudanças para proteger a vida e a saúde dos trabalhadores e do meio ambiente. Infelizmente não é realidade apenas do Chile. É realidade em vários outros países, incluindo o Brasil.
Os sindicatos devem aproveitar esse evento que agora chama a atenção do mundo todo, antes que as luzes se apaguem em busca de outro espetáculo, para pressionar o poder público e as empresas a mudarem as condições de trabalho dos mineiros.
O desenvolvimento tecnológico utilizado para a exploração dos metais de forma cada vez mais efetiva tem que servir também para proteger o meio ambiente e os trabalhadores desse setor.
Maria Maeno é médica sanitarista, mestre em saúde pública pela Faculdade de Saúde Pública da USP e pesquisadora da Fundacentro