Multidão lotou totalmente a Puerta del Sol, no centro de Madri
Neste sábado (31), a direção do Podemos transformou a mobilização convocada em Madri em um comício – que reuniu uma multidão – para tentar consolidar uma de suas principais mensagens políticas: “A mudança é possível”.
Pablo Iglesias, Íñigo Errejón, Carolina Bescansa, Juan Carlos Monedero, Irene Montero e Luis Alegre discursaram aos milhares de cidadãos que lotavam a Puerta del Sol depois de um percurso de menos de um quilômetro entre a Praça de Cibeles e a praça que reunia os simpatizantes das mobilizações de 15 de maio, em 2011. Não obstante, o ambiente da chamada Marcha da mudança foi menos festivo e mais político do que aquelas mobilizações de 2011. A indignação e a indigestão foram duas das notas dominantes.
Iglesias fez um discurso próprio de um comício, com os olhos voltados para as urnas, reivindicando o direito ao sonho quixotesco. “Hoje sonhamos para tornar o nosso sonho realidade em 2015. Neste ano começamos algo novo, este ano é o ano da mudança e vamos derrotar o PP nas eleições”, proclamou antes de citar o exemplo de Alexis Tsipras, líder do Syriza e ganhador das eleições gregas no domingo.
O secretário-geral do Podemos apelou ao patriotismo. “Alguns dizem que a Espanha é uma marca, acreditam que se pode comprar e vender. Malditos sejam os que querem converter nossa cultura em mercadoria”, enfatizou. “Somos um país de cidadãos, sonhamos como Quixote, mas levamos muito a sério os nossos sonhos”, acrescentou.
“A soberania não está em Davos”, continuou Iglesias para contrapor os capitalistas que “viajam de jato” aos despejados, doentes de hepatite C, yayoflautas [idosos que tomam parte nas lutas sociais nestes tempos de crise], extorquidos pelas fraudes bancárias e outros grupos que sofreram de forma especial as agruras da crise. “Quiseram humilhar o nosso país com essa fraude que chamam austeridade”, indicou quando defendeu “realizar um plano de resgate cidadão”.
Ele também abordou o problema da corrupção, um fenômeno que não restringiu a quem põe a mão no dinheiro: “Corrupção é que a parcela 1% mais rica tenha o mesmo de 73% dos espanhóis”, e que desde que começou a crise “o número de ricos cresceu no mesmo ritmo que o dos cidadãos em risco de pobreza”.
Íñigo Errejón, número dois da formação, resumiu a filosofia da marcha. “Protestamos muito sem que ninguém escutasse. Viemos festejar que no ano de 2015 a população recuperará a soberania e a população recuperará o nosso país”. A ideia era que os cidadãos fossem os protagonistas, e por esta razão os líderes do partido não lideraram a manifestação. Mas o peso político das mensagens lançadas centrou as atenções no palco.
Juan Carlos Monedero, responsável pelo programa do Podemos, exortou a romper “os cadeados da velha política” e se dirigiu aos simpatizantes. “A democracia não foi trazida pelo Rei, não foi trazida por [Adolfo] Suárez, não foi trazida por [Manuel] Fraga, foram vocês que a trouxeram. É preciso resgatar as pessoas, não os bancos. Temos a prova de que este povo está acordado”, clamou.
O Podemos mede suas forças nas ruas de Madri com a mobilização “por mudanças” que tenta ser o primeiro marco do partido de Pablo Iglesias em um ano eleitoral que começa em 22 de março com as eleições autônomas da Andaluzia. No ato com o que se encerrou a marcha, Iglesias destacou que chegou o momento da “mudança, porque a mudança é democracia” e deu como exemplo a Grécia: “Que fez mais em seis dias” que os Governos que até agora haviam na Europa durante os últimos seis anos.
Bandeiras republicanas e gregas, e cartazes nos quais se podiam ler frases como “Políticos, o povo está acordando” ou “Seu tempo está acabando, PSOE” eram erguidos pelos manifestantes, que também faziam coro para gritar “Agora é hora”, o lema principal da marcha. Outro lema bastante escutado foi “Tic, tac”, uma referência à contagem regressiva até uma possível mudança de Governo. Na Puerta del Sol, vários manifestantes seguravam letras gigantes que, juntas, formavam as palavras “povo” e “democracia”.
Mais de 260 ônibus viajaram a Madri financiados pelos simpatizantes com a ajuda de um crowdfunding específico que, até sexta-feira à noite, tinha recolhido 4.600 euros (cerca de 13.700 reais), segundo a organização. Aproximadamente 100 membros das assembleias regionais ofereceram também seus carros particulares para se deslocarem até a capital para participar do que Iglesias chamou de “acontecimento histórico” ao convocar a marcha.
Anunciada semanas depois da constituição do Podemos como um partido político organizado, a passeata não teve nenhum objetivo instrumental declarado. Não é um protesto nem foi convocada para pedir algo concreto ao Governo. A direção do partido convidou cidadãos, simpatizantes e membros de outras organizações políticas a se manifestarem para demonstrar que a mudança política é possível.