Valor Econômico
Roberta Campassi e Catherine Vieira, de São Paulo e do Rio
A Previ, fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil, vai encerrar 2008 sem conseguir solucionar dois imbróglios da sua carteira de investimentos no ramo hoteleiro: o complexo turístico Costa do Sauípe, na Bahia, e o hotel Le Méridien, no Rio.
O primeiro deles, mais complicado, tem no momento uma proposta de compra de um grupo espanhol em fase de análise e diligência, cujo prazo de exclusividade termina no início de janeiro, segundo apurou o Valor.
O Le Méridien, um ativo mais cobiçado, recebeu doze propostas no último dia 12 – projetos de compra, arrendamento ou contrato de administração – que estão sendo analisadas, mas o resultado final do processo não deve ser conhecido antes de fevereiro.
De acordo com interlocutores, quem negocia a compra de Sauípe com a Previ é a Quail, empresa espanhola especializada em cruzeiros marítimos que tem entre seus acionistas, com 17% de participação, o grupo espanhol de turismo Globalia. O prazo para o fim da negociação teve que ser estendido e termina no começo de janeiro. Até lá, a proposta poderá ser mantida e efetivada ou volta-se a estaca zero.
Essa foi a oferta que sobreviveu desde o início do processo de venda, em junho deste ano. Mas há no mercado quem esteja cético sobre a possibilidade de ela vingar, uma vez que a crise financeira internacional secou inúmeras fontes de recursos.
O grupo espanhol havia iniciado as negociações em meados do ano, mas elas foram interrompidas quando a SuperClubs, que opera um dos cinco hotéis de Sauípe, exerceu o direito de preferência de compra por ser locatária. A SuperClubs havia se unido ao empresário Enrique Bañuelos, também espanhol, que pagaria cerca de R$ 200 milhões à vista pelo complexo hoteleiro.
Mas veio a crise financeira e, no fim de setembro, prazo para a conclusão do negócio, o dinheiro não foi depositado.
A tentativa de venda de Sauípe ocorre após seis anos de prejuízos registrados pelo empreendimento. Calcula-se que o complexo já consumiu mais de R$ 1 bilhão da Previ entre construção e operação. Há mais de um ano, o fundo de pensão iniciou um processo de reestruturação. Uma das medidas foi rescindir os contratos com as operadoras Marriott e Accor, que operavam dois hotéis cada uma no complexo. A SuperClubs ainda administra o quinto hotel e o grupo Pestana gerencia seis pousadas. A existência de várias bandeiras no empreendimento era vista como prejudicial.
No caso do Méridien, o número de propostas enviadas à Previ foi considerado razoável, mas esperava-se um interesse maior de grupos estrangeiros. O hotel atrai o interesse de várias redes hoteleiras, não apenas por sua boa localização como também porque no Rio de Janeiro praticamente não existem terrenos centrais disponíveis para a construção de novos hotéis. Também teriam surgido propostas de grupos de investidores distintos, que usariam o prédio com outras finalidades, como sede empresarial, por exemplo.
O hotel ficou sob administração da operadora Iberostar no último ano, embora o contrato com a Previ fosse de dez anos. Desentendimentos acerca de investimentos necessários em reforma do hotel levaram a operadora e o fundo de pensão a rescindir o acordo.
Agora, com a disposição do fundo em vender o ativo, a própria Iberostar apresentou oferta. Na segunda-feira, a Previ escolherá as empresas que poderão fazer propostas vinculantes, até 16 de janeiro. Depois dessa data, terá início a etapa final de diligência, que pode durar 45 dias. A Previ informou que os processos de análise de propostas por Sauípe e pelo Le Méridien estão em curso e que não pode comentar os detalhes.
O fundo de pensão tem também um outro investimento no hotel Palácio Tangará, localizado dentro do Parque Burle Marx, na cidade de São Paulo, em sociedade com o empresário Rafael Birmann. O hotel nunca chegou a operar pois teve sua construção interrompida em 2001.