Após a crise financeira, patrimônio da Funcef cresce 20% em 2009

Valor Econômico
Cristiano Romero, de Brasília

Depois de amargar fortes perdas durante a crise financeira internacional, a Funcef, a fundação que cuida das aposentadorias dos funcionários da Caixa Econômica Federal (CEF), fechou 2009 com crescimento de quase 20% em seu patrimônio. Em agosto de 2008, um mês antes do início da fase mais aguda da crise, a fundação contabilizava ativo total de R$ 35 bilhões. No fim daquele ano, o saldo caiu para R$ 32,6 bilhões e, em dezembro passado, puxado principalmente pelos investimentos em renda variável, chegou a R$ 38,9 bilhões.

“Atravessamos a crise de uma maneira bastante razoável”, comemora o presidente da Funcef, Guilherme Lacerda. Em entrevista ao Valor, ele informou que, além do foco em renda variável, a fundação está aumentando seus investimentos em imóveis, projetos de infraestrutura e no mercado de dívida. “Vamos, juntos com a Odebrecht e a Camargo Corrêa, disputar a licitação da usina hidrelétrica de Belo Monte”, informou Lacerda, que divulgará hoje, em Brasília, o resultado da Funcef em 2009. “Devemos bancar 5% desse investimento (de algo estimado em R$ 20 bilhões).”

Terceiro maior fundo de pensão do país, com patrimônio inferior apenas ao da Previ (dos funcionários do Banco do Brasil) e ao da Petros (Petrobras), a Funcef é a que mais aposta no mercado imobiliário. Investe hoje, nesse segmento, 8% de seu patrimônio, face a uma aplicação média de 3% dos outros fundos de pensão. Não aplica mais do que isso porque esse é o limite fixado pela resolução 3.792, do Conselho Monetário Nacional. “Nós queríamos 10%, mas a resolução ficou em 8%”, disse Lacerda, lembrando que, em 2008, o investimento em imóveis representava 7% do ativo da Funcef.

A fundação aposta na rentabilidade desse mercado. No auge da crise internacional, aproveitando a queda dos preços dos ativos, adquiriu da InPar, por cerca de R$ 60 milhões, o edifício Medical Center, no bairro paulistano do Itaim Bibi. Lá, o tradicional hospital Sírio-Libanês instalará uma nova unidade. “Há um boom no setor imobiliário e nós estamos tirando proveito disso”, disse Lacerda.

Com a queda da taxa básica de juros (Selic), que o presidente da Funcef considera “estrutural”, os fundos de pensão têm buscado rentabilidade em outros setores. O mercado de ações tem sido uma das principais opções, mas, no caso da Funcef, além do setor imobiliário, olha-se também para o mercado de dívida – debêntures, Cédula de Crédito Bancário (CCB) e Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRI) emitidos pelas empresas.

“Em plena crise, criamos uma fonte alternativa de financiamento para as empresas, quando o crédito estava escasso e caro”, observou Guilherme Lacerda. De fato, no ano passado, a Funcef montou uma carteira de R$ 1,5 bilhão nessa modalidade de investimento. Do total, comprou R$ 200 milhões em CCB do grupo Odebrecht e, numa aplicação conjunta com a Petros, R$ 330 milhões da Itapoá Terminais Portuários.

Em tempos de Selic e inflação em patamares historicamente baixos, a rentabilidade desses investimentos pode ser atrativa. Eles rendem para o investidor a variação da inflação, acrescida da Selic e de um spread que varia de acordo com o risco de cada empresa – algo em torno de 15% ao ano. “É muito melhor do que aplicar apenas em título público e receber 8,75% ao ano de Selic”, assinalou Lacerda.

Na área de infraestrutura, a Funcef vai investir R$ 125 milhões no Fundo de Investimento em Participações (FIP) Óleo e Gás, gerido pelo Banco Modal, que já reuniu R$ 500 milhões para aplicar em empresas da cadeia produtiva de petróleo, um dos alvos da nova política industrial que está sendo formulada pelo governo federal, com vistas à exploração do petróleo da camada pré-sal. Além disso, já há conversas da Funcef com investidores coreanos e com o Grupo Bertin para participar da licitação do trem-bala que ligará Campinas (SP), São Paulo e o Rio de Janeiro.

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