Valor Econômico
Vanessa Adachi, de São Paulo
Colaborou Cristiane Lucchesi
Depois do sucesso retumbante da oferta de ações do Santander Brasil, o Citi pode estar trilhando o mesmo caminho. O Valor apurou que a subsidiária brasileira do banco americano, um dos mais afetados pela crise das hipotecas nos Estados Unidos, estuda a viabilidade de se fazer uma abertura de capital. Outra opção contemplada é abrir o capital de toda a unidade na América Latina, o que incluiria o mexicano Banamex, bem mais expressivo que o Citi do Brasil.
Diante de um pedido de entrevista com o presidente do banco no país, Gustavo Marín, para falar do tema, o Citi informou apenas que “não é política do banco comentar rumores ou especulações de mercado”.
A iniciativa, segundo pessoas a par do assunto, é patrocinada por Marín e Manuel Medina-Mora, o presidente do banco para América Latina e México. Ou seja, é algo que nasceu nas unidades locais, que buscam ganhar autonomia em relação à conturbada matriz.
Se o plano se mostrar viável – tudo ainda é embrionário -, tem que ser levado ao conselho do banco para aprovação. A tarefa não parece fácil, já que hoje o Citi é um banco sem um comando muito claro. Embora o presidente seja Vikram Pandit, quem controla o banco é o governo americano.
“Depois da operação do Santander, quem tem subsidiária no Brasil está avaliando essa possibilidade”, comenta um banqueiro de investimentos.
Um executivo que conhece bem a estrutura do Citi diz que o ganho de autonomia regional é o grande mote da oferta de ações. Gustavo Marín sempre se ressentiu da falta de liberdade da filial brasileira.
Inúmeras oportunidades de crescimento via aquisições – principalmente do Unibanco – foram perdidas ao longo dos anos, e o banco não conseguiu crescer organicamente. Ao contrário, suas iniciativas no varejo não foram bem sucedidas e agora o banco teve que voltar a sua estratégia de quinze anos atrás, ou seja, o foco no cliente de alta renda. Mais ao norte, segundo o mesmo executivo, Manuel Medina-Mora sempre teve voo próprio desde a compra do Banamex. Mas esse quadro mudou bastante depois que o banco se complicou nos Estados Unidos e a economia mexicana, idem. Com uma oferta de ações, reforçariam o capital e colocariam dinheiro em caixa para crescer.
Segundo um analista, nos três últimos anos, os resultados do Citi no Brasil foram positivamente influenciados pela venda de ações da Bovespa e da Redecard. Sem o lucro não recorrente, os números ficam feios. O banco, com pouco mais de cem agências, precisa de escala para se tornar rentável.
Segundo cálculos de um analista, em uma eventual abertura de capital, a subsidiária brasileira poderia valer entre US$ 10 bilhões e US$ 12 bilhões. Enquanto a América Latina toda poderia chegar a US$ 35 bilhões.
Dois banqueiros de investimento e um especialista em bancos ouvidos pelo Valor opinaram que a subsidiária brasileira não tem “massa crítica” para abrir o capital sozinha. Bem diferente do caso do Santander, que realizou inúmeras aquisições locais e cresce consistentemente, o Citi por aqui patina. Um deles acredita que o Banamex sozinho seria mais atraente.
Antes de testar o apetite do público externo, no entanto, o desafio é agradar o interno. Para ir ao conselho, o projeto tem que ser abraçado por Vikram Pandit e John Havens, o responsável pela área de banco de investimentos.
Embora o dinheiro da oferta de ações tenha como destino o caixa das subsidiárias, a abertura de capital poderia trazer um benefício indireto à matriz, que continua em maus lençóis. Hoje as ações das filiais estão registradas em seu balanço pelo valor patrimonial. Com a listagem em bolsa, essas ações passariam a ser contabilizadas a valor de mercado, gerando ganho patrimonial para o Citi nos EUA.