O Estado de S. Paulo
Marcelo Rehder
Os jovens são os mais prejudicados pela rotatividade no emprego formal brasileiro, segundo levantamento do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). O entra e sai de jovens de 15 a 18 anos no mercado, no período de 12 meses, aumentou 73,5% em dez anos: a taxa passou de 41,16%, em 1999, para 71,44%, em 2009, último dado disponível da Relação Anual de Informações Sociais (Rais).
Seria como se dois em cada três brasileiros nessa faixa etária, com carteira de trabalho assinada, trocassem de emprego em um ano.
Porém, a proporção é menor, porque, além do dinamismo do próprio mercado de trabalho, muitos trocam de emprego mais de uma vez no ano, diz o economista Márcio Pochmann, presidente do Ipea.
O estudante de supletivo do ensino médio Lucas Augusto Barbosa, de 18 anos, por exemplo, trocou de emprego este ano e já procura nova colocação no mercado de trabalho. Depois de seis meses, ele resolveu trocar o call center de uma escola profissionalizante de São Paulo para ganhar mais numa escola de inglês. Mas não se adaptou ao novo emprego. Na semana passada, Barbosa foi ao Centro de Apoio ao Trabalhador em busca de nova oportunidade. “Não está fácil, porque ainda não completei o ensino médio.”
“A taxa de rotatividade nos call centers é altíssima, ao redor de 90%”, diz o especialista em relações do trabalho José Pastore. “É muita pressão por pouco salário.”
O presidente do Ipea avalia que a alta rotatividade no emprego na faixa etária de até 20 anos é pressionada por problemas relacionados à procura do primeiro emprego.
“A rotatividade é mais concentrada entre os jovens justamente por causa da sua dificuldade de entrar no mercado e determinar uma profissão pela qual tenha horizonte de longo prazo para perseguir”, afirma Pochmann.
Além disso, acrescenta o professor Pastore, os jovens têm menos experiência profissional. “Por isso, sua inserção no mercado é permeada por uma sucessão de interrupções.”
A questão é que a rotatividade é alta em todas as faixas etárias, comparada com padrões internacionais. Por exemplo, nos Estados Unidos, a rotatividade está abaixo de 20%. “Nós só vamos ter isso nos segmentos de 50 anos ou mais”, observa o presidente do Ipea, Márcio Pochmann.
Para ele, o fenômeno pode ser explicado em parte pela baixa confiança existente nas relações de trabalho no País. “A empresa, por qualquer problema, muitas vezes opta pela demissão do trabalhador como medida de redução de custos. E o trabalhador, por sua vez, não pensa duas vezes diante da oferta de uma remuneração um pouco melhor.”
Em geral, a rotatividade decorre mais da decisão das empresas de trocar funcionários. São vários os motivos: inadequação de recém-contratado, oportunidade de contratar funcionário mais qualificado ou redução de custos, substituindo salários mais altos por outros menores.