Bancários paralisaram atividades por uma hora contra corte de empregos
A política de demissões no setor bancário motivou um protesto dos trabalhadores do Santander e do Itaú na região da Avenida Paulista. O ato, ocorrido na manhã desta quinta-feira 21, atrasou o horário de abertura de 17 agências no coração financeiro de São Paulo em uma hora. De janeiro a setembro de 2013 os dois bancos fecharam 6.297 postos de trabalho, segundo levantamento do Dieese.
Santander
Nos últimos 12 meses, o Santander sozinho foi responsável por 4.542 postos de trabalho a menos. O lucro nos nove primeiros meses de 2013 foi de R$ 4,335 bilhões. Somente com a prestação de serviços e tarifas a instituição faturou R$ 7,828 bilhões, o que poderia sustentar quase uma vez e meia a folha de pagamento.
Ao saber destes números, uma cliente ficou indignada. “É um absurdo. O banco lucra bilhões, manda os funcionários embora e aumenta o trabalho para os que ficaram”, disse, acrescentando que tem um irmão que trabalha no Santander. “Sei bem como é o drama dos bancários.”
Uma funcionária escancarou o cenário caótico na unidade onde trabalha. “Sou caixa e, além de atender os clientes, tenho de vender produtos para eles, o que demanda tempo. Enquanto isso, a fila só aumenta. A média de espera deveria ser de 20 minutos, mas, por causa da falta de pessoal, esse tempo ultrapassa os 50 minutos quase sempre.”
Ao mesmo tempo em que cortou milhares de postos de trabalho, o Santander assistiu um aumento vertiginoso do número de contas correntes: 1,5 milhões nos últimos 12 meses e 7,8% de clientes a mais no período.
Outro funcionário do banco espanhol avalia que a política de redução de postos de trabalho gera cada vez mais insatisfação, tanto nos trabalhadores como nos clientes. “O banco aumenta as metas e não repõe funcionários. Isso precariza o serviço. Conheço um gerente que administra uma carteira com 400 clientes PJ. Não acho nada inteligente essa prática de mercado que prioriza os resultados em detrimento da qualidade no atendimento.”
A diretora executiva do Sindicato, Maria Rosani, lembra que nos últimos nove meses o Santander foi oito vezes líder do ranking das instituições com mais de um milhão de clientes com maior volume de reclamações no Banco Central. “O banco diz que tem foco no cliente, mas segue com as demissões, o que gera precarização no atendimento. Não é um raciocínio coerente”, afirma.
Reunião sobre emprego
Após reivindicação do Sindicato, os representantes do Santander marcaram uma reunião para o dia 28 entre os dirigentes sindicais e o vice-presidente executivo sênior, responsável pela área de RH do banco, para tratar exclusivamente do tema emprego. A data foi definida em negociação do CRT (Comitê de Relações Trabalhistas) ocorrida na terça-feira 19, em São Paulo.
Itaú
A situação no banco considerado exemplo de sustentabilidade pela revista Exame não é nada diferente. Nos últimos 12 meses a instituição cortou 2.987 postos de trabalho.
De março de 2011 a setembro de 2013, a redução foi ainda mais impactante: 16.582 postos a menos.
Em contrapartida, o lucro líquido recorrente do Itaú atingiu R$ 11,156 bilhões nos nove primeiros meses de 2013, crescimento de 5,8% em relação ao mesmo período do ano passado.
Um bancário ilustra a situação contando que seu departamento teve de incorporar as funções de outro setor, cujos funcionários foram demitidos. “Um banco de fato sustentável procuraria o ponto de equilíbrio de todos os interesses e segmentos da sociedade, e isso inclui seus trabalhadores também”, opina.
Entre junho de 2011 e setembro de 2013, os ativos por funcionário cresceram 55,6%, passando de R$ 7 milhões para R$ 11 milhões, respectivamente. A carteira de crédito por funcionário também sofreu alta: foi de R$ 3 milhões para R$ 4,8 milhões por funcionário, variação de 44,6% no período.
Para a diretora do Sindicato, Valeska Pincovai, esses índices comprovam a sobrecarga de trabalho. A dirigente sindical lembra que o índice de eficiência do Itaú piorou nos últimos 12 meses, passando de 47,4% em 2011 para 48% em 2013. Quanto maior o índice, pior a eficiência.
“Isso mostra que o corte de postos de trabalho está prejudicando os clientes, os funcionários e o próprio banco. O mínimo que o Itaú poderia fazer é voltar a contratar, para retribuir uma parte do que ele ganha da sociedade. Seria uma atitude mais condizente com a imagem de sustentabilidade que quer passar”, disse.
A receita de prestação de serviços e tarifas bancárias atingiram R$ 17,5 bilhões, com alta de 16%. Somente com essa receita o banco paga 156% do total de suas despesas de pessoal. No mesmo período do ano passado a cobertura foi de R$ 147%.
A reação da acompanhante de idosos Lucia Nunes foi um misto de revolta e impotência ao saber destes números. “O menor servicinho é cobrado pelo Itaú. Os juros são um roubo. Nem me espanto com esse ganho todo. Infelizmente é assim que nós somos tratados”, desabafou a cliente.