O reajuste real de cerca de 6% que o governo decidiu conceder ao salário mínimo, elevando o valor para R$ 510 a partir de janeiro de 2010, aproxima-o de seu maior patamar real em 24 anos, de acordo com estudo divulgado pelo Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos).
Com os R$ 510, o mínimo, que indexa os rendimentos de cerca de 46 milhões de pessoas, avizinha-se do valor vigente em 1986, proporcional a cerca de R$ 520 atuais. Naquela época, o Plano Cruzado, introduzido pelo governo Sarney, controlou temporariamente a hiperinflação e concedeu abono ao salário mínimo.
Em seguida, porém, os fracassos de sucessivos pacotes econômicos em deter a inflação levaram-no, em 1995, ao seu menor valor real, equivalente hoje a apenas R$ 251.
O estudo indica ainda que a relação entre o valor do novo mínimo e o da cesta básica será a mais favorável desde 1979. Com R$ 510, o consumidor poderá adquirir 2,17 cestas básicas em 2010, ante duas no ano passado e apenas 1,02 em 1995.
“Compensação”
Em relação aos impactos macroeconômicos do reajuste, estima-se em R$ 26,6 bilhões o montante injetado na economia e em R$ 7,7 bilhões o incremento na arrecadação tributária sobre o consumo.
Se fosse seguida a regra de aumento aplicada desde 2007, que toma por base a inflação do período mais o crescimento do PIB de dois anos antes, o valor do novo mínimo seria de cerca de R$ 507. O governo atribui o arredondamento a dificuldades relacionadas com as máquinas de saque, que em geral trabalham com cédulas de R$ 10.
Para o técnico do Dieese, José Silvestre, porém, esse arredondamento pode ter sido motivado pela perspectiva de crescimento zero do PIB neste ano.
“Como o aumento real é calculado a partir do PIB de dois anos atrás, em 2011 o ganho será praticamente nulo. O acréscimo de R$ 3 pode ser uma tentativa de compensação”, diz.
Responsável pelo estudo, o Dieese é formado por centrais sindicais que, a partir de 2004, participaram de campanhas pela valorização do mínimo.