Fraqueza do sistema financeiro pode comprometer expansão da China

A disponibilidade de crédito é a maior fraqueza do sistema financeiro chinês pode interferir no ritmo de crescimento do país nos próximos anos. Segundo estudo do BlackRock Investment Institute -braço de pesquisa da empresa de gestão de recursos de terceiros, BlackRock -, a taxa de poupança interna do país, principal fonte de “funding” para o financiamento de investimentos, dificilmente crescerá na mesma proporção que a expansão prevista do Produto Interno Bruto (PIB).

Desde as reformas econômicas promovidas em 1978, a taxa de poupança interna na China saltou de cerca de 34% do PIB para 53% em 2007 e caiu para 51% atualmente. Para Ewen Cameron Watt, estrategista-chefe de investimento do BlackRock Institute e responsável pelo estudo, é como se o país perdesse parte de seu potencial tendo que financiar um forte ritmo de crescimento do PIB com menos dinheiro disponível.

“Funciona da mesma maneira que um carro que precisa de mais combustível para rodar uma mesma distância. O número de quilômetros andados com o tanque cheio é menor hoje do que era no passado. A economia chinesa é esse carro”, diz ele, sobre a relação entre a diminuição da taxa de poupança e o crescimento do país.

Justamente por isso o BlackRock Institute já revê suas previsões para o gigante asiático: acredita em um crescimento do PIB entre 7% e 8% nos próximos anos, e não no intervalo entre 8% e 10%, como amplamente considerado pelo mercado e órgãos internacionais.

Os chineses tradicionalmente economizam grande parte do que ganham anualmente: a poupança interna dos domicílios é da ordem de 51% do PIB e equivalente a US$ 2,55 trilhões – mais de quatro vezes superior ao volume que se observa no Brasil, onde a taxa é de apenas 15,8% – e foi primordial para dar liquidez ao sistema bancário nacional.

Só que a população está mais segura quanto ao futuro e se adapta cada vez melhor ao mundo do consumo e todos os seus prazeres. Consequentemente, a taxa de depósitos começa a crescer em ritmo menos acelerado que os empréstimos concedidos, o que leva a um hiato financeiro – e qualquer tropeço na China hoje pode significar fortes trancos econômicos para o mundo.

Números do banco Goldman Sachs sobre a economia chinesa confirmam essa tendência. Em janeiro de 2010, a taxa de crescimento dos depósitos foi de 26,1% em relação a igual período do ano anterior e recuou para 15,9% em junho, ante igual período de 2010. Já a concessão de novos empréstimos avançou 29,3% em janeiro de 2010 ante igual período do ano anterior e somente 16,9% em junho.

Essa desaceleração reflete também medidas recentes tomadas por Pequim para conter o avanço da inflação. Em 6 de julho, o banco central chinês elevou a taxa básica de juro para empréstimos para 6,56% ante marcação anterior de 6,31%. Já a outra taxa básica de juro, que vale para os depósitos de um ano, ficou em 3,5%. Com inflação de 6,4% no fim de junho, a taxa real de depósito acaba negativa para o cidadão chinês.

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