(São Paulo) Depois de correr contra o tempo para inaugurar novas agências, esfolar seus funcionários para dar conta de atender milhares de novos clientes em condições desumanas de trabalho e de não pagar o adicional à PLR, a direção da Nossa Caixa “concordou” na última terça, 27 de março, em pagar ao Governo do Estado R$ 2, 084 bilhões para manter as contas de 1,061 milhão de servidores públicos estaduais pelo período de cinco anos.
“O Estado ofereceu prioritariamente (a folha de pagamento) à Nossa Caixa, que demonstrou interesse e capacidade para prestar o serviço e pagar preço justo” disse o secretário da Fazenda, Mauro Ricardo Costa, durante entrevista coletiva para explicar o negócio e dizer que os recursos da venda serão utilizados pelo governo para o transporte.
O preço “justo”, a que o secretário se refere, equivale a 80% do patrimônio líquido da empresa (R$ 2,598 bi) e será pago em 60 meses. Ou seja, é como se, a cada ano, o banco gastasse mais de R$ 400 milhões para esse pagamento.
“É um investimento de risco. O governador do Estado usou o banco para conseguir recursos em infra-estrutura. Por que em vez de fazer isso, não fez uma parceria com a Nossa Caixa?”, questiona a diretora do Sindicato de SP e funcionária da Nossa Caixa, Raquel Kacelnikas. “O banco estadual é maior que um mandato governamental. A Nossa Caixa tem 90 anos e deve durar outros tantos mais, para o bem do Estado. Não pode acabar no governo Serra”, destaca.
O lucro da Nossa Caixa em 2006 foi de R$ 453 milhões, quase o mesmo valor que o banco pagará anualmente pelas contas ao governo. “Nesse período houve aumento de casos de pessoas com transtornos mentais, LER/Dort, assédio moral, ameaça de demissão. A tendência é que tudo isso piore para pagar essa conta e os funcionários ainda correm o risco de não receber a Participação nos Lucros e Resultados”, critica a dirigente.
A afirmação de Raquel pode ser confirmada pelas informações do presidente da Nossa Caixa, Milton Luiz de Melo Santos, que pretende quitar a dívida antes dos 60 meses – depois deste prazo os servidores terão direito à conta salário (leia no quadro). “Dá para vender muitos produtos para os novos clientes e assim esperamos conseguir cobrir os custos.
A ação de vendas será intensificada, para que a comercialização de produtos como previdência privada e cartão de crédito cresçam. Vamos jogar tudo nestes novos clientes, buscando a fidelização”, disse. Ainda segundo o executivo, dessas novas contas, 35% têm os valores transferidos para outros bancos.
Coação
Raquel afirma que não houve um negócio, mas uma verdadeira coação para que o banco aceitasse as contas. “Na verdade é um aluguel por cinco anos. Como o governo deixou claro que venderia as contas, a Nossa Caixa corria o risco de perder, na venda, contas novas (650 mil) e até as antigas (550 mil). Isso sem falar em todo o investimento feito para atender os novos clientes nos últimos meses”, analisa Raquel.
“Como é possível que um controlador (governo do Estado) tenha tomado uma atitude como essa que ao longo dos anos pode até inviabilizar a empresa? Quem vendeu a idéia de que a Nossa Caixa seria fortalecida neste governo deve se retratar perante a todos que terão agora de conviver com essa situação.”
Incompetência
Para analistas do mercado financeiro, o acordo mostra falta de governança corporativa por parte da direção do banco, uma vez que o governo, controlador da Nossa Caixa, é beneficiado pelo acordo. Especialistas consideraram também que o preço pago foi exagerado.
Conta-salário: que bicho é esse?
A partir de segunda-feira, 2 de abril, trabalhadores de empresas privadas – cujo contrato de pagamento de salários entre a empresa e o banco tenha sido assinado a partir de 6 setembro de 2006 – poderão escolher o banco em que a remuneração será depositada, sem ter de pagar tarifas nem CPMF pela transferência para conta corrente da mesma titularidade. Hoje o trabalhador pode fazer essa migração, via talão de transferência bancária – o chamado cheque TB – ou DOC, com custo ao cliente.
O trabalhador também pode optar por receber o salário e movimentá-lo na própria conta-salário, mas deve ficar atento. A conta só pode ser movimentada por meio de cartão magnético, fornecido gratuitamente pelo banco. Não tem direito a cheque. Não pode receber créditos de outras fontes nem depósitos, apenas o salário do empregado. Tem direito a cinco saques e duas consultas em terminais de auto-atendimento e não pode realizar aplicações.
Para contratos assinados até 5 de setembro de 2006, a conta-salário valerá a partir de 2 de janeiro de 2009. E para os servidores públicos, somente em 2012.
Fonte: Jair Silva – Seeb SP