As transformações no setor financeiro nos últimos 15 anos e seu impacto no movimento dos trabalhadores bancários formam o cerne da palestra de Carlos Cordeiro, secretário-Geral da Contraf-CUT na abertura do V Seminário de Formação para Delegados Sindicais, na noite da última quinta-feira, no Recife. A exposição foi precedida pela exibição de filme, produzido pela Contraf-CUT, sobre a história dos bancos e da organização da categoria. Seqüência da cerimônia de posse dos 125 representantes de base e suplentes do BB, da Caixa, do BNB e Banrisul 2008/2009.
O fim da inflação, principal fonte de ganho dos bancos há 15 anos, aliada à tecnologia, reduziu a necessidade de se expandir o número de agências, e de atender todo e qualquer cliente, para aumentar a captação de recursos. Hoje, a principal fonte de receita dos bancos está nas tarifas sobre os (maus) serviços prestados. Foram R$ 41 bilhões em 2007, mais do que o governo arrecadava com a CPMF.
“O que os bancos arrecadam com tarifas se constituiria no terceiro maior orçamento do país”, exemplifica Carlos Cordeiro. Ele lembra, em contraponto, que esse dinheiro não tem qualquer destinação social, nem mesmo para a expansão do crédito produtivo, que é tímida, para dizer o mínimo, inversamente proporcional ao lucro do setor.
Fato é que, as mudanças no setor, sobretudo após o Plano Real, enfatiza Cordeiro, não apenas concentraram o capital nas mãos de poucas empresas – cinco dos 133 bancos em operação no país concentram metade dos ativos e dos lucros do setor: Banco do Brasil, Bradesco, Itaú, Caixa e ABN Real. Reduziram, também, o número de unidades e de postos de trabalho bancário. Descaracterizaram o exercício da atividade. Criaram um exército de mão-de-obra que exerce funções bancárias sem a devida remuneração e direitos. Conseqüentemente, alteraram o roteiro das reivindicações da categoria. E, necessariamente, força a que se transforme, também, a maneira de os trabalhadores pressionarem para obter conquistas.
“Hoje, greve não tem o mesmo efeito de há 15 anos, por vários motivos, entre eles o fato de que apenas 12% das operações bancárias são feitas dentro da agência. Antes, a gente para a compensação e o CPD e a agência não funcionava. Hoje a compensação é eletrônica, o bancário pode instalar o programa em seu PC caseiro e trabalhar sem sair de casa. Da mesma forma, o cliente faz, praticamente, todas as suas operações via internet”, exemplifica.
Os bancos segmentaram a clientela e a força de trabalho. Em seu conjunto, o setor financeiro emprega cerca de um milhão de pessoas. Um terço deste total não é bancário nem do setor público nem do privado; estão nas lotéricas, financeiras, cooperativas e promotoras de crédito, nas C&As da vida. Ou seja, são comerciários. “Por isso precisamos priorizar a construção do ramo, através da sindicalização de fato e de direito”, exorta Carlos Cordeiro. O caminho, acredita, é segmentar, também, a contratação, já que a distância entre os direitos dos bancários e desses segmentos é enorme. “A Contraf-CUT já tem duas convenções coletivas – a dos bancários e a dos financiários. Teremos três, quatro, quantas forem necessário”, diz.
O seminário continua até o final da tarde desta sexta. Pela manhã, negociação, em seus aspectos políticos e econômicos fazem a pauta, com exposições de Suzineide Rodrigues, Secretária de Formação do Sindicato e de Jackeline Natal, do Dieese-PE. À tarde, o assunto é a relação do sindicato com a base e o papel dos delegados sindicais. Sobre o primeiro tema, falam Miguel Anacleto, secretário de Bancos Federais e Marlos Guedes. Jaqueline Mello, secretária-Geral, sobre segundo. No sábado tem atividade extra para os delegados da Caixa e militantes: debater o PCS – Plano de Cargos e Salários com o coordenador da Executiva dos Empregados, Plínio Pavão, secretário de Saúde da Contraf-CUT.