Jane Croft, Megan Murphy e Francesco Guerrera
Financial Times, de Londres e de Nova York
A crise dos cartões de crédito, que já provocou bilhões de dólares em perdas para os grandes bancos dos Estados Unidos, está se espalhando do outro lado do Atlântico, com bancos do Reino Unido e do resto da Europa se preparando para uma onda de calotes da parte dos consumidores.
O Fundo Monetário Internacional (FMI) estima que as dívidas dos consumidores americanos totalizam US$ 1,914 trilhão, sendo que 14% não será recuperado. O FMI prevê que 7% das dívidas de US$ 2,567 trilhões que os consumidores têm na Europa serão perdidos, com grande parte disso ocorrendo no Reino Unido, o país da Europa em que os consumidores contraem mais empréstimos no cartão de crédito.
A National Debtline do Reino Unido disse que o número de ligações que recebeu em maio de consumidores britânicos endividados e preocupados com empréstimos, cartões de crédito e atrasos no pagamento de hipotecas chegou a 41 mil – duas vezes mais que as 20 mil ligações recebidas em maio de 2008. Ela acrescentou que o número de ligações não dá sinais de estar diminuindo.
Nos Estados Unidos, os calotes no cartão de crédito vêm aumentando há meses, com o aumento do desemprego e a mais grave recessão desde a Grande Depressão cobrando seu preço sobre os consumidores sobrecarregados.
Bancos como o Citigroup, Bank of America, JPMorgan Chase e Wells Fargo, e emissoras de cartões de crédito como a American Express vêm tendo prejuízos de bilhões de dólares com seus portfólios de cartões de crédito e alertaram que as perdas vão aumentar.
A taxa de perdas com o cartão de crédito nos EUA superou a taxa de desemprego nos últimos meses – uma ocorrência pouco comum, que torna mais difícil para as emissoras de cartões preverem as perdas futuras.
No Reino Unido, os índices mais recentes da agência de avaliação de crédito Moody’s sobre os cartões de crédito mostram que as taxas anualizadas de cancelamento de dívidas que não podem ser pagar cresceu de 6,4% dos empréstimos, em maio de 2008, para 9,37% em maio de 2009. Nos EUA, essa taxa está acima dos 10%. Analistas preveem novos calotes, uma vez que o desemprego vem aumentando no Reino Unido, além das insolvências pessoais, que chegaram a 29.774 no primeiro trimestre.
Jonathan Pierce, analista do Credit Suisse, disse em uma nota recente a investidores que a securitização de cartões de crédito no Reino Unido sofreu “um aumento muito grande nos atrasos, para um nível que vai muito além do pico anterior registrado em 2006”. A gravidade da crise financeira, juntamente com o aumento do desemprego nos dois lados do Atlântico, vêm alimentando os temores de uma taxa de calores substancialmente maior nos próximos meses.