A forte demanda das empresas por crédito para investimentos de longo prazo está levando a Caixa Econômica Federal a se preparar para levantar recursos no mercado de capitais. O banco controlado pelo governo federal planeja captar R$ 3 bilhões, com prazo de oito anos, em Letras Financeiras – instrumento de longo prazo de bancos criado no final do ano pelo governo brasileiro.
“A meta é fazer isso até o final de março, tão logo saia a regulamentação do Conselho Monetário Nacional”, disse à Reuters o vice-presidente de Finanças da Caixa, Marcio Percival, nesta sexta-feira (5).
Em outra frente, o banco pretende fazer sua primeira incursão no mercado internacional, por meio de bônus, também com prazo mais estendido. “A ideia é ter ‘funding’ adequado para empresas brasileiras com operações no exterior e que precisam de crédito para investimentos”, explicou.
De acordo com o executivo, a iniciativa foi motivada pela forte demanda corporativa para crédito de prazo mais longo. Atualmente, os empréstimos da Caixa para empresas têm perfil mais curto, destinados sobretudo a capital de giro. A Caixa também deve começar a operar com linhas de adiantamentos sobre contratos de câmbio (ACC).
De acordo com Percival, esse é um desdobramento da crise, já que muitas empresas que precisavam de liquidez tiveram as portas fechadas por bancos privados que, temendo o aumento da inadimplência, recusaram a renovação de linhas de crédito.
“Muitas empresas migraram para nós buscando, primeiro, capital de giro, depois recursos para investimentos mesmo”, disse.
Em 2009, a carteira de crédito para pessoa jurídica da instituição deu um salto de 65%. Hoje, contou Percival, há cerca de R$ 4 bilhões em pedidos de crédito para companhias em análise na Caixa.
Devido à manutenção do forte ritmo de crescimento dos empréstimos verificado em 2009, a Caixa já elevou a previsão de expansão da carteira total neste ano, de 30% para 35%. No ano passado, o aumento do crédito foi de 55,3%, para R$ 124,3 bilhões.
Com isso, o banco estatal espera elevar sua fatia dos atuais 8,8% para 10% do mercado de crédito no país até dezembro. “Nosso market share era de 6,5% em setembro de 2008, quando a crise começou”, citou Percival.
Boom mantido
No setor imobiliário, carro-chefe das operações do banco, o plano é que a carteira total suba dos R$ 47 bilhões de dezembro passado para R$ 60 bilhões no fim deste ano.
A Caixa é a operadora do programa do governo de habitações populares “Minha Casa, Minha Vida”.
Para ampliar a carteira no setor, o banco estuda formar parcerias com empresas do ramo imobiliário, semelhantes à anunciado nesta sexta-feira com a Lopes, em que esta atua correspondente para intermediar a contratação de financiamentos para a compra de imóveis.
O banco também está costurando parcerias com grandes redes varejistas para ampliar seus pontos de presença e ficar em pé de igualdade com concorrentes privados como Itaú Unibanco e Bradesco.
A Caixa também deve inaugurar cerca de 200 agências em 2010, que se somarão às cerca de 2,2 mil atuais.
Para que o ritmo de expansão no financiamento ao consumo prossiga, o banco deve manter as atuais taxas de juros, a despeito das expectativas de aumento da Selic, hoje em 8,75% ao ano.
“Não vamos ser influenciados por essa pressão de curto prazo”, disse, em referência ao movimento habitual dos bancos de elevar preventivamente as taxas quando há expectativa de aumento do juro básico.
No entanto, o executivo admitiu que a decisão poderá ser revista mais adiante, caso a Selic venha mesmo a subir.