Cortejo afro dos bancários pede justiça e igualdade em São Paulo

Marcha nas ruas do Centro Velho valoriza cultura vinda com escravos africanos

“Trazidos por navios negreiros, do solo africano para o torrão brasileiro. Os negros escravos, que entre gemidos e lamentos de dor, traziam em seus corações sofridos seus orixás de fé, hoje tão venerados no Brasil.” A canção Tributo aos Orixás, de Clara Nunes, embalou o início do cortejo pelo Dia da Consciência Negra e a letra da música marcou uma importante mensagem transmitida durante todo o trajeto: a valorização da cultura africana trazida pelos negros escravos e a reflexão de como o processo histórico interfere no atual debate sobre a inserção do negro na sociedade brasileira.

O cortejo afro, que completou a 12ª edição este ano, saiu da sede do Sindicato dos Bancários de São Paulo nesta quarta-feira 21 puxado pela voz da cantora Adriana Moreira, acompanhada pela percussão dos Filhos de Mãe Preta e pela interpretação do balé afro.

Xangô, orixá que rege o ano e simboliza a justiça, foi homenageado pelo Sindicato e estava presente na encenação do grupo. A homenagem também foi ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e ao militante e ativista do movimento negro Abdias do Nascimento, que faleceu há um ano, e foi deputado, secretário estadual e senador.

Juvandia Moreira, presidenta do Sindicato, explicou que a data é importante para a entidade, pois “não aceitamos viver em uma sociedade desigual”. Para ela, é inadmissível aceitar a ideia ainda presente no cotidiano de que uma pessoa pode ser melhor que outra somente por causa da sua cor de pele.

“Somos seres humanos e precisamos respeitar uns aos outros acima de tudo. Mudanças grandes começam nos pequenos gestos, como o exercício de revermos os nossos conceitos, atos e valores”, defendeu, ao ressaltar que é preciso conciliar políticas públicas com a extinção do preconceito em cada pessoa.

Cortejo pede passagem

Durante o trajeto, o cortejo passou pela Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, no Largo do Paissandu, onde ocorreu uma benção, que simbolizou, sobretudo, a luta em busca da justiça social, econômica e humana. A categoria bancária foi lembrada durante a oração. Além de pedir o fim do adoecimento dos trabalhadores nos bancos, a benção pediu a inclusão dos negros no sistema financeiro, inclusive nos cargos de poder.

“É preciso orar e pedir para que governantes, empresários e trabalhadores possam se respeitar independente da classe social ou da cor da pele. Está na nossa consciência o combate permanente a qualquer forma de preconceito. É a nossa reflexão individual que dá força para continuarmos na luta”, declarou o dirigente sindical Júlio César Santos, coordenador do Coletivo de Combate ao Racismo do Sindicato e um dos responsáveis pelo já tradicional ato.

“Que os nossos governantes tenham consciência da importância do respeito a todas as camadas da sociedade”, pediu Julio, ao destacar a política de cotas, considerada por ele uma importante conquista do movimento negro durante o governo Lula. “A homenagem ao ex-presidente se deu justamente pela atenção do seu governo à reparação de uma dívida histórica e a inclusão de políticas públicas para a população negra”, completou.

Por justiça e igualdade

Ao final do cortejo, Juvandia ressaltou que o compromisso da entidade com as lutas e pautas relembradas nesta data é permanente. “Nós estamos nas ruas para construir uma sociedade justa, um país melhor. Isso só poderá acontecer se respeitarmos o próximo, independente da sua cor. Pode parecer utopia, mas essa sociedade que tanto falamos e lutamos para construir, um dia será realidade. Ainda veremos a humanidade tratada com respeito, igualdade e cumplicidade”, finalizou a presidenta.

Compartilhe:

Compartilhar no facebook
Facebook
Compartilhar no twitter
Twitter
Compartilhar no whatsapp
WhatsApp
Compartilhar no telegram
Telegram