Valor Econômico
Sergio Lamucci, de São Paulo
O desempenho do mercado de trabalho seguiu muito favorável em abril, com alta forte do emprego – especialmente com carteira assinada – e da renda. A taxa de desemprego nas seis principais regiões metropolitanas caiu de 7,6% em março para 7,3% em abril, a mais baixa para esse mês desde 2002, quando se iniciou a nova Pesquisa Mensal de Emprego do IBGE. Feito o ajuste sazonal, a taxa recuou de 7% para 6,7%, a menor da série iniciada em 2002.
O aquecimento é mais intenso na construção civil, mas também se dá na indústria e nos serviços. Segundo alguns analistas, a força no mercado de trabalho pode levar o Comitê de Política Monetária (Copom) a aumentar a taxa Selic em 1 ponto percentual na reunião do mês que vem, para combater pressões inflacionárias. No encontro de abril, a alta foi de 0,75 ponto, para 9,5% ao ano.
O crescimento da ocupação se intensifica a cada mês. Em abril, aumentou 4,3% em relação ao mesmo período de 2009. “Foi uma alta significativa, superior à observada nessa mesma base de comparação em março, de 3,8%”, diz o economista Fábio Romão, da LCA Consultores. Ele ressalta o aumento do emprego com carteira assinada. A ocupação formal subiu 7,2% sobre abril de 2009, enquanto a informal teve alta de 0,4%.
O número de trabalhadores com carteira assinada, que chegou a 21,821 milhões, bateu o recorde na série iniciada em 2002. Isso equivale a 51,1% do total de trabalhadores empregados. “Esse fenômeno deixa claro o aumento da confiança na economia”, diz Romão. Com boas perspectivas para o crescimento, os empresários se sentem confortáveis para contratar trabalhadores com carteira.
Na construção civil, a ocupação cresceu 10,5% sobre abril de 2009. Setor em que sobram relatos de falta de mão de obra qualificada, os salários tiveram crescimento médio de 10% acima da inflação nos 12 meses até abril, como aponta relatório do Bradesco.
A alta também é muito forte no segmento de serviços. Romão consolidou os números de cinco setores em que preponderam os serviços e representam, juntos, 57,1% do estoque total de trabalhadores. “A ocupação desse conjunto teve alta de 4,7% em abril”, diz ele, observando que também houve crescimento expressivo na indústria.
Também cresce bastante o número de pessoas em busca de emprego. Em abril, a população economicamente ativa (PEA) aumentou 2,5% sobre o mesmo mês de 2009, mais do que os 2,2% de março. Como a ocupação avança mais, o desemprego segue em queda.
O economista Fábio Ramos, da Quest Investimentos, acredita que a taxa de desemprego na mínima histórica já exerce pressões sobre os preços, especialmente sobre os serviços (como aluguel, conserto de automóvel e cabeleireiro). “Não se sabe ao certo qual é o nível de emprego que acelera a inflação, mas é provável que a taxa no Brasil já esteja abaixo desse patamar”, afirma ele, que também chama a atenção para o crescimento da renda. Em abril, o rendimento médio subiu 2,3% sobre o mesmo mês de 2009, já descontada a inflação.
Para a MCM Consultores, os números de abril “reforçam o cenário de que a ociosidade no mercado de trabalho desapareceu já há algum tempo”. A MCM acredita que, em maio, a taxa de desemprego cairá para 7%, derrubando a desocupação com ajuste sazonal para 6,4%. A consultoria estima que a controvertida “taxa natural de desemprego” – que não acelera os índices de preços – está em 7,4%.
Para Romão, o aquecimento do mercado de trabalho aumenta as chances de uma alta da Selic de 1 ponto em junho, embora as incertezas causadas pela crise na Europa possam levar o Banco Central a preferir manter o ritmo de 0,75 ponto. Ramos acredita que o mais provável ainda é uma elevação de 0,75 ponto, embora não descarte uma de 1 ponto. A crise europeia a possível desaceleração da economia no segundo trimestre podem levar o BC a ser mais cauteloso. Romão acredita que o BC vai preferir um ajuste mais intenso no curto prazo, mas que chegará a 3 pontos no total. A MCM acredita em alta de 0,75 ponto em junho, mas num ciclo total mais forte, de 4 pontos. (Colaborou Juliana Ennes, do Rio)