Descaso com a vida e desrespeito à lei marcam greve dos vigilantes no Rio

Vigilantes em greve protestam contra intransigência dos patrões

A greve dos profissionais de segurança privada, que acontece em vários municípios do estado do Rio de Janeiro, está fazendo os bancos mostrarem que não dão o mínimo valor a seus empregados e clientes. Muitas unidades bancárias estão funcionando com apenas um vigilante, o que deixa a segurança vulnerável e torna as agências alvos fáceis para os assaltantes.

“Com este procedimento, os bancos estão, mais uma vez, nesta greve dos vigilantes, tratando com tremendo descaso a vida dos bancários e clientes e ainda estão afrontando a lei federal nº 7.102/83”, critica Ademir Wiederkehr, secretário de imprensa da Contraf-CUT e coordenador do Coletivo Nacional de Segurança Bancária.

Os bancos estão mantendo os estabelecimentos em pleno funcionamento durante a greve com base numa liminar de que as agências podem ter somente um vigilante. “De fato, há uma portaria da PF que autoriza que haja somente um vigilante, mas ela se aplica a situações de duração curta, como hora de almoço ou pausa para ida ao banheiro”, esclarece Pedro Batista, representante da Federação dos Bancários do Rio de Janeiro e Espírito Santo no Coletivo Nacional de Segurança Bancária.

Os bancos têm ignorado este detalhe e usado de todos os argumentos para convencer juízes e até a Polícia Federal de que é viável manter somente um vigilante numa agência, independente de seu porte ou das características do estabelecimento. “Falta combinar isso com os bandidos”, ironiza Ademir.

Outro recurso que os bancos, principalmente o Itaú, estão adotando é informar que as agências estão funcionando sem numerário, o que é praticamente impossível, porque sempre há algum dinheiro no cofre e nos guichês. Mas, mesmo que isto acontecesse, para que a agência funcionasse sem numerário durante todo o expediente bancário, seria preciso impedir os clientes e usuários de fazerem pagamentos e depósitos em espécie. E, ao final do dia, não há quem faça a coleta dos malotes, já que os trabalhadores da segurança privada estão em greve.

Infração às leis trabalhistas

Outro abuso que tem ocorrido é o deslocamento e até a contratação temporária de profissionais de segurança para realizarem contingência nos locais onde há paralisação, o que infringe a lei de greve.

Em Petrópolis, os Sindicatos de Vigilantes e de Bancários flagraram a chegada de kombis com vigilantes vindos do Rio de Janeiro para assumirem o lugar dos grevistas. Também do município serrano veio a a denúncia de que, numa agência do Bradesco, um gerente assumiu o controle de entrada do público, operando o mecanismo que libera a porta giratória, num caso clássico e irrefutável de desvio de função. “São abusos dos bancos na ânsia de aumentar os lucros atropelando o direito dos trabalhadores e colocando a vida dos bancários e clientes em risco”, denuncia Ademir.

Bancários com medo

Numa agência do BB, no centro do Rio, houve um princípio de conflito na manhã desta quinta-feira, dia 15. A agência estava com apenas um vigilante e fechada para atendimento ao público, com os bancários realizando trabalhos internos.

Um cliente quis exigir o direito de entrar e ser atendido e chamou a polícia. Mas até o policial militar deu razão aos bancários e argumentou com o correntista de que não havia condição da agência funcionar com apenas um segurança.

O temor dos funcionários era válido: em janeiro de 2010 a agência sofreu uma tentativa de assalto em que um vigilante foi morto e cinco pessoas ficaram feridas, sendo três clientes e os outros dois seguranças lotados na unidade.

“Os bancos ainda não aprenderam a lição de que a vida está acima do lucro”, conclui Ademir.

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