Presidente da Contraf-CUT, Carlos Cordeiro, fala na abertura do Encontro
A Contraf-CUT abriu nesta terça-feira (2) o Encontro Nacional dos Funcionários do Itaú, em Embu das Artes, interior de São Paulo. O evento, que acontece até quinta-feira (4), reúne 160 dirigentes de federações e sindicatos de todo o país.
Transformação do país
Durante a mesa de abertura, o funcionário do Itaú e presidente da Contraf-CUT, Carlos Cordeiro, chamou a atenção dos participantes para a necessidade de promover a transformação do país, fazendo enfrentamento tanto na sociedade, em questões fundamentais como reforma tributária e democratização da mídia, quanto com o banco na defesa do emprego decente. “E para promover este embate temos que ter ousadia, esperança, mobilização e unidade”, afirmou.
“O desafio do dirigente sindical é muito grande. Nosso papel é interferir e contribuir na transformação da estrutura social, política e econômica deste país. Temos o desafio de transformar o crescimento econômico em desenvolvimento econômico com distribuição de renda, com o objetivo de termos justiça social. Para isso, temos que trabalhar pela redução do desemprego, pela preservação do emprego e elevação da criação de novos postos de trabalho. Estes devem ser nossos principais objetivos”, salientou o presidente da Contraf-CUT.
Distribuição de renda
Apesar do crescimento que o país vem apresentando na última década, Cordeiro destacou que o projeto de sociedade justa ainda está incompleto. “Se por um lado somos a 6ª economia do mundo, por outro estamos no 12º lugar entre os países com a pior distribuição de renda do planeta. No caso específico dos bancários, tivemos desde 2004 mais de 16% de aumento real, mas o salário médio da categoria cresceu pouco”, apontou. “Isso significa que o PIB não está sendo distribuído. Hoje os 50% mais pobres da população economicamente ativa ficam com apenas 13% do PIB. E os 1% mais ricos desta população abarcam a mesmo porcentagem da riqueza, 13%”, denunciou o dirigente da Contraf-CUT.
A despesa com pessoal do Itaú cresceu apenas 0,5% de 2011 para 2012. “O banco está se utilizando da rotatividade e do corte de funcionários para aumentar o seu lucro. Ou enfrentamos o debate da remuneração direta ou vamos continuar com os salários desvalorizados. Se não abrirmos os olhos para essa disputa – a disputa pela renda -, vamos continuar ainda por muitas décadas com o quadro atual em que 50% da população econômica ativa se beneficiam com apenas 13% da riqueza da nação”, alertou Cordeiro.
“Essa conjuntura mostra o desafio que temos pela frente. Temos urgência em fazer disputa pela distribuição da renda, visando principalmente a melhoria da remuneração direta, com salário e piso. Esse é o ponto fundamental”, avaliou.
E para fazer a disputa, segundo o presidente da Contraf-CUT, é necessário ter ousadia, pois o banco tem clara sua estratégia de diminuir seus custos sacrificando o emprego. “O banco está sendo ousado e tem estratégia definida, ou seja, ter o maior lucro possível sobrecarregando o trabalhador o máximo possível. E temos que ter cuidado porque, se o Itaú implantar o horário estendido, corremos o risco de esta estratégia ser adotada também pelos outros bancos”, ressaltou Cordeiro. “Temos que ir além do possível quando se trata da proteção do emprego digno, de qualidade, em que as pessoas não adoeçam, não morram, enfim por emprego decente”, salientou.
Esperança, unidade e ousadia
Outra premissa para o embate, destacou Cordeiro, é a esperança. “O trabalhador perdeu a esperança e nós, como dirigentes sindicais, temos que ser o seu porta-voz. As pessoas estão morrendo pela ganância dos bancos e precisamos romper com isso. Não podemos deixar que o trabalhador que representamos perca a esperança de que é possível modificar a situação a qual está submetido”, enfatizou Cordeiro.
O dirigente da Contraf-CUT detalhou ainda outros dois pontos fundamentais para o embate, a mobilização e a unidade da categoria. “Completamos 20 anos de convenção coletiva nacional. Isso só foi possível pelo nosso grau de unidade, mesma data-base, mesmo calendário de lutas, mesma minuta de reivindicações. Quanto maior o grau de unidade, maior nossa capacidade de luta. Temos o desafio de nos mantermos mobilizados e articulados”, concluiu Cordeiro.
Lucros recordes x milhares de demissões
O lucro líquido recorrente do Itaú atingiu R$ 14,043 bilhões em 2012, o que representa uma queda de 4,03% em relação a 2011. Esse foi o segundo maior lucro de um banco no país. O maior foi o resultado do próprio Itaú em 2011, quando bateu R$ 14,640 bilhões, de acordo com apresentação feita aos dirigentes sindicais pela técnica do Dieese da subseção da Contraf-CUT, Vivian Machado.
Embora o lucro tenha sido menor do que o apurado em 2011, ele teria sido muito maior se o banco não usasse a manobra contábil de superdimensionar as provisões para devedores duvidosos (PDD), que apresentou um crescimento de 20,66%, passando de R$ 19,9 bilhões em 2011 para R$ 24,025 bilhões em 2012. Enquanto isso, a taxa de inadimplência real de dezembro de 2012 diminuiu 0,1 ponto percentual em relação a dezembro de 2011. Na comparação de dezembro em relação a setembro de 2012, a variação foi de -0,2 ponto percentual, o que demonstra estabilidade.
Apesar do lucro bilionário, o banco segue a política de demissões praticada em 2011. Em 2012, o Itaú fechou 7.935 postos de trabalho, uma redução de 8,08% de seu quadro funcional. Desde março de 2011, já são 13.699 postos a menos, quando eram 104.022 bancários.
A renda de tarifas bancárias cresceu 13,44% em 2012, passando de R$ 5,13 bilhões para R$ 5,83 bilhões. As receitas de prestação de serviço também apresentaram crescimento, de 4,14%, chegando a R$ 14,49 bilhões. Já as despesas de pessoal tiveram elevação de 5,02%, passando de R$ 13,36 bilhões para R$ 14,03 bilhões.
O balanço mostra que o banco pagou em 2012 todas as despesas de pessoal apenas com receitas de serviços e tarifas e ainda apresentou um excedente de 44,8% da soma dessas receitas.
Vivian destacou ainda que o total desembolsado pelo banco para pagar a PLR em 2012 para seus funcionários foi de R$ 702 milhões. Enquanto isso, o Itaú pagou de bônus aos 15 membros da sua diretoria executiva R$ 125 milhões, ou seja, cada um deles recebeu uma remuneração anual de R$ 8,3 milhões.
Avanços na previdência complementar
O conselheiro deliberativo eleito da Fundação Itaú, André Luis Rodrigues, apresentou aos dirigentes sindicais a situação atual da previdência complementar dos funcionários do banco. Ele destacou uma das importantes vitórias conseguidas pelos bancários do Itaú: o fim do benefício “zero” existente no PAC (Plano de Aposentadoria Complementar) antigo.
Parte significativa dos funcionários não recebia nenhum benefício em espécie e outros ganhavam valores inferiores a 1 UP (Unidade Previdenciária) da Fundação, que hoje é de R$ 264,42. Com a decisão, todos os beneficiários do PAC antigo passaram a ter um complemento de aposentadoria de pelo menos 1 UP.
André frisou também a fusão das diversas fundações de fundo de pensão hoje existentes no Itaú. O objetivo da fusão foi aumentar a capacidade de gestão dos fundos, permitir a redução dos custos de contratação de serviços de terceiros, aumentar o número de representantes dos participantes e possibilitar maior fiscalização.
Dessa forma, os vários planos existentes em cada fundação passaram a fazer parte de apenas uma e, além dos Conselhos Deliberativo e Fiscal, foram criados os Comitês de Gestão por grupos de plano, aumentando a capacidade de gerenciamento dos participantes em cada plano. “Iniciamos um processo de renovação importante deste fundo de pensão”, avaliou.
Uma luta histórica
Toda a luta da Contraf-CUT, sindicatos e federações começou com as primeiras eleições para os conselhos da Fundação Itaú, onde pela primeira vez os bancários do Itaú puderam ser representados e expor suas opiniões e reivindicações para os patrocinadores dos fundos.
Um dos marcos dessa representação foi a negociação do Plano Itaubanco CD (novo PAC) que garantiu a individualização das reservas, a entrada de novas contribuições por parte dos patrocinadores, a possibilidade de aportes em dinheiro pelos participantes ao novo fundo, o direito de portabilidade e de pensão, todos eles inexistentes no antigo PAC.
O novo plano permitiu que os bancários tivessem acesso direto a cerca de R$ 5 bilhões originários do processo de migração e individualização e a adesão de 78% dos participantes do antigo PAC.
Universalização da previdência privada
“Conseguimos abrir a caixa preta do fundo de pensão e conquistamos uma capacidade de intervenção. Mas apenas 52 mil trabalhadores do Itaú possuem previdência privada. É necessário chegar nos 100 mil bancários. Vamos lutar pela universalização da previdência privada fechada para todos os bancários, afirmou Mauri Sergio, conselheiro fiscal eleito da Fundação Itaú.
Eleições para os conselhos
Em julho, os funcionários do Itaú, participantes dos planos de benefícios administrados pela Fundação Itaú, elegem seus representantes para os conselhos deliberativo e fiscal da Fundação. Para o Conselho Deliberativo serão eleitos dois conselheiros ativos titulares e dois suplentes, além de dois aposentados e dois suplentes. Para o Conselho Fiscal serão eleitos dois conselheiros ativos titulares e dois suplentes, além de dois aposentados e dois suplentes.
Em relação aos Comitês de Gestão, serão eleitos um representante ativo titular e um suplente, além de um aposentado titular e um suplente, para cada grupo de planos, que são: Itaubanco CD, Fundo Inteligente Itaú, Itaubank, Itaulam, Franprev IJMS, Prebeg, Banorte, Plano de Benef 002 e PAC.
O processo eleitoral prevê a instalação de uma comissão eleitoral. Os bancários devem escolher três representantes para participar da comissão.
Intensificar negociações e mobilizações
O encontro nacional foi dividido em quatro eixos temáticos: remuneração e emprego; saúde e condições de trabalho; previdência complementar; e plano de assistência médica.
Estão em debate os principais temas que atingem os trabalhadores do banco que mais lucra e que mais demite no país. Serão discutidos problemas como demissões, falta de funcionários; péssimas condições de trabalho, horários estendidos nas agências, metas abusivas e programas próprios de remuneração variável, dentre outros.
Também está na pauta a necessidade de que todos os funcionários tenham previdência complementar, as eleições da Fundação Itaú Unibanco que acontecem em julho, um dos maiores fundos de pensão de empresas privadas, e a discussão sobre um novo modelo de saúde e as condições dos aposentados no plano.
“Vamos tirar posicionamentos e propostas para os quatro eixos em debate. O nosso objetivo é construir uma pauta específica de reivindicações, abrir um processo de negociação permanente com o banco e intensificar a mobilização para avançar nas conquistas”, afirmou Jair Alves, um dos coordenadores da Comissão de Organização dos Empregados (COE) do Itaú, que assessora a Contraf-CUT nas negociações com o banco.
“O objetivo do encontro é organizar a nossa luta e a nossa ação no embate com o banco. Além de qualificar nossos dirigentes sindicais, principalmente nos quatro eixos estratégicos. É o momento de mobilizar o movimento sindical para travar a disputa na defesa do emprego”, avaliou Wanderley Crivellari, também um dos coordenadores da COE do Itaú.
Para a secretária-geral do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Raquel Kacelnikas, o encontro é um momento crucial para a organização da categoria bancária. “Vivemos um momento histórico no Brasil e bastante peculiar. Apesar de não termos a crise que enfrenta a Europa, temos bancos que não torcem pelo Brasil e pelo seu desenvolvimento. E isso nos diz respeito”, disse.
“O sistema financeiro está implantando mudanças significativas, que afetam diretamente a nossa categoria como, por exemplo, o atendimento bancário via telefonia celular. É mais do que urgente e necessário que os bancários se organizem e olhem para as estratégias dos patrões, que estão interessados em diminuir nossa capacidade de organização”, avaliou Raquel.